Resumo Semanal de Soja

Farelo de soja impulsiona cotação do grão em Chicago
 
Ana Luiza Lodi
 
com quebra na argentina, as preocupações com a oferta de farelo e óleo estão aumentando
 
fatores baixistas
  • Produção mundial 2022/23 estimada acima do consumo;
  • Combate à inflação pode gerar recessão;
  • Possibilidade de recorde absoluto de produção no Brasil;
  • Sinas de desaceleração econômica na China;
  • Corte do esmagamento dos EUA pelo USDA.
 
fatores altistas
  • Preocupações com o clima no Sul do Brasil;
  • Relaxamento das medidas anti Covid na China;
  • Perdas de safra na Argentina, devido ao clima;
  • Possibilidade de aumento da mistura obrigatória de biodiesel no Brasil, a partir de abril de 2023.

Na semana anterior, as cotações da soja em Chicago registraram tendência de queda na maior parte das sessões, mas os ganhos na sexta-feira (dia 10) garantiram a alta semanal. O vencimento para março encerrou o período em 1542,5 cents por bushel.

As preocupações com um acirramento das tensões políticas entre EUA e China trouxeram algum pessimismo para o mercado da soja, após os norte-americanos derrubarem o balão chinês que se encontrava em seu espaço aéreo. A China afirmou que a medida foi desproporcional, uma vez que o artefato seria para pesquisas civis, enquanto os EUA defenderam a possibilidade de espionagem.

O papel chinês nas importações mundiais de soja deixa o mercado da oleaginosa sujeito a ser utilizado como um instrumento em momentos de tensão política/econômica, como foi observado durante a guerra comercial entre EUA e China. Com isso, há sempre o temor de que atritos entre os dois países possam repercutir no mercado da soja. 

Intraday semanal - março/23 (CME)    

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Fonte: CME. Elaboração: StoneX.
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Fonte: CME. Elaboração: StoneX.

De qualquer maneira, destaca-se que as compras chinesas de soja norte-americana têm garantido um acumulado de vendas dos EUA mais adiantado na safra 22/23, em comparação ao ano anterior. Na semana encerrada em 02/02, as vendas líquidas de exportação de soja 22/23 dos EUA ficaram em 459,4 mil toneladas, volume dentro do intervalo das expectativas, entre 400 mil e 1 milhão de toneladas, mas bem perto do piso. Apesar do nível bem mais baixo que o registrado no mesmo período do ano passado, quando alcançou 1,6 milhão de toneladas, a China foi responsável pela compra de 520 mil toneladas na semana, mas houve cancelamentos líquidos de 390 mil toneladas, de destinos desconhecidos.

No acumulado da temporada, as vendas dos EUA alcançam 47,7 milhões de toneladas, contra 46,8 no ano passado. A China comprou 3,85 milhões à mais que nesse mesmo período do ano passado, enquanto as negociações com outros destinos estão 2,9 milhões mais fracas.
Outro ponto de destaque é que os embarques recuperaram os atrasos observados anteriormente. Na semana encerrada em 02/02, as inspeções de exportação do país alcançaram 1,8 milhão de toneladas, levando o acumulado, para 37,9 milhões, 200 mil toneladas acima do registrado um ano atrás.

Vendas semanais de exportação - EUA (mil toneladas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX.

Mesmo assim, em seu relatório mensal, o USDA optou por não ajustar as exportações norte-americanas do ciclo 22/23, mantidas em 54,2 milhões de toneladas, 4,5 milhões a menos que o registrado na safra 21/22. Essa não alteração pode indicar que o Departamento aposta em uma grande competição com a soja brasileira, com os embarques do Brasil podendo se estender até mais no final do segundo semestre, em volumes acima do que o usualmente é registrado, uma vez que a safra brasileira caminha para uma colheita recorde.

Por outro lado, o USDA cortou a estimativa de esmagamento 22/23 dos EUA para 60,69 milhões de toneladas, 408 mil toneladas a menos que o número anterior, ficando mais próxima à tendencia que os dados mensais têm trazido. Como não houve ajustes pelo lado da oferta, esse consumo doméstico menor de soja esperado para o país impactou diretamente os estoques finais, que subiram para 6,13 milhões.

Mas a grande expectativa para o relatório estava relacionada à safra da Argentina e o USDA trouxe uma redução de 4,5 milhões de toneladas na produção do país, que caiu para 41 milhões. Contudo, destaca-se que outras instituições estão revisando sus números, trazendo a perspectiva de produção argentina ainda mais para baixo. A Bolsa de Buenos Aires reduziu sua estimativa para 38 milhões de toneladas, enquanto a Bolsa de Rosário foi ainda mais agressiva, com seu número ficando em 34,5 milhões.

Com isso, as preocupações com o balanço de oferta e demanda mundial da oleaginosa e com a oferta dos subprodutos, uma vez que a Argentina é a maior exportadora de farelo e óleo, ganharam força.

O farelo de soja está sustentado na CBOT por causa das perspectivas de quebra no país e foi o que condicionou a alta da soja em grão na semana passada, com os avanços registrados na sexta-feira (dia 10). A Argentina direciona a maior parte de sua soja para esmagamento e com as perdas de safra, há especulações sobre o quanto o país conseguirá processar, principalmente se a produção ficar muito abaixo do potencial.

Diante desse cenário, já há rumores no mercado de que a Argentina comprou de 300 a 400 mil toneladas de soja brasileira para embarque em fevereiro-março e que 1 milhão de toneladas já foram vendidas para o nosso vizinho.

Além disso, algumas rotas atípicas estão sendo registradas, com a soja brasileira saindo de Portos do Arco Norte para a Argentina, como indicado pelos dados de lineup de navios. Destaca-se, ainda, que a soja do Brasil pode chegar à Argentina pelo rio Paraguai, embarcada em Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul), além da possibilidade de exportação via rodovias, dependendo das distâncias e custos de frete.

Dessa forma, mesmo o Brasil colhendo uma safra recorde, ressaltando que o USDA manteve sua estimativa para a produção brasileira em 153 milhões de toneladas, o clima nas próximas semanas e meses será determinante para definir se o balanço mundial de soja caminhará para uma situação de restrição. É importante destacar que a safra do Rio Grande do Sul também está com parte das lavouras em períodos chave, em que a umidade é fundamental.

 
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