Bolsa de Chicago registra mais uma semana de
perdas para o trigo
- Avanço do plantio da safra de inverno nos EUA;
- Aumento na estimativa para a safra 2022/23 da Rússia e redução das taxas de sua exportação;
- Perspectivas de baixo crescimento da economia mundial que geram pressão na demanda;
- Possibilidade de maior cooperação da Rússia na renovação do acordo "Iniciativa de Grãos".
- Redução da produção da Argentina.
O mercado futuro de trigo obteve uma semana se saldo negativo entre 17 e 21 de outubro na Bolsa de Chicago, fechando o último dia com o contrato de dezembro/22 cotado a US¢ 850,60/bu, variação de -1% no comparativo sexta contra sexta. De modo geral, a semana foi marcada por maior otimismo em relação a continuidade do acordo no Mar Negro e preocupações com a oferta de trigo em decorrência de problemas com o clima.
Para esta semana que se inicia, o mercado acompanha a possibilidade de renovação do acordo que possibilita o escoamento de grãos da Ucrânia e o clima em diferentes regiões pelo mundo.
Intraday | Preço para o contrato de dezembro/22– Chicago (USD cents/bushel)
A Rússia vem demonstrando maior interesse em contribuir para a renovação do acordo “Inciativa de Grãos”, de acordo com negociadores da ONU e Turquia. Entretanto, sua posição é nítida em relação as dificuldades que ainda enfrenta diante do comércio internacional e as sanções impostas pelo Ocidente, o que ainda gera incerteza sobre as cargas que podem ser embarcadas em novembro.
Ainda no Mar Negro, mais uma vez os russos são colocados como suspeitos de comercializar grãos ucranianos ilegalmente. Segundo artigo da Bloomberg a partir de imagens de satélite, dados de carga e descarga de portos e o rastreamento de navios, há um histórico de embarcações que podem estar misturando grãos de vários portos, complicando a identificação da origem de commodities.
Na América do Sul, a Argentina enfrenta condições de seca que novamente são ponderadas sobre a produção da safra. A Bolsa de Buenos Aires anunciou queda na estimativa para a produção que passou de 16,5 para 15,2 milhões de toneladas para a safra 2022/23, refletindo o corte de 200 mil hectares de área cultivada, devido aos atrasos de plantio e estiagem.
No Brasil, a safra avança com cerca de 42% do trigo colhido no Paraná e 4% no Rio Grande do Sul, com clima e ritmo favorável, a expectativa de uma possível safra recorde se mantém.
O acompanhamento semanal da safra norte-americana indicou que 69% da safra de trigo de inverno foi semeada, avanço de 14 pontos percentuais em relação a semana anterior. A região sul das Planícies tem registrado chuvas que devem continuar nos próximos dias, o que beneficiará a umidade do solo durante o plantio dessas regiões.
Também divulgado pelo USDA, as vendas de trigo dos Estados Unidos ficaram abaixo do esperado, registrando no valor líquido semanal para a safra 2022/23 cerca de 163,1 mil toneladas, inferior até mesmo ao baixo volume já registrado na semana passada. Descontos nos preços FOB do Canadá e da Rússia tornam o trigo dos EUA pouco competitivo, dificultando maiores vendas.
O plantio de trigo soft está adiantado na França. Até o dia 17 de outubro, os produtores do país plantaram em 46% da área esperada, contra 21% uma semana antes e 36% na comparação com o ano passado. Os trabalhos no campo têm sido ajudados pelo clima ameno ao longo do outono europeu. Para a semana que se inicia nesta segunda-feira (24/10), as previsões mostram chuvas que podem atrapalhar o avanço do plantio, mas que devem melhorar a umidade do solo.
As exportações da União Europeia seguem bem superiores à média dos últimos três anos. Nas 16 semanas até aqui transcorridas no ano agrícola 2022/23, deixaram os portos do bloco econômico um total de 10,4 milhões de toneladas, contra 8,5 milhões na média dos últimos três anos. O número real de embarques deve ser ainda maior que isso, já que a UE não divulga todos os dados de exportação dentro do prazo. Entre os principais países de origem, destaque absoluto para a França (37,7%), seguida por Romênia (14,3%), Alemanha (11,1%), Polônia (9,2%), Letônia (8,4%) e Lituânia (8,1%). Outros exportadores somam 11,3%.
Quebra de safra no Marrocos está entre os principais responsáveis pelo crescimento das exportações europeias. Em 2022/23, a maior seca em décadas fez com que o país africano produzisse apenas 600 mil toneladas de trigo, valor 78% inferior ao registrado no ciclo passado. Com isso, os marroquinos já importaram 1,2 milhões de toneladas da União Europeia, suficiente para colocar o país como 2º principal parceiro comercial dos europeus. Neste período do ano passado, o Marrocos não tinha importado nenhuma tonelada de trigo da UE.
A consultoria Strategie Grains aumentou significativamente sua estimativa para as exportações de trigo da União Europeia (UE): de 28,7 milhões de toneladas para 31,0 milhões. Provavelmente, a empresa tomou essa decisão devido aos bons volumes de embarque postados neste início de ciclo 2022/23, acima destacados. Pelo mesmo motivo, o France Agri Mer aumentou marginalmente sua estimativa para as exportações da França, que passou de 10,0 milhões de toneladas para 10,1 milhões de toneladas.
Exportações russas aceleraram, mas seguem abaixo do volume registrado no ciclo passado. Segundo as últimas estimativas, 1,8 milhões de toneladas de trigo deixaram a Rússia ao longo de outubro, contra 1,7 milhões no mesmo mês do ano passado. Este volume animou os exportadores russos, mas ele representa apenas o primeiro mês de 2022/23 em que as exportações ultrapassam as registradas em 2021/22. Neste ritmo, dificilmente a Rússia alcançará volumes muito significativos de exportação, mesmo tendo colhido uma safra recorde. Lembrando que a Rússia não publica dados oficiais de exportação desde o início da guerra com a Ucrânia, sendo os números aqui divulgados estimativas de instituições privadas.
No momento, as exportações ucranianas de trigo totalizam 3,8 milhões de toneladas, volume que é 62% inferior ao registrado no ano passado. Esta forte queda, é claro, está relacionada com a guerra, fator que reduziu os campos agricultáveis, inflacionou preços, forçou a imigração de milhões, etc.
O Plantio da safra 2023/24 na Rússia é o mais lento dos últimos cinco anos, prejudicado por fortes e constantes volumes de chuva. Devido a isso, as últimas estimativas indicam que ⅓ da safra do país será plantada após o fechamento da janela ótima.
Na Ucrânia, o plantio também está sendo prejudicado por chuvas prolongadas. Até o momento, 2,4 milhões de hectares já foram plantados, área equivalente a 61,4% da área estimada.
A consultoria Sovecon divulgou que espera que a safra russa de trigo em 2023/24 fique na casa das 80 milhões de toneladas. Este valor está dentro da normalidade para o país eslavo, mas é significativamente inferior à safra recorde de 100,6 milhões de toneladas registrada agora em 2022/23. Entre os fatores responsáveis pelo recuo, a consultoria destaca a taxa que incide sobre as exportações, fator que afasta produtores. No momento, esta tarifa está em RUB 3.028,00/t, valor próximo a USD 50,00/t.
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