Diário Sucroenergético

Produção de açúcar na Índia continua à frente da safra anterior
 
Filipi Cardoso
Marcelo Di Bonifácio
Rafael Borges
Produtividade em Maharashtra continua preocupando o mercado 

Nesta terça-feira (17), Associação Indiana das Usinas de Açúcar (ISMA, da sigla em inglês) divulgou o seu acompanhamento da safra 2022/23 (out-set) de açúcar. A fabricação até o dia 15 de janeiro de 2023 já totaliza 15,68 milhões de toneladas, 4,0% à frente do mesmo período de 2022. Na primeira quinzena do mês, foram produzidas 3,61 milhões de toneladas de açúcar, contra 3,53 do ano passado (+2,4%). O avanço da temporada atual vai em linha com as expectativas iniciais do mercado de aumento na área de cultivo e na quantidade de usinas em operação – que, até o momento, são 515 unidades, acima das 507 em janeiro/22.

Os dados por estado trazem tons mistos para a figura completa da produção indiana de açúcar. Em Uttar Pradesh (UP), até a primeira metade de janeiro, foram fabricadas 4,07 milhões de toneladas do adoçante, apenas 50 mil tons acima do ano passado. Na região, menos usinas estão operando (117 contra 120 em 2022) e a safra parece estar perdendo fôlego, ou pelo menos deve finalizar em estabilidade frente a temporada 2021/22, quando UP produziu 10,2 milhões de tons de açúcar (queda anual, vale pontuar, de 7,8%).

Nos estados mais ao sul da Índia, a situação pode ser crítica embora os números até aqui parecem apontar para o contrário. Em Maharashtra, foram produzidas 6,03 milhões de toneladas de açúcar até 15 de janeiro, crescimento quinzenal de 1,35 milhões de tons e variação anual de 2,6%. Em Karnataka, já foram fabricadas 3,36 milhões de toneladas, 2,8% acima de 2021/22. Em ambas as regiões, a safra teve início atrasado em 2022/23, em decorrência do excesso de chuvas entre setembro e novembro, meses fundamentais para o desenvolvimento final dos canaviais.

A grande questão não é somente o andamento da safra, mas a sua duração, especialmente em Maharashtra onde houve usinas moendo até meados de junho no ciclo 2021/22, fazendo com que tivesse recorde produtivo de 13,7 milhões de toneladas no estado. Na temporada atual, é pouco provável que as operações durem tanto tempo assim, fazendo com que a cauda final do ciclo tenha menos volume de açúcar. Portanto, por mais que 2022/23 esteja à frente de 2021/22, a claridade dos volumes produzidos neste pico de safra e sua duração serão determinantes para o seu fechamento.

Segundo a ISMA, a área plantada de cana deve crescer para 5,9 milhões de hectares em 2022/23, 5,7% maior que a temporada anterior. Esse seria o maior plantio para a cana na Índia, que é estimulado com os incentivos governamentais (Fair Remunerative Price) e pelo lado dos derivados. O açúcar se manteve extremamente atrativo no mercado internacional nos últimos meses e o setor de etanol deve demandar cada ano maiores volumes da biomassa – no ciclo atual, 4,5 milhões de tons em açúcar equivalente devem ser direcionados para a produção do biocombustível.

Área plantada de cana-de-açúcar na Índia (milhões de hectares)
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* Estimativa ISMA. Fontes: ISMA, StoneX. Elaboração: StoneX.

A disponibilidade de cana também é crescente nos últimos anos, tendo atingido recorde em 2021/22 (out-set). Segundo o Ministério de Agricultura e do Bem-Estar dos Agricultores (MAFW, da sigla em inglês), a Índia produziu 431,8 milhões de toneladas de cana em 2021/22, quase 26 milhões de tons acima da safra anterior. Para 2022/23, as estimativas do órgão apontam para 465 milhões de toneladas, algo que no momento não parece factível, pois seria um crescimento anual de 7,7% - ou seja, acima do aumento de área, o que implicaria, provavelmente, maior produtividade, que não deve ser o caso de acordo com as informações vinda de produtores. Por isso, é pouco provável que a produção de cana ultrapasse as 450 milhões de toneladas na temporada corrente, com a chance de ser ainda menos volumosa que 2021/22.

Produção de cana-de-açúcar na Índia (milhões de toneladas)
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* Estimativa StoneX. Fonte: Ministério de Agricultura e do Bem-Estar dos Agricultores da Índia. Elaboração: StoneX.

Levando em conta essas perdas de produtividade, especialmente em Maharashtra, as estimativas de produção de açúcar para a Índia vêm sofrendo cortes e o mercado futuro já parece refletir uma potencial queda na oferta indiana. Há alguns meses, entendia-se que o primeiro trimestre de 2023 seria o momento de aumento nos estoques imediatos da commodity, fato que hoje já foi descartado pelos agentes justamente pelos problemas na Índia. Caso haja quebra no país, é possível que até mesmo com o início da safra no Centro-Sul brasileiro 2023/24 (abr-mar) o segundo trimestre/23 continue deficitário – questão apenas ventilada e pouco certa.

As precipitações acima da média em meses indesejados no sul da Índia devem atrapalhar a produtividade dos canaviais. Mas, além disso, os resultados no decorrer da colheita de cana são desanimadores pelo lado da recuperação do açúcar, outro fator elementar para se entender o fechamento da safra na Índia. Por isso, o cenário provável no país parece ser de produtividade menor (em termos de cana e de açúcar) e menor duração. Nesse sentido, parte do mercado já trabalha com uma produção indiana de açúcar abaixo de 35 milhões de toneladas – que seria amparada por uma temporada durando até meados de março, apenas, diferentemente de 2021/22 que durou até junho. As estimativas que permanecem acima de 36 milhões de tons ainda apostam na manutenção de um pico produtivo bem acima do ano passado e uma perda de fôlego a partir de março, mas sem interrompimento das operações pelas usinas, ou seja, sem quebra. Vale reforçar, grande parte dos agentes já estão trabalhando com uma safra 2022/23 menor.

Neste momento, o importante a se analisar são as exportações e, portanto, o impacto desse contexto nos preços no médio prazo. Caso de fato haja produção abaixo de 35 milhões de toneladas, é bem improvável que o governo indiano libere a nova cota de exportações, uma vez que na primeira fase já foram liberadas 6,15 milhões de toneladas de açúcar – das quais 5,5 milhões já estão comprometidas e 1,8 milhões de tons, embarcadas até o final de 2022. Portanto, enquanto não haja materialização de uma safra melhor na Índia, novos lotes de exportação não serão abertos, ou serão em menores volumes. Em um cenário em que a Índia está fora do mercado até setembro, há um fator altista relevante até lá. Para 2023/24 (out-set), existe a percepção inicial e precoce de que o país vai enfrentar uma safra de cana sob El Niño (que tende a ter menos chuvas) e com a necessidade de ainda mais etanol, já que a meta para 2024 é de atingir a mistura de 15% na gasolina. Assim, já é possível traçar um caminho de desafios para o setor sucroenergético da Índia nos próximos meses e anos.

Resumo do dia 

Nesta quinta-feira (17), o açúcar teve novo dia de valorizações agressivas nos mercados futuros. Ao final da sessão na ICE, NY#11 era precificado a US¢ 20,14/lb, alta de 41 pontos (+2,08%) frente ao fechamento da sexta-feira (13), último pregão. Em Londres, o branco fechou em alta diária de 1,41%, cotado a US$ 560,90/ton.

A novidade para o mercado, mesmo com os dados da ISMA trazendo produção de açúcar acima do ano passado, são novas estimativas apontando para redução produtiva na Índia. Os spreads reforçam esse contexto de possível maior oferta no médio prazo, uma vez que o março/23-maio/23 em Nova Iorque bateu 136 pontos no pregão de hoje. Se o contrato mais líquido não teve maiores dificuldades de ultrapassar novamente a região de US¢ 20,00/lb, o maio/23 parece continuar encontrando resistência em US¢ 19,00/lb, tendo fechado hoje (17) em US¢ 18,78/lb.

Tabela de indicadores

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