Semanal de Café

Exportações brasileiras e inflação derrubaram os preços futuros de café
 
Fernando Maximiliano
 
Leonardo Rossetti
Aumento de 7,1% nas exportações brasileiras atuaram de forma conjunta com a alta do dólar e com o sentimento de aversão ao risco, gerado após os dados de inflação nos EUA
Resumo

•    Cotações de café arábica recuaram 2140 pontos (9,8%) em NY na semana, encerrando cotado a US₵ 196,70/lb.
•    Indicador Cepea de café arábica teve queda de 6,45% na semana, cotado a R$ 1.154,73/saca
•    Preços de café robusta recuaram 4,8% em Londres, para USD 2051/ton.
•    Indicador Cepea para o robusta fecha em queda de 5,8%, cotado em R$ 656,58/saca
•    Exportações brasileiras avançaram 7,1% em setembro
•    Retorno das chuvas favorece os estágios iniciais de desenvolvimento do café
•    NOAA mantém alta probabilidade de manutenção do La Niña  
•    Estoques nos portos americanos serão divulgados hoje (17)
•    Com inflação nos Estados Unidos e aversão ao risco, dólar avança na semana
•    CPI acima do esperado nos EUA eleva expectativas de firme alta na taxa de juros pelo Fed
•    Inflação do café ao consumidor no Brasil registra retração pelo 2º mês consecutivo  
•    Mercado deve acompanhar divulgação de dados de inflação na Europa

   Fatores baixistas       Fatores altistas

Leia a última matéria especial de café - Florada do café segue em risco com La Niña pelo terceiro ano consecutivo

Na última semana, os preços futuros de café tiveram fortes quedas depois da divulgação dos dados do Cecafé para as exportações brasileiras e os dados de inflação nos EUA, além das preocupações com os impactos da inflação e crise energética na Europa. Além disso, com o cenário macroeconômico conturbado, houve forte alta do dólar na semana, adicionando ainda mais ao sentimento baixista da semana. 
 
Em Nova Iorque (ICE), a tela mais ativa (dez/22) encerrou a semana com um recuo de 2140 pontos (9,8%), cotado a US₵ 196,70/lb. Em Londres (ICE Europe), as cotações também terminaram a semana com fortes quedas, com o contrato mais ativo do café robusta (jan/22) encerrando a semana com uma perda de USD 103/ton (4,8%), cotado a USD 2051/t.

Intraday semanal (contrato mais ativo) - 10/10 a 14/10

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

No Brasil, o indicador CEPEA para o café arábica teve uma queda de 6,45% e terminou a semana cotado a R$ 1.154,73/saca, reagindo a queda em Nova Iorque. No entanto, a queda menos intensa se deu devido à forte alta do dólar. Seguindo a tendência do arábica, o café robusta verificou uma queda de 5,8%, fechando a sexta-feira cotado a R$ 656,58/saca.

Exportações brasileiras avançaram 7,1% em setembro

De acordo com relatório do Cecafé, divulgado na última semana, o Brasil exportou quase 3,4 milhões de sacas de café em setembro, resultando em um aumento de 4,5% com relação ao mesmo mês de 2021. Destes, 3,07 milhões de sacas foram de café cru, cujas exportações avançaram 7,1% em setembro. As exportações de café arábica avançaram 18%, enquanto as exportações do robusta recuaram mais de 60% no mês. As receitas das exportações bateram recorde para o mês de setembro e alcançaram 805,5 milhões de dólares, avançando 49,8% com relação a setembro de 2021. 

O aumento expressivo nas exportações atuou de forma baixista para as cotações, pois foi de encontro com um ponto que tem sido discutido nas últimas semanas, a perspectiva de menor disponibilidade de café no início da safra 2022/23. Além disso, vale a pena mencionar que a queda de mais de 60% nas exportações de café robusta não se deu devido a uma restrição de oferta do tipo, mas sim pela condição dos diferenciais nos últimos meses, o que desfavorece o processo de exportação. 

Sazonalidade das exportações brasileiras de café (mil sacas)

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Fonte: Cecafé. Elaboração: StoneX. 

Desde o início do ano, os diferenciais de café robusta no Brasil se mantiveram em patamar positivo, o que indica que os preços praticados no mercado doméstico brasileiro estiveram acima do patamar observado no mercado internacional. Para se ter ideia, o diferencial entre o indicador Cepea e a bolsa de Londres para o tipo robusta chegou a alcançar patamares acima de USD 800/ton em meados de abril, mas recuou e se manteve próximo a USD 200/ton até meados de setembro, quando voltou a cair para próximo de USD 12/ton na última semana. 

Retorno das chuvas favorece os estágios iniciais de desenvolvimento da safra no Brasil

Desde a abertura da florada principal nas regiões produtoras, há algumas semanas, os participantes do mercado arrefeceram suas preocupações com relação a esta etapa, mas se mantiveram atentos às perspectivas do clima, tendo em vista que qualquer adversidade neste momento ainda pode causar danos à próxima safra. 

De acordo com os dados climáticos da StoneX, que usa informações da agência americana NOAA, grande parte das regiões produtoras receberam volumes importantes de chuva nos últimos 60 dias, com municípios do Sul de Minas e mogiana alcançando mais de 160mm, enquanto o Cerrado teve volumes em torno de 90mm, alcançando volumes acima da média nestas regiões nos últimos 2 meses. Por outro lado, as regiões das Matas de Minas, Espírito Santo e Sul da Bahia ainda apresentam acumulados abaixo da média histórica para o período. 

Apesar do avanço na florada brasileira e as condições climáticas favoráveis em algumas regiões, ainda se faz necessário o monitoramento das condições climáticas e das projeções de chuva no Brasil, principalmente nas regiões que ainda estão com os acumulados de chuva abaixo da média. Além disso, mesmo para as regiões que receberam bons volumes, como já foi comentado, as lavouras de café ainda vão passar por outras etapas de desenvolvimento que são muito susceptíveis aos intemperes climáticos. Vale a pena destacar que as condições ainda seguem sob influência do La Niña, que deve permanecer até o início do próximo ano. 

De acordo com a última atualização do NOAA para o relatório de previsão probabilística, que foi divulgado na última quinta-feira (13), a probabilidade de manutenção do La Niña fica acima de 75% até o trimestre DJF (Dez-Jan-Fev) e depois cai para 59% no trimestre JFM (Jan-Fev-Mar).

Previsão probabilística de La Niña/El Niño

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Fonte: IRI/CPC NOAA. Elaboração: StoneX.
Estoques nos portos americanos serão divulgados hoje (17)

Nesta semana, além do clima, dos fatores macroeconômicos e da queda dos estoques certificados, os participantes acompanharão de perto a divulgação do relatório com os estoques nos portos americanos em setembro, que será divulgado pela Green Coffee Association nesta segunda-feira (17). No último mês um aumento maior que o esperado surpreendeu parte dos players e contribui para um sentimento mais baixista. 

Caso seja constatado novos avanços nos estoques, este cenário poderia se acentuar, pois poderia indicar algum possível problema na demanda dos EUA. Por outro lado, um possível aumento nos estoques poderia também refletir um maior fluxo de importações. O que não poderá ser constatado agora, já que os dados de importação para setembro só serão divulgados pelo USDA no dia 03 de novembro. Sazonalmente, nos últimos 5 anos, os estoques GCA apresentaram um recuo médio de mais de 125 mil sacas em setembro (-1,9%). 

Com inflação nos Estados Unidos e aversão ao risco, dólar avança na semana

Atuando como fator adicional para a forte pressão às cotações de café, a taxa de câmbio fechou em alta de 2,1% na última semana, com o par real/dólar terminando o período cotado a R$ 5,322. O dollar index, por outro lado, registrou avanço de 113,2 pontos, em leve alta de 0,1%.

Os principais indicadores macroeconômicos a impactar os mercados globais foram o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o Índice de Preços ao Produtor (PPI) de setembro nos Estados Unidos. Em destaque, o CPI, que possui importante peso para as decisões de política monetária do Federal Reserve, registrou um aumento de 0,4% no mês, acima das expectativas de analistas, que projetavam um aumento de 0,2%. Desta maneira, o acumulado nos últimos 12 meses foi a 8,2%. Destaca-se também o resultado para o núcleo do CPI, que excluir categorias de bens voláteis como energia e alimentos, que registrou um aumento de 0,6% contra expectativas de alta de 0,4%, com o acumulado avançando a 6,6%, maior patamar desde 1982.

O resultado contribuiu para elevar as apostas dos agentes em um novo aumento de 0,75 p.p. na taxa básica de juros americana em sua próxima decisão, em 2 de novembro. Atualmente, cerca de 97% dos agentes apostam no ajuste, o que deve elevar a taxa básica para um intervalo entre 3,75% e 4,00% ao ano. Nesta semana uma série de membros do Fed irão se pronunciar, com expectativa de que este continuem reforçando o compromisso do banco central em alcançar a estabilidade de preços no país. Vale lembrar aumentos da taxa e juros nos Estados Unidos reduzem o diferencial entre as taxas de juros brasileira e americana, o que tende a contribuir para um maior fluxo de saída de divisas e investimentos do Brasil, atuando de maneira altista para a taxa de câmbio.

No Brasil, o IBGE divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma deflação pelo terceiro mês consecutivo em setembro, com queda de 0,29%, depois de ter recuado 0,68% em julho e 0,36 em agosto. De maneira semelhante aos meses anteriores, os itens que mais impactaram o resultado foram os combustíveis, tais quais etanol hidratado (-12,43%), gasolina (-8,33%), óleo diesel (-4,57%) e gás natural veicular (-0,23%). Desta maneira, o acumulado do índice nos últimos 12 meses passou de 8,73% em agosto para 7,17% em setembro.

Os preços do café torrado e moído ao consumidor registraram retração pelo segundo mês consecutivo, com variação de -0,76% após terem marcado -0,50% em agosto. Desta forma, o acumulado em 12 meses diminuiu pelo quinto mês consecutivo, indo a 37,7% contra 46,3% no mês anterior. A tendência é que o acumulado continue recuando nos próximos resultados pelo menos até o final de 2022, o que deve diminuir os temores com uma retração do consumo no país ou estagnação de seu crescimento. O café solúvel também verificou variação negativa em setembro, de 0,48%, com o acumulado em 12 meses passando de 24,80% no mês anterior para 22,92%.

A semana é de agenda mais esvaziada principalmente no Brasil. Destaca-se a divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de agosto pelo Banco Central nesta segunda-feira (17), considerado uma prévia para o PIB. No exterior, além das falas dos membros do Fed, a autarquia divulgará na terça-feira (18) o desempenho da produção industrial dos Estados Unidos de setembro. Adicionalmente, a China divulga nesta segunda o seu PIB no 3º trimestre, e a Eurostat publicará na quinta-feira (19) o CPI da zona do euro em setembro, indicador que tem sido acompanhado de perto pelo mercado de café, em meio aos temores com uma possível queda no consumo da bebida no continente europeu. 

tabela de indicadores
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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
 

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