Especial | USDA - agosto | Soja, Milho, Trigo e Algodão

 

Especial | USDA - agosto | Soja, Milho, Trigo e Algodão
 
Ana Luiza Lodi
Especialista de Inteligência de Mercado
João Pedro Lopes
Analista de Inteligência de Mercado
Nuria Brito
Analista de Inteligência de Mercado
Thaís Monello
Estagiária de Inteligência de Mercado
Relatório de oferta e demanda do USDA em agosto confirmou expectativas, com ajustes de produtividade para as safras nos EUA.
SOJA

O relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado na sexta-feira (dia 11), era muito aguardado por causa dos ajustes de produtividade nos EUA.

As expectativas foram confirmadas, com o rendimento da safra norte-americana passando de 3,5 para 3,42 toneladas por hectare, e a produção caindo para 114,4 milhões de toneladas, em decorrência, principalmente, das ondas de calor e das chuvas abaixo do usual no noroeste do cinturão em julho. Com essa oferta menor, os estoques caíram para 6,67 milhões de toneladas, mesmo com o USDA tendo ajustado para cima as importações das safras 2022/23 e 2023/24.

Pelo lado da demanda, o Departamento trouxe mais um corte na estimativa de exportações dos EUA para o ciclo 2023/24, que caiu abaixo das 50 milhões de toneladas. Entretanto, como ainda é cedo, esse corte teve mais o objetivo de equilibrar o balanço de oferta e demanda, após a divulgação ter confirmado um recuo da safra norte-americana.

Mesmo assim, destaca-se que os preços em Chicago terminaram o dia em baixa após o relatório, uma vez que as perspectivas para o balanço de oferta e demanda mundial ainda indicam uma produção quase 20 milhões de toneladas acima do consumo.

Apesar de o plantio não ter começado na América do Sul, as estimativas apontam para um novo recorde de produção no Brasil, com a estimativa do USDA em 163 milhões de toneladas. Além disso, a Argentina deve voltar a registrar volumes de produção dentro da normalidade, após a quebra expressiva no ciclo 2022/23. O USDA estima a produção argentina em 2023/24 em 48 milhões de toneladas.

No caso da China, o Departamento elevou a estimativa de importações do país na safra 2022/23 para 100 milhões de toneladas, enquanto manteve as perspectivas para o ciclo 2023/24 em 99 milhões de toneladas, indicando um recuo anual das compras internacionais chinesas. Esse leve recuo nas importações chinesas, juntamente com o recorde de produção no Brasil e a recuperação na Argentina, explica a maior folga esperada no balanço mundial da oleaginosa, que tem limitado os movimentos de alta dos preços.

Mundo | Produção e Consumo (milhões de toneladas)
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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. *Estimado.
MILHO

Em relação ao mercado de milho, o relatório de O&D de agosto era bastante esperado pelo mercado, visto que se apostava em alguma redução na produção norte-americana de milho em função do clima menos úmido que o esperado em julho em parte do Meio Oeste dos EUA. As expectativas eram de que o rendimento recuasse de 11,14 ton/ha para 11,02 ton/ha, resultando em uma queda na produção, de 389,1 para 384,44 milhões de toneladas. O corte oficial do Departamento foi até ligeiramente mais forte que a média das estimativas, com o rendimento passando para 10,99 ton/ha e a produção para 383,8 milhões, mas não causou grandes surpresas.

Ainda sobre o balanço norte-americano, vale destacar que os estoques finais em 2022/23 avançaram 1,4 milhão de toneladas, para 37 milhões, resultado de uma queda na demanda pelo milho dos EUA, em especial por exportações. Além dos estoques de passagem maiores, a redução na produção em 2023/24 foi também parcialmente compensada pelos recuos no consumo doméstico e nas exportações referentes à safra 2023/24. Com isso, os estoques finais norte-americanos da próxima safra recuaram para 55,9 milhões de toneladas, ficando levemente acima da média das estimativas do mercado, de 55,07 milhões.

Em relação aos demais players, é interessante ressaltar que em função da umidade excessiva, o USDA reduziu sua estimativa de produção da safra 2023/24 da China, de 280 para 277 milhões de toneladas, sendo que novos cortes não estão descartados. Modelos apontam que um elevado volume de chuvas deve seguir ocorrendo no nordeste da China, o que pode prejudicar o desenvolvimento do cereal e elevar a vulnerabilidade a pestes e doenças.

Outro player a que recebeu revisões relevantes foi a União Europeia. Em função das altas temperaturas enfrentadas pelo bloco, o Departamento reduziu a produção referente à safra 2023/24 em 5,8%, para 59,7 milhões e toneladas. Contudo, esta redução não foi acompanhada por um aumento das importações, visto que o consumo doméstico da UE foi reduzido em 3,2%, para 79,5 milhões de toneladas. Com isso, mesmo com a menor produção, que poderia ter sido um fator de suporte nos últimos dias, o foco do mercado se direcionou para a menor demanda europeia.

Produção de milho nos EUA (milhões de toneladas)
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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. *Estimado.
TRIGO

Para o mercado de trigo, o relatório divulgado pelo USDA reforçou a pressão sobre os preços nas bolsas dos EUA, dada a perspectiva de redução das exportações norte-americanas 2023/24 e ampliação dos estoques finais. Por outro lado, vale destacar a queda na estimativa de produção para vários players importantes.

As exportações de trigo dos EUA foram cortadas em 3,4%, passando para 19,05 milhões de toneladas na safra 2023/24. O USDA atribui esta variação às vendas fracas e ao ritmo lento de embarque do trigo vermelho duro de inverno. Com isso, os estoques finais subiram 3,9% em relação à estimativa anterior, alcançando 16,74 milhões de toneladas. Mesmo assim, esse volume está abaixo da média de cinco anos.

Ainda sobre o mercado norte-americano, espera-se a redução da produção e do consumo doméstico do país. Os rendimentos do trigo foram ajustados marginalmente, passando de 3,10 para 3,08 ton/ha, com a produção total ficando em 47,2 milhões de toneladas, recuo 140 mil toneladas. Quanto ao consumo, a queda é de 0,2% em relação à safra anterior, alcançando 30,73 milhões de toneladas.

Para o balanço de oferta e demanda global 2023/24, houve um ajuste negativo de produção, acompanhando a queda também no consumo. A produção ficou em 793,4 milhões de toneladas, devido às reduções registradas principalmente na União Europeia, China e Canadá, apenas parcialmente compensadas por aumentos na Ucrânia e Cazaquistão.

A UE sofreu redução na produção de 3 milhões de toneladas, com ajustes especialmente na Espanha, Lituânia e Romênia. O maior país produtor, a China, também registrou um recuo de 3 milhões de toneladas, passando para 137 milhões. No Canadá, o corte foi de 2 milhões de toneladas, devido ao agravamento das condições de seca nas lavouras. Com cenário mais favorável, a estimativa da Ucrânia aumentou em 3,5 milhões de toneladas, graças a uma perspectiva de maior área colhida e rendimentos. Por fim, no Cazaquistão o aumento foi 1 milhão de toneladas.

Pelo lado da demanda, o consumo global foi reduzido em 3,4 milhões de toneladas, ponderando uma perspectiva de menor consumo para a UE e China. Destaca-se também o menor fluxo de exportações do Canadá, além do já mencionado Estados Unidos. Apesar da maior produção estimada, as exportações da Ucrânia permanecem inalteradas em 10,5 milhões de toneladas com o encerramento da Iniciativa de Grãos. Os estoques finais globais projetados para 2023/24 foram reduzidos em 900 mil toneladas, passando para 265,6 milhões, o menor volume registrado desde 2015/16.

Produção de trigo (milhões de toneladas)
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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX.
ALGODÃO

O WASDE de agosto trouxe revisões recebidas com otimismo pelas cotações da pluma, fazendo com que o contrato com vencimento em dezembro/23 exibisse ganhos de 268 pontos em sua máxima diária, além de ter encerrado a sexta-feira (11) com o segundo maior fechamento do ano, cotado a US¢ 87,89/lp. Isso porque as novas projeções mostram números globais mais favoráveis em relação ao relatório do mês passado e, principalmente, mostram que a oferta estadunidense pode ser mais limitada do que se esperava.

Analisando o lado da demanda, o WASDE aumentou os números tanto para o consumo global 2022/23, como também para o consumo global 2023/24, os quais são projetados em, respectivamente, 24,05 milhões de toneladas e 25,46 milhões de toneladas (um aumento de 5,8% entre as safras). A principal responsável pelo incremento no ciclo 2023/24 é a China, com um aumento de 110 mil toneladas em seu consumo doméstico, que pode totalizar 8,16 milhões de toneladas – cerca de 1,4% maior em comparação a 2022/23. Além disso, o aumento no consumo da Turquia foi uma surpresa bem recebida. No entanto, o reporte não trouxe alterações relevantes para outros players importadores.

Pelo lado da oferta, estima-se que a produção global da nova safra seja 3,5% menor em relação à produção da safra anterior – 24,85 milhões de toneladas contra 25,75 milhões. O principal motivo para a diminuição do volume produzido, como também o principal fator repercutido durante a sessão, foi o corte de 540 mil na produção dos EUA 2023/24, comparado ao reporte de julho, podendo ficar em 3,05 milhões de toneladas. Com isso, o órgão projeta que a nova safra estadunidense pode ser menor comparada ao ciclo passado (3,15 milhões de toneladas), bem como menor desde o ciclo 2015/16, quando foram produzidas 2,81 milhões de toneladas.

Esses ajustes não foram uma grande surpresa, após o estado do Texas, principal produtor do país, apresentar um clima quente e seco nas últimas semanas. Tal contexto aumentou as especulações em torno da nova safra enfrentar dificuldades em seu desenvolvimento e, consequentemente, ser menor em relação ao estimado anteriormente. No entanto, o corte significativo realizado pelo relatório de agosto para o ciclo norte-americano trouxe uma certa surpresa para os agentes devido ao seu tamanho.

Segundo o USDA, o rendimento nacional 6,2% inferior em relação ao estimado em julho e, acompanhado por uma maior taxa de abandono, explicaria as revisões do órgão para a safra norte-americana. Ainda assim, dado o início recente da colheita nos EUA, o mercado do algodão entende que o Departamento pode realizar novas alterações no próximo relatório, em setembro, principalmente considerando o corte na produção também realizado nas estimativas de agosto de 2022, que influenciou os ajustes graduais nos meses seguintes para a safra 2022/23.

EUA | Produção (em milhões de toneladas)
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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. *Estimado.
 
Tags relacionadas: Grãos e Oleaginosas

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