Os receios de um Federal Reserve contracionista pesaram sobre Wall Street esta manhã, à medida que nos aproximamos de um fim de semana prolongado. Os mercados dos EUA fecharão para o Dia do Presidente na segunda-feira. Os traders estão cautelosos em entrar no fim de semana com muita propriedade nas ações após a inflação mais quente esta semana e os dados de vendas no varejo. Os receios de recessão tem vindo à tona mais uma vez, com os títulos do Tesouro atingindo novas máximas de três meses. O índice de volatilidade VIX negocia perto dos 21 pontos esta manhã, refletindo um aumento modesto da ansiedade em Wall Street, enquanto o dollar index negocia em máximas de seis semanas perto dos 104.3 pontos. Os títulos de 10 anos do Tesouro negociam próximos a 3,89%, enquanto os de 2 anos negociam próximos a 4,67%. Os preços do petróleo negociam em queda de 4% em razão dos temores de recessão, mas os mercados de grãos e oleaginosas negociaram entre mistos e em alta, uma vez que se mantiveram firmes, apesar do forte dólar e dos crescentes temores de recessão.
Os dados desta semana enviaram uma mensagem clara a Wall Street – o Fed tem mais trabalho a fazer para reduzir a inflação até sua meta de 2%. A inflação no setor dos serviços, que é fortemente dependente da mão-de-obra, mantém-se forte e tende a aumentar. A inflação das commodities também tem retornado. Critiquei o Fed por estar por ter demorado a agir, mas aplaudo a sua tenacidade até agora em manter seu curso. De fato, pode-se argumentar que deveria ter aumentado sua taxa de referência em mais 50 pontos-base em vez de 25 em sua última reunião, que é o que dois membros do FOMC argumentaram que deveria fazer.
Será que o problema dos Estados Unidos é que ainda há muito estímulo na economia, criando uma demanda forte que excede a oferta de bens, serviços e recursos humanos, ou estamos simplesmente viciados em gastos? Antes da pandemia, o país era uma economia voltada para serviços, mas isso mudou quando nos disseram para ficar em casa enquanto descobríamos os riscos da Covid-19 na primavera de 2020. Sentados em casa, cheios de medo do desconhecido, os norte-americanos perceberam que tinham cheques de estímulo do governo em suas contas, podendo comprar mais, redescobrindo o vício em compras online, mudando para uma economia voltada para os bens. Contudo, o setor dos serviços tem se recuperado.
O estímulo permanece na economia, apoiando esses gastos, mas também é possível observar um aumento do uso do crédito para alimentar o novo hábito desenvolvido. A dívida do consumidor em todas as categorias agora totaliza um recorde de USD 16,9 trilhões, um aumento de USD 1,3 trilhão no ano. Esse aumento da utilização do crédito surge à medida que as taxas de juros aumentam rapidamente, diminuindo a capacidade de pagamento. Os líderes eleitos sabem que a população quer comprar e, portanto, se comprometem a nos dar mais dessas coisas desejadas por pouco ou nenhum custo, levando a dívida pública nacional a novos recordes e ameaçando a capacidade da nação de pagar suas contas. A despesa anual de juros sobre a dívida nacional de USD 31,6 trilhões é de USD 533 bilhões, e tem aumentado rapidamente à medida que as taxas aumentam. O Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA alertou esta semana que o país está no caminho para emprestar mais USD 19 trilhões nos próximos 10 anos. Encontrar compradores dos certificados de dívida necessários para financiar esses gastos exigirá taxas de juros mais altas, além do que o Federal Reserve tem feito. A falta de compradores suficientes provavelmente exigirá que o Federal Reserve precise novamente aumentar sua flexibilização quantitativa – imprimir dinheiro para comprar a própria dívida – o que é outra maneira de dizer que o país monetizará a dívida. O Fed já detém um quarto da dívida nacional por fazer exatamente isso. Isso aumenta a oferta monetária, que é inflacionária. Este não é um problema político. É um problema cultural. Os EUA foi construído com base no trabalho árduo e na convicção de que fazer a coisa certa pagaria recompensas a longo prazo. O país se tornou uma sociedade que tudo no curto prazo, deixando para se preocupar em pagar por isso mais tarde. Mas o país será capaze de pagar esta conta?
Os riscos do Mar Negro continuam a aumentar, com um diplomata russo sugerindo que o seu país pode estar perto da guerra com os Estados Unidos. É o dia 360 da guerra, com todas as indicações de que a Rússia pretende usar o que for necessário no conflito para certificar sua vitória, e o Ocidente oferece cada vez mais um espectro mais amplo de assistência para garantir que a Rússia não vença. Esta é uma área do mundo rica em commodities, incluindo trigo, milho, petróleo, gás natural, fertilizantes e muitos outros produtos necessários para manter o mundo em movimento. Uma nova escalada deste conflito inclui o risco de que a circulação dessas commodities para fora desta região seja ainda mais reduzida. Há um ano, os mercados criaram um grande prêmio para dar conta desse risco, mas a maior parte desse prêmio desapareceu sob o receio de uma recessão econômica nos últimos seis a nove meses. Mas o risco continua a existir – talvez hoje maior do que há um ano. Importante monitorar a região.
Relatos nas redes sociais indicam que houve geadas generalizadas na Argentina na noite passada, além dos problemas de seca, mas uma análise dos dados mostra que não é o caso. A geada foi bastante isolada onde ocorreu. As safras de milho e soja da Argentina continuam diminuindo, mas os resultados da colheita no Brasil sugerem que o país tem colhido uma safra muito grande de soja e uma safra decente de milho verão. Rendimentos muito bons no Norte são mais do que compensadores de perdas em áreas mais secas do Sul do Brasil. O armazenamento é escasso e empurra mais soja para o mercado à medida que o ritmo de colheita aumenta. A soja tem sido direcionada para a China e também para o sul, para as esmagadoras argentinas. Os fatores acima foram ofuscados esta semana pelos receios macroeconômicos mais amplos de recessão, levando a um mercado mais fraco e agitado.
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