Semanal de Café

Em semana volátil, cotações de café terminam em queda
 
Fernando Maximiliano
 
Leonardo Rossetti
Nas últimas semanas, junto com os estoques certificados, o clima no Brasil tem sido o foco das atenções do mercado e contribuiu para a volatilidade dos preços
 
Resumo

•    Café arábica recuou 3,9% na semana, para US₵ 177,15/lb
•    Cotações de café robusta recuaram apenas 0,1% na semana
•    Indicador Cepea para o café arábica registrou queda de 1,7%, cotado a R$ 926,14/saca
•    Indicador Cepea de café robusta subiu 1,7%, para R$ 709,22/saca
•    Preços de arábica pressionados em meio a liquidação de contratos e realização de lucros
•    Reuters: Grupo Mercon pede recuperação judicial
•    OIC prevê excedente de 1 milhão de sacas em 2023/24
•    Clima no Brasil segue como um dos focos de atenção
•    Importações de café dos EUA seguem em níveis abaixo da média
•    Internalização americana de café em outubro foi a menor desde 2014, sinalizando consumo ainda debilitado

Assim como na semana anterior, a última semana foi marcada pela elevada volatilidade para os preços de café em Nova Iorque, que foram pressionados pela liquidação de contratos e realização de lucros, após o forte avanço observado na semana anterior. Do ponto de vista dos fundamentos, o mercado de café segue de olho nos estoques certificados e nas condições climáticas nos países produtores, principalmente no Brasil. Do ponto de vista macro, a alta de 0,9% do Dollar Index, que fechou em 103,93 pontos, e a alta de 1,1% do par USDBRL, que fechou em USDBRL 4,93, também contribuiu para pressionar as cotações de café arábica. Para o café robusta, os preços terminaram o período quase inalterados devido aos fundamentos mais positivos para o tipo, como a projeção de uma menor produção no Vietnã e os problemas climáticos na Indonésia. 

Para alguns traders, parte da volatilidade observada nas últimas semanas esteve relacionada a possível liquidação forçada das posições da Mercon, uma grande empresa ligada ao setor, que pediu recuperação judicial (RJ) nos EUA na última semana – “assim que a Mercon pediu RJ a calmaria voltou ao mercado”. Segundo notícia veiculada pela Reuters na última quinta-feira (07), no documento de pedido de recuperação judicial consta que as dívidas da empresa totalizam 363 milhões de dólares. 

Em Nova Iorque o contrato mais ativo de março/24, terminou a semana com perdas de 720 pontos (3,9%), fechando o período cotado em US₵ 177,15/lb. No terminal de Londres, os preços futuros de café robusta terminaram o período quase inalterados, com perdas de apenas USD 2/ton (0,1%) para o contrato mais ativo, de março, que fechou cotado em USD 2526/ton. 

Intraday semanal (contrato mais ativo) – 04/12 a 08/12

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

No mercado doméstico brasileiro, os preços de café arábica seguiram as tendências em Nova Iorque e terminaram o período em queda, mas os preços de café robusta seguiram avançando. O indicador Cepea para o café arábica terminou o período com uma queda de 1,7% para R$ 926,14/saca. Por outro lado, o indicador para o café robusta avançou 1,7% para R$ 709,22/sc.
Em seu último relatório, a Organização Internacional do Café (OIC) divulgou suas perspectivas para a produção e o consumo global de café em 2023/24. Segundo as projeções da instituição, a produção mundial de café deve avançar 5,8% em 2023/24, para 178 milhões de sacas. Destas, 102,2 milhões de sacas seria de café arábica e 75,8 milhões de sacas de café robusta. Para projetar o consumo, assumiu-se que o crescimento da economia global continue acime de 3%. Como reflexo, a OIC projeta um crescimento de 2,2% no consumo para 177 milhões de sacas. Desta forma, a OIC projeta um excedente de 1 milhão de sacas na temporada 2023/24.
Adicionalmente, conforme destacado no semanal de câmbio, nesta semana a atenção dos agentes globais estará voltada para a decisão de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed). Há consenso de que as taxas de juros permanecerão inalteradas entre 5,25% e 5,50% ao ano pela terceira vez consecutiva. Os indicadores econômicos desde a última reunião do Comitê têm sido mais suaves do que o previsto, desta forma, espera-se que o FOMC adote uma abordagem equilibrada, reafirmando a necessidade de aguardar mais indicadores antes de considerar uma possível redução nas taxas de juros. Atualmente a maior parte dos agentes projeta um início do ciclo de redução da taxa básica a partir de maio de 2024. Uma confirmação deste cenário pelo Fed pode favorecer o apetite dos agentes, favorecendo commodities e moedas de países emergentes, como o real.

Clima no Brasil segue como um dos focos de atenção

Como citado acima, o clima tem sido um fator central nas movimentações dos preços de café, principalmente no Brasil. No maior produtor mundial de café, a maioria das lavouras estão passando pela etapa de expansão dos frutos e no início do próximo ano passarão pelo processo de enchimento dos frutos, ambas etapas são críticas e dependentes de condições climáticas favoráveis. Nas últimas semana foi observada a passagem de várias ondas de calor e volumes de chuva abaixo da média em algumas regiões, reflexo dos impactos do El Niño no clima brasileiro. 

Anomalia - % de chuvas frente a média histórica (60 dias)

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Fonte: StoneX, with data from NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System), 2023.

A condição de temperaturas elevadas e baixos volumes de chuva levanta a preocupação dos possíveis impactos sobre o potencial produtivo de 2024, cuja produção é vista de forma otimista por parte de participantes do mercado, que acreditam em um importante avanço para a próxima temporada. No entanto, a manutenção de um clima adverso pode mudar este cenário. Para algumas regiões de café arábica, os volumes de chuva observados e a previsão de bons volumes alimenta a perspectiva de uma boa safra, mas algumas regiões de café arábica enfrentaram volumes de chuva abaixo da média, como parte do Sul de Minas e Cerrado mineiro. 

Para o café robusta, parte da região norte do Espírito Santo e Sul da Bahia receberam acumulados de chuva abaixo da média e não há previsão de volumes expressivos de chuva nessas regiões, o que levanta as preocupações dos agentes. Entre 2014 e 2016, durante a ocorrência do El Niño, a produção de café robusta no Brasil apresentou perdas de 38% em dois anos. Claro que as condições não são as mesmas, então não existe a expectativa de uma perda tão grande, mas isso mostra o risco potencial para a produção brasileira de café robusta. 

São dois os pontos principais: 1) mesmo com o uso de sistemas de irrigação, como o gotejamento, em dias com temperaturas elevadas a planta perde água em um ritmo maior que é capaz de absorver do solo, então a planta murcha e o potencial produtivo é reduzido. Além disso, a temperatura elevada pode provocar queimaduras nos frutos e nas folhas, conhecido como escaldadura. 2) caso o cenário de escassez de água se agrave, o governo pode proibir o uso da água para a irrigação, com o objetivo de priorizar o consumo humano da água, o que poderia causar danos severos nas lavouras em períodos de clima seco e temperaturas elevadas. 

Importações de café dos EUA seguem em níveis abaixo da média

Foram divulgados pelo USDA os dados de importações de café dos Estados Unidos em outubro, que continuam sinalizando para um cenário de demanda debilitada no maior consumidor do mundo. O país totalizou 1,374 milhões de sacas de café verde internalizado, volume apenas 2,6% abaixo do registrado em setembro, mas significativas quedas de 32% e 28% frente outubro de 2022 e a média dos últimos três anos para outubro, respectivamente. Chama atenção este ser o menor volume de café importado em qualquer mês desde novembro de 2014, quando o país internalizou 1,34 milhões de sacas.

Sazonalidade das importações de café dos EUA (milhões de sacas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX.

Em termos acumulados, os Estados Unidos totalizam 17,3 milhões de sacas importadas nos 10 primeiros meses do ano, 15,2% abaixo do mesmo período do ano passado, quando totalizou 20,4 milhões de sacas, e 11,6% abaixo da média dos últimos três anos. Os volumes de importações mensais constantemente abaixo das médias durante todos os meses do ano sugerem um cenário de consumo ainda abaixo do padrão dos anos anteriores. Desta forma, este cenário de estagnação ou crescimento mais lento da demanda permanece como fator baixista para o mercado de café, apesar da expectativa de consumo sazonalmente mais aquecido durante o inverno no hemisfério norte.

Nesta semana também serão divulgados os dados da inflação nos Estado Unidos em novembro. Os dados acumulados em 12 meses têm mostrado uma inflação negativa do café ao consumidor no país desde agosto, tendo atingido -3,6% em outubro. Será importante observar se essa se manterá negativa, o que pode ser um reflexo do cenário de oferta confortável e consumo debilitado, ao menos para o café arábica. Todavia, o cenário de redução de preços também oferece condições mais favoráveis para uma retomada do maior apetite do consumidor pela bebida.

 

TABELA DE INDICADORES

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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
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