Trigo sofre mais uma semana de perdas na CBOT,
mas ainda com possível impulso no radar
até o final do mês
- Avanço do plantio da safra de inverno nos EUA;
- Aumento na estimativa para a safra 2022/23 da Rússia e redução das taxas de sua exportação;
- Perspectivas de baixo crescimento da economia mundial que geram pressão na demanda.
- Escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia;
- Redução da produção da Argentina.
O mercado futuro de trigo obteve a semana entre os dias 10 e 14 de outubro com um saldo negativo na Bolsa de Chicago, fechando a sexta-feira com o contrato de dezembro/22 cotado a US¢ 859,60/bu, variação de -2,3% no comparativo sexta contra sexta. A semana foi marcada por queda nos preços dada a maior aversão ao risco no mercado financeiro, mas ainda está suscetível a mudanças no campo geopolítico.
Como pode ser observado no gráfico a seguir, o impulso nos preços foi registrado justamente quando as relações diplomáticas entre Rússia e Ucrânia ficaram acirradas. Em entrevista concedida à Reuters, o embaixador do governo russo, Gennady Gatilov, afirmou que o acordo “Iniciativa de Grãos” não está beneficiando as exportações da Rússia, uma vez que o país ainda enfrenta dificuldades para vender fertilizantes e alimentos. A renovação do acordo está cada mais sob risco e poderá levar a novos impulsos nos preços do mercado futuro para grãos.
O trigo apresentou revisões importantes nas estimativas divulgadas pelo USDA em outubro, principalmente para os Estados Unidos. A oferta da safra 2022/23 norte-americana está mais apertada, com uma estimativa para produção caindo de 48,52 para 44,9 milhões de toneladas, sendo acompanhada pelo nível de exportações previstas, que passou de 22,45 para 21,09 milhões de toneladas, também refletindo o ritmo lento de vendas e preços pouco competitivos.
A América do Sul ganhou destaque, com a Argentina sofrendo os danos do clima seco em regiões produtoras e o Brasil indo na contramão de seu vizinho, obtendo ajustes positivos graças ao bom desenvolvimento da safra. A produção argentina ficou estimada em 17,5 milhões de toneladas - perda de 1,5 milhão de tonelada em relação a estimativa de setembro – e a do Brasil passou de 8,7 para 9,2 milhões.
O acompanhamento semanal da safra norte-americana indicou que 55% da safra de trigo de inverno estava em solo, frente a média de plantio de 60% para a mesma semana na safra anterior. Mas há expectativa de maior avanço registrado para esta semana, com chuvas registradas em parte de Oklahoma e Texas.
Também divulgado pelo USDA, as vendas de trigo dos Estados Unidos ficaram abaixo da média histórica, registrando no valor líquido semanal para a safra 2022/23 cerca de 211,8 mil toneladas, inferior até mesmo ao registrado na semana passada. No acumulado do ano comercial, cerca de 9,364 milhões de toneladas foram embarcadas, muito semelhante ao total para o mesmo período do ano de 2021.
O USDA aumentou sua estimativa para a produção de trigo na União Europeia em 2022/23 de 132,1 milhões de toneladas para 134,75 milhões. Apesar de significativos, estes ganhos não foram surpreendentes. Durante o verão europeu, a seca e as temperaturas recordes levaram a maior parte dos agentes a cortar significativamente suas estimativas para a safra de trigo. O USDA, por exemplo, foi de 136,5 milhões de toneladas em maio para 132,1 milhões em julho. Entretanto, o desenrolar da safra mostrou que os cortes haviam sido exagerados, já que a onda de calor atingiu as lavouras quando a maior parte do trigo já havia sido colhido. Assim, Comissão Europeia e Stratègie Grains aumentaram recentemente suas estimativas de produção, chegando agora a vez do USDA.
O Departamento norte-americano também aumentou suas estimativas para as exportações do bloco econômico: de 33,5 milhões de toneladas para 35,0 milhões de toneladas. O crescimento acompanha os maiores números estimados para a safra.
O ritmo das exportações de trigo da União Europeia desacelerou nas últimas semanas. No final de agosto e no início de setembro, os embarques semanais ficavam muito próximos ou até mesmo ultrapassavam as 1,0 milhões de toneladas. Esses volumes elevados impulsionavam as exportações em 2022/23 para valores muito superiores ao dos últimos anos. Desde meados de setembro, entretanto, os embarques recuaram para valores mais próximos das 600 mil toneladas semanais, aproximando o total das exportações do volume médio dos últimos três anos. Com 15 semanas transcorridas, as exportações da União Europeia em 2022/23 totalizam 9,8 milhões de toneladas, contra a média dos últimos três anos de 8,1 milhões.
O plantio da safra 2023/24 está adiantado na França, alcançando 21% da área estimada de produção. No ano passado, na mesma data, esse valor era de 11%. Entretanto, é importante fazer o adendo de que fortes e constantes chuvas foram registradas sobre a França ao longo dos últimos dias, o que deve ter prejudicado novos avanços no plantio.
Com 97,5% das lavouras colhidas, a safra 2022/23 de trigo da Rússia está estimada em 103,3 milhões de toneladas. Caso a produtividade se mantenha nos 2,5% restantes, o país terá uma safra recorde de 105,9 milhões de toneladas. Este volume é 38,3% superior ao registrado em 2021/22.
Mesmo ofertando o trigo mais barato do mercado, as exportações da Rússia seguem em ritmo lento. Isso porque as diversas sanções que incidem sobre o país limitam as opções de venda. Segundo apuração da StoneX, o preço FOB do trigo russo é de USD 17,00/t mais barato que o produto francês, um dos seus principais concorrentes, e mesmo assim as exportações do país eslavo estão 20% abaixo do volume embarcado no ano passado.
A Rússia por enquanto plantou 14,12 milhões de hectares de trigo de inverno para a safra de 2023/24. Este ritmo de plantio é 7% inferior aos 14,90 milhões de hectares registrados no ciclo passado durante o mesmo período.
Na Ucrânia, 1,8 milhões de hectares já foram plantados com trigo de inverno. Na média, os agentes estão esperando uma redução de 20% na área de plantio na comparação com o ciclo passado.
Sobre as exportações, deixaram a Ucrânia 3,5 milhões de toneladas de trigo desde o início do ano agrícola, em 1º de julho. Ano passado, o volume era de 9,7 milhões de toneladas, passado o mesmo período de tempo.
No último dia 12, o USDA atualizou suas estimativas para a safra de trigo de Rússia e Ucrânia. Para o primeiro, o Departamento norte-americano manteve a produção em 91,0 milhões de toneladas e as exportações em 42,0 milhões de toneladas. Para o segundo, também não aconteceram novidades, com a produção ficando em 20,5 milhões de toneladas e as exportações em 11,0 milhões.
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