Trigo acompanha movimento de pressão sobre os
preços de commodities e sofre os efeitos das
incertezas no campo geopolítico
- Avanço do plantio da safra de inverno nos EUA;
- Aumento na estimativa para a safra 2022/23 da Rússia;
- Perspectivas de baixo crescimento da economia mundial.
- Incertezas em relação a continuidade do acordo entre Rússia e Ocidente.
O mercado futuro de trigo encerrou a semana em campo negativo na Bolsa de Chicago, com o contrato de dezembro/22 cotado a US¢ 859,60/bu na sexta-feira (-1,1% em relação a sexta-feira anterior). O movimento desta semana segue um movimento generalizado nas commodities, que tentam alguma recuperação, mas que ainda estão limitadas por pressões pelo lado financeiro da economia global.
A segunda-feira (12) obteve estabilidade para o contrato contínuo, após divulgação do WASDE de setembro com poucos ajustes. Os pontos de destaque ficaram com o aumento da produção global, incremento de 4,3 milhões de toneladas em relação à estimativa de agosto, mas com a manutenção da diferença elevada no balanço global entre a produção e consumo, na ordem de 7,1 milhões de toneladas.
Para o Brasil, o USDA manteve a projeção para a produção em 8,7 milhões de toneladas. A StoneX estima para a safra de trigo brasileiro uma produção mais otimista, na ordem de 9,67 milhões de toneladas. É importante indicar que o mês de setembro será importante para regiões mais ao sul do Paraná e para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, pois o clima pode ainda ter efeitos sobre os rendimentos da safra.
Na terça-feira (13), o mercado também refletiu os dados das lavouras dos Estados Unidos divulgados no dia anterior pelo USDA, que indicaram 85% da colheita de trigo concluída até 11 de setembro. O progresso das lavouras ainda é mais lento quando comparado a 2021, em que 95% já havia sido colhida. Por outro lado, as plantações de trigo de inverno passaram de 3% para 10%, um avanço considerável e próximo da média de cinco anos. O progresso de plantio pode ser visto pelo relatório de Acompanhamento de Safra de Trigo divulgado pela StoneX.
As inspeções divulgadas pelo USDA, encerradas na quinta-feira (8), indicaram aumento no nível de exportações dos Estados Unidos, registrando 757,8 mil toneladas embarcadas. Desde o início do ano de comercialização do grão em 1º de junho, foram embarcadas 7,21 milhões de toneladas, abaixo das 7,75 milhões de toneladas para o mesmo período de 2021.
Na quarta-feira (14), o acirramento do acordo “Iniciativa de Grãos”, trouxe pequena recuperação para os preços, pois é possível que a Rússia rompa o acordo como mais uma medida de ataque à Ucrânia. Os descontos nos preços FOB russos continuam pressionando os preços, uma vez que a Rússia continua oferecendo trigo com desconto de USD 100/ton em comparação com o HRW FOB dos EUA.
Na quinta-feira (15), as vendas de trigo 2022/23 dos Estados Unidos subiram para 217,3 mil toneladas, frente a 192,6 mil toneladas na semana anterior. No acumulado do ano comercial, o país já negociou 5,83 milhões de toneladas, frente a 6,33 milhões de toneladas do mesmo período do ano anterior – lembrando que a estimativa total do USDA é de exportações de 22,45 milhões de toneladas na safra atual. Dentre os principais compradores da semana, o Iraque registrou uma compra de 100 mil toneladas, o México 78,3 mil toneladas, a China 64,7 mil toneladas e a Nigéria 46,1 mil toneladas.
A semana se encerra na sexta-feira (16) com os preços na variação semanal em negativo na Bolsa de Chicago para o contrato de dezembro/22. Em resumo, foi uma semana com movimentos atrelados à incertezas na diplomacia de importantes players do comércio internacional e a uma queda geral nos preços de commodities.
Na semana que se estendeu entre os dias 12 e 16 de setembro, a variação dos futuros do trigo na bolsa de Paris mais uma vez foi determinada por declarações de autoridades da Rússia, em especial do seu presidente, Vladimir Putin. Quando ameaças foram feitas ao corredor de exportações no mar Negro, o trigo se valorizou; quando nada foi dito, os contratos recuaram. Como as ameaças aconteceram em três dias diferentes, o agregado do período foi de ganhos para o trigo. O contrato com vencimento em dezembro/22, por exemplo, ficou cotado a EUR 334,25/t, uma valorização de 0,98%.
Especificamente sobre a safra da União Europeia (UE), destaque para a atualização das estimativas do USDA. Olhando para todas as modalidades de trigo, o Departamento norte-americano manteve os números de produção inalterados: 132,1 milhões de toneladas. Este valor é significativamente inferior às 138,4 milhões do ciclo passado, com as perdas sendo resultado da seca e das altas temperaturas registradas no verão europeu.
As estimativas de exportações também ficaram inalteradas, mas as 33,5 milhões de toneladas são superiores às 29,5 milhões registradas em 2021/22. Essa perspectiva de acréscimo se deve às dificuldades de exportação de Rússia e Ucrânia, além da desvalorização do euro.
Outras atualizações importantes foram feitas pelo FranceAgriMer, o ministério de Agricultura da França. Talvez a mais importante delas tenha sido a que indicou que a qualidade do trigo do país está baixa, afetada pelas já mencionadas seca e altas temperaturas. Segundo o relatório, 27% do trigo ficou com quantidade de proteína inferior a 11%, patamar mínimo em muitos países para o consumo humano. Na média dos últimos cinco anos, o percentual abaixo dos 11% foi de apenas 8%.
A outra atualização importante diz respeito à produção da França O ministério aumentou sua estimativa de 32,9 para 33,87 milhões de toneladas, volume ainda é inferior às 35,43 milhões colhidas em 2021/22.
Por fim, vale mencionar os números de exportação do bloco econômico. Por enquanto, eles estão comprovando a estimativa do USDA de acréscimo dos embarques. Os dados ainda incompletos referentes às onze primeiras semanas do ciclo 2022/23 mostram que 7,54 milhões de toneladas deixaram a União Europeia. A média dos últimos três anos para esse período é de 5,75 milhões, volume 23,7% inferior ao do ciclo atual.
Já faz algumas semanas que a perspectiva de uma safra recorde na Rússia está sacramentada. Em sua última atualização, a consultoria IKAR estimou que 99,0 milhões de toneladas foram colhidas em solo russo em 2022/23, volume que é 30,3% superior ao registrado no ciclo passado e que indica que a estimativa do USDA de 91 milhões de toneladas está defasada.
A grande questão que os agentes estão tentando responder diz respeito a quanto que a Rússia conseguirá exportar. Os dados oficiais de balança comercial deixaram de ser publicados pelo governo no início da guerra com a Ucrânia, mas as estimativas privadas indicam que os embarques estão mais lentos que no ano passado. Nesse ritmo, dificilmente as exportações alcançarão as cerca de 45 milhões de toneladas estimadas, já que em 2021/22 os embarques totalizaram algo em torno de 33 milhões de toneladas.
Para a Ucrânia, o USDA elevou sua estimativa de produção de 19,5 para 20,5 milhões de toneladas, mas manteve inalterado em 11,0 milhões os valores de exportação. Sobre os embarques já realizadas, vale mencionar que eles seguem acontecendo através dos portos no mar Negro, mas que o ritmo é insuficiente para se equiparar aos volumes registrados no ciclo passado. Até o dia 13 de setembro, 5,8 milhões de toneladas haviam deixado o solo ucraniano no ciclo 2022/23. No mesmo período, em 2021;22, esse volume era de 10,9 milhões.
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