Comentários de Abertura

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Arlan Suderman
Chief Commodities Economist

Os futuros de ações negociaram em queda na sessão noturna, em meio ao medo persistente de que a política de aperto monetário agressivo do Federal Reserve possa levar os EUA a uma recessão profunda. O índice de volatilidade VIX continua a negociar perto dos 31 pontos, permanecendo acima dos 30 pontos nos últimos 10 dias, mesmo quando as ações registraram um rali. O dollar index negocia em alta expressiva, perto dos 112,9 pontos esta manhã. Os títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA negociam perto de 4,09%, representando uma nova máxima de 14 anos, enquanto os títulos de 2 anos negociam perto de 4,50%, um pouco abaixo da máxima de 15 anos atingida recentemente. Os preços do petróleo estão em alta de 1%, enquanto as commodities negociam de forma mista.

A transparência tem sido muito importante para o Federal Reserve desde que Ben Bernanke atuou como presidente do banco central de 2006 a 2014. Isso parece uma coisa nobre. Muitas vezes, uma mudança na taxa de referência do Fed anterior a Bernanke não era informada até ser vista no mercado. No período, o mercado se concentrava nos vários relatórios econômicos divulgados a cada semana, com nenhum deles realmente se destacando muito sobre os outros, exceto os relatórios trimestrais do produto interno bruto. Os traders de hoje estão obcecados com o Federal Reserve – os discursos e declarações são analisados minuciosamente. Os traders analisam todos os movimentos possíveis para prever as ações do Fed e antecipar o impacto potencial na economia. Os mercados registram grandes oscilações com base em pequenas nuances em declarações feitas por formuladores de políticas em aparições públicas, ou mudanças de palavras em declarações divulgadas.

O ciclo de grande parte de 2022 se repetiu diversas vezes. Os membros do Fed trabalham para dizer que a inflação é o inimigo número um em uníssono, exigindo um aperto monetário agressivo. O mercado recua e  então estabelece um novo nível de base na suposição de que o Fed não terá coragem de sustentar sua postura contracionista quando as coisas ficarem difíceis. Então o Fed faz o que diz, e promete mais do mesmo no futuro, porque a inflação tem se tornado sistemicamente enraizada na economia. E o ciclo se repete. Os mercados estão nesse modo de estabilização novamente esta semana, com as ações tentando se consolidar acima das baixas recentes com base em ideias de que precificou o potencial impacto negativo do Fed fazendo o que diz que fará, o que atualmente envolve aumentar sua taxa básica de juros entre 4,5 e 5,0% até o início do próximo ano. Contudo, a inflação nunca foi controlada nos EUA sem taxas de juros reais positivas – taxas de juros acima da taxa de inflação. Isso pode exigir taxas ainda mais altas, o que foi declarado ontem pelo presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, em uma aparição pública. A obsessão de Wall Street pelo que o Fed fará a seguir vai além das ações, impactando o fluxo de capital em quase todos os setores dos mercados, incluindo as commodities, mudando o foco dos fundamentos básicos de oferta e demanda.

A guerra continua se escalando na Ucrânia, com as forças ucranianas fazendo avanços significativos na retomada do controle do território anteriormente ocupado pelas forças russas. Enquanto isso, a Rússia continua seu ataque à infraestrutura ucraniana em todo o país. A mídia russa chama o recém-nomeado comandante das forças russas na Ucrânia de “General Armageddon”. No entanto, até ele admite que a situação é tensa na Ucrânia, pois suas tropas jogam na defesa em meio ao avanço das forças ucranianas. Como isso afeta as commodities? Até onde o presidente Putin e seu “General Armageddon” irão para virar a maré nesta guerra? Por enquanto, a Rússia parece saber que não pode vencer por terra, por isso tem atacado a infraestrutura energética e hídrica ucraniana, juntamente com alguns centros civis, na tentativa de quebrar o espírito do povo ucraniano antes que suas tropas ganhem a guerra em termos de combate. A própria questão do que a Rússia pode fazer a seguir continuará a manter os mercados de grãos e oleaginosas no limite.

Fontes no mercado físico da China observam que mais de 20 carregamentos de soja foram comprados na segunda e terça-feira, sem afetar materialmente os futuros dos EUA. Ainda não se sabe quantas desses carregamentos vieram do mercado norte-americano, mas sabemos que algumas vieram da América do Sul, como tem acontecido ultimamente em meio às altas taxas de frete de barcaças no rio Mississippi. Os estoques de soja nas esmagadoras da China caíram para níveis mínimos, 4,15 milhões de toneladas esta semana, o que está mais de 30% abaixo dos níveis típicos para esta época do ano. Os estoques de farelo de soja são os mais baixos desde 2015. No entanto, a falta de disponibilidade de soja continua a desacelerar a atividade de esmagamento, reduzindo-a para apenas 1,65 milhão de toneladas na semana passada, contra 1,52 milhão de toneladas na semana anterior. A média de cinco anos para o esmagamento é de 1,83 milhão, enquanto havia atingido 2 milhões há algumas semanas. O dólar e o VIX fortes continuarão a criar obstáculos para os mercados de grãos e oleaginosas, enquanto os fundamentos de oferta e demanda fornecem suporte por enquanto. O trigo liderou a alta do mercado noturno devido aos riscos geopolíticos, enquanto o milho e a soja tiveram mais dificuldade para acompanhar o movimento em razão do progresso da colheita e a falta de novas notícias altistas para contrabalancear os medos de Wall Street mencionados acima.

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