• Café arábica recua apenas 0,1%, cotado a US¢ 146,05/lb
• Cotações de café robusta apresentaram expressivas perdas de 3,8%
• Indicador Cepea registra alta de 2,9% para o arábica de 0,2% para o robusta
• Clima no Brasil segue como um dos focos de atenção do mercado
• Importações de café nos EUA caíram 16% em agosto
• Dados preliminares apontam para alta de 5% nas exportações brasileiras em setembro
• Avanço do dólar segue como fator de pressão sobre os preços de café
• Ambiente macro tem sido baixista para commodities
• Índices de inflação nos EUA e no Brasil tem potencial de movimentar os mercados
• Flutuações do café tem registrado maior correlação ao comportamento dos mercados globais
Sem mudanças no ponto de vista dos fundamentos, os preços futuros de café arábica terminaram a semana quase inalterados enquanto os futuros de café robusta seguiram trajetória baixista. Enquanto não há mudanças no campo dos fundamentos, os preços futuros de café tendem a reagir mais a fatores macroeconômicos e cambiais. A expressiva alta do dólar na semana contribuiu para pressionar as cotações futuras de café robusta em Londres. Além disso, a aproximação do início da colheita no Vietnã, que geralmente ocorre em meados de novembro, também contribuiu para pressionar as cotações.
Em Nova Iorque, o contrato mais ativo, de dezembro, apresentou queda de apenas 0,1%, fechando a semana cotado em US₵ 146,05/lb. Para o café robusta, o contrato com maior liquidez, com vencimento em janeiro, apresentou perdas de USD 89/ton (3,8%), fechando a semana cotado em USD 2.280/ton. O par USDBRL apresentou uma expressiva alta de 2,7%, fechando a semana cotado em USDBRL 5,16 – para mais detalhes leia a análise macroeconômica deste relatório.
Intraday semanal (contrato mais ativo) – 02/10 a 06/10
No mercado doméstico brasileiro, os preços de café arábica terminaram a semana em alta, enquanto as cotações de café robusta terminaram o período quase inalterados. A alta do dólar é o principal fator por trás da apreciação dos preços domésticos de café arábica. O indicador Cepea para o café arábica apresentou ganhos de 2,9% na semana, fechando a sexta-feira (06) cotado em R$ 802,84/sc. O indicador Cepea para o café robusta apresentou uma leve alta de 0,2%, fechando a semana cotado em R$ 646,44/sc.
Do ponto de vista dos fundamentos, o foco das atenções continua sendo as etapas iniciais de desenvolvimento e o clima no Brasil. Enquanto a indicação pelos modelos de volumes importantes de chuva nas próximas semanas em parte do cinturão cafeeiro arrefece as preocupações e alimenta a expectativa de uma safra volumosa em 2024, a ocorrência do El Niño ainda segue como ponto de alerta.
Além do clima, como já foi comentado em outras edições deste relatório, as questões ligadas ao consumo de café seguem como ponto de atenção. Apensar de não haver dados claros sob o ritmo de consumo de café, os dados de importação nos países produtores são importantes indicadores. De acordo com o USDA, os EUA importaram 1,63 milhões de sacas de café em agosto, volume 15,5% menor que o total importado no mês anterior e 16% menor que as importações no mesmo mês do ano passado. Considerando o acumulado nos primeiros 8 meses do ano, os EUA importaram 14,5 milhões de sacas, volume 13% menor que o observado no mesmo período em 2022.
Sazonalidade das importações de café nos EUA (milhões de sacas)
O cenário macroeconômico segue tendo influência sobre os preços do café arábica na bolsa de Nova Iorque, com o par dólar/real marcando mais um avanço significativo na semana no mercado cambial brasileiro e contribuindo para pressionar as cotações do café. Influenciado pelo mercado global mais avesso ao risco após dados econômicos mais fortes que o esperado para a economia americana, com forte avanço dos títulos do tesouro americano. O dólar terminou a última sexta cotado a R$ 5,1621, variação de +2,7% na semana.
A divulgação de dados indicando uma economia americana mais aquecida que o esperado, com destaque para o PMI da indústria, que verifica o nível de atividade do setor, e principalmente o Relatório de Situação de Emprego de setembro, contribuíram de maneira altista para a moeda americana na semana. Conforme destacado no diário de câmbio da última sexta-feira, os dados da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos (BLS) mostrou que foram criadas 336 mil novas vagas de trabalho em setembro no país, resultado muito acima da mediana das estimativas, que previa um acréscimo de 160 mil postos, e do montante registrado para o mês anterior, quando foram criadas 227 mil novas vagas.
Após os resultados, as apostas de que o Federal Reserve manterá a taxa de juros em patamares elevados por um período mais longo, a fim de controlar a inflação do país, aceleraram a procura de investidores por ativos de renda fixa americano, fortalecendo o dólar frente a maior parte das moedas globais, e atuando de forma baixista para as commodities, considerados ativos mais arriscados.
Neste sentido, a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA na quinta-feira (12), a exemplo dos dados de emprego de setembro no país publicados na última sexta (6), podem surpreender para cima e contribuir para maior aversão ao risco nos mercados globais, contribuindo para continuar favorecer a busca pelo dólar e pressionar commodities e o real. No Brasil, na quarta-feira, haverá a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), também com potencial de impacto no mercado cambial.
Adicionalmente, em um contexto de maior correlação que o café tem apresentado com as movimentações globais, vale mencionar que os mercados devem repercutir nos próximos dias a escalada do conflito no Oriente Médio entre Israel e Hamas, que tem provocado forte alta nos preços do petróleo neste início de semana.
Algo interessante a se observar é a mudança nas correlações dos preços do café arábica em Nova Iorque com os índices com o dollar índex e o CRB (commodities). Como pode ser observado no gráfico, pelas suas características específicas, como a de possuir uma baixa elasticidade renda, o café nem sempre apresenta uma correlação alinhada à maior parte das commodities. Desta forma, é possível observar que em diversos momentos no ano as cotações do café apresentaram uma correlação inversa com o índice de commodities CRB, ou seja, apresentando direcionamento oposto ao da maior parte das commodities.
Correlação do café arábica em NY com o dollar index e o índice CRB de commodities
Também é válido destacar que de maneira geral, as commodities tendem a apresentar direcionamento oposto ao do dollar index. Ou seja, avanços do dollar index, sinalizando uma maior busca dos agentes pela moeda americana, em muitos casos representam um momento de maior aversão ao risco global, em que os investidores fogem de ativos considerados mais arriscados, como commodities e moedas emergentes, pressionando estas, em busca de ativos seguros, como o dólar ou títulos do tesouro americano.
Dessa forma, é possível observar que desde meados de setembro, o café passou a corresponder de maneira mais próxima às movimentações do ambiente macroeconômico: flutuando mais junto das commodities - representado pela correlação positiva - e operando na direção oposta ao dollar index - representada pela correlação negativa. Desta maneira, para as próximas semanas, faz-se importante acompanhar os fatores externos ao mercado de café para compreender as direções que os preços podem assumir.
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