Diário Sucroenergético

A região do Sudeste Asiático, onde se encontra a Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, é marcada pelo clima de monções, estação chuvosa que concentra cerca de 70% das chuvas anuais do país entre os meses de junho e setembro. Este fenômeno é crucial para o desenvolvimento das culturas agrícolas do país, sendo influenciado pela oscilação entre os fenômenos de El Niño e La Niña.

Considerando-se o histórico do país, o El Niño tradicionalmente relaciona-se a uma temporada de monções mais seca, enquanto o La Niña tende a indicar uma temporada de monções mais chuvosa.
Em 2023, ano impactado pela ocorrência de um El Niño forte, as chuvas durante a temporada de monções indianas ficaram 14% abaixo da média de longo prazo para o período nos principais estados produtores – trazendo estresse hídrico e redução de produtividade para os canaviais do país, particularmente para os estados situados ao Sul do país, como Maharashtra e Karnataka.

Com isso, a produção de açúcar do país caiu 3% durante o ciclo 2023/24, cenário que provocou mudanças tanto na política de exportação de açúcar como na destilação de etanol do país. Em contraste, o ano de 2024 deverá ser marcado pela transição de um contexto de El Niño para La Niña, evento climático associado a uma melhora nos níveis de precipitação. Segundo dados mais recentes da agência climática norte-americana NOAA, a probabilidade de ocorrência de um fenômeno de La Niña entre os meses de julho e setembro é de 48%, sendo estimado um leve desvio negativo na temperatura da superfície do oceano Pacífico até o final de 2024 – cenário indicativo de um La Niña leve.

​*Por trimestres móveis, JJA = junho, julho, agosto. Fonte: NOAA. Elaboração: StoneX

Diante da mudança no contexto dos fenômenos climáticos, a expectativa é de uma normalização do padrão de chuvas durante a temporada de monções de 2024, cenário que já tem ocorrido nos principais distritos canavieiros da Índia e, por sua vez, refletido de maneira baixista sobre as cotações do açúcar no mercado internacional. Desde o início da atual temporada de monções, a maioria dos distritos canavieiros da Índia indica chuvas próximas ou superiores à normalidade, cenário que deve permitir melhores condições de desenvolvimento para a temporada 2024/25 (out-set).

* Até 15 de julho. Fonte: GADAS. Elaboração: StoneX.

Apesar disso, a expectativa para a produção indiana de açúcar em 2024/25 (out-set) segue limitada. O clima irregular e seco durante 2023, período de plantio de grande parte dos canaviais indianos que serão colhidos durante a safra 2024/25, deverá manter o quadro produtivo limitado. Além disso, a política de mistura de etanol no país deverá funcionar como uma variável de ajuste, podendo direcionar qualquer maior excedente produtivo dos canaviais do país para o biocombustível, impedindo grandes aumentos na fabricação de açúcar.

Diante deste quadro, mesmo com a expectativa de melhora climática, a previsão da StoneX é de uma retração produtiva da safra indiana em 2024/25 (out-set), estimada em 28,8 milhões de toneladas (white value), contra 31,8 milhões de toneladas na temporada anterior.

Resumo das estimativas para a Índia

Fontes: StoneX, ISMA e outros.

Resumo do dia

Na data de escrita deste relatório (17), os preços do açúcar bruto e branco registraram um dia de quedas no mercado futuro. Para o bruto #11 (SBV4), os preços registraram uma retração de 1,33%, finalizando o dia na marca de US¢ 19,36/lb. Para o branco #5 (SWV4), os preços encerraram o dia na marca de US$ 555,70/ton (-0,75%). Influenciando os preços, segue a perspectiva de superávit na safra global de açúcar em 2023/24, resultado principalmente da elevada produção brasileira. O avanço das chuvas de monções, até o momento em linha com a normalidade, também atua como um fator baixista sobre as cotações.