Resumo Semanal de Milho

Milho valorizou em Chicago na esteira do trigo, problemas de safra na América do Sul, entre outros fatores
 
Felipe Sawaia
Analista de Inteligência de Mercado
Entretanto, apesar dos fundamentos de alta estarem ganhado força, balanço global entre oferta e demanda segue baixista
Fatores baixistas
  • Perspectiva de estoques elevados ao final do ano safra 23/24;
  • Possibilidade do USDA ter superestimado redução da área de plantio de milho nos EUA;
  • Exportações norte-americanas 23/24 estão abaixo da média dos últimos cinco anos.
Fatores altistas
  • USDA projeta redução da área plantada de milho nos EUA em 24/25;
  • Disseminação da cigarrinha está impactando o potencial produtivo da Argentina;
  • Clima seco no Brasil podendo impactar produtividade da safrinha.

Panorama geral

Na semana passada, os futuros do milho negociados na bolsa de Chicago atuaram em alta. O contrato com vencimento em maio encerrou o período cotado a 440 cents/bu, valorização de 1,5% na comparação semanal.

Os ganhos ao longo da semana não foram resultado de um único grande evento, e sim de uma série de pequenos fatores altistas. Um deles foi a valorização significativa dos futuros do trigo, movimento que acabou dando suporte para o restante das commodities agrícolas. Os ganhos estiveram atrelados ao clima seco nas planícies dos Estados Unidos e no sul da Rússia, duas regiões importantíssimas para a oferta global de trigo.

Outro fator que ajudou a impulsionar as cotações do milho foram problemas na safra da América do Sul. Na Argentina, começou a ganhar mais atenção a disseminação da cigarrinha, com investidores agora atentos à possibilidade de impactos significativos sobre a oferta. Já no Brasil, tivemos uma semana de pouquíssima chuva nas áreas de produção de safrinha, sinal de que o país está entrando no período de seca. 

Por fim, os riscos geopolíticos e as vendas de exportação aquecidas nos Estados Unidos também foram fatores altistas que ajudaram a impulsionar as cotações.

Analisando o mercado de milho em uma perspectiva mais ampla, os fundamentos de oferta e demanda ainda são majoritariamente baixistas. Os Estados Unidos começarão o ciclo 24/25 com estoques bastante elevados, as estimativas para as safras brasileira e argentina ainda são satisfatórias e a desaceleração do crescimento econômico deve limitar a demanda.

Entretanto, surgiram fatores de preocupação suficientes para que aqueles que estão apostando fortemente na baixa se sintam menos confortáveis. Os destaques ficam por conta dos problemas enfrentados pelos agricultores da América do Sul e as incertezas quanto à safra dos Estados Unidos, que acabou de começar a ser plantada. Neste cenário, temos o milho sendo negociado de forma lateralizada na bolsa de Chicago desde o início de março, com os investidores adotando uma postura mais cautelosa.

Para as próximas semanas, a atenção fica por conta de novas estimativas para a safra do Brasil, avanço do plantio nos Estados Unidos e desenvolvimento da cigarrinha na Argentina. A StoneX divulgará sua nova estimativa para o Brasil no dia 2 de maio e um estudo sobre a cigarrinha na Argentina ainda hoje, dia 29 de abril.

Intraday (15 min) contrato de maio/24 - CBOT

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX.

Estados Unidos

Há indícios de que o USDA subestimou a área de plantio de milho nos Estados Unidos – Para o ciclo 24/25, o relatório de intenção de plantio do USDA indiciou que o milho perderá área nos Estados Unidos em detrimento da soja: nos últimos 12 meses o milho desvalorizou mais que a soja, tornando a oleaginosa mais atraente. Existe um consenso em torno desta análise, mas não em torno da intensidade dessa mudança de área. O USDA, por exemplo, estima a área de milho em 36,44 milhões de hectares em 24/25, recuo de 1,84 milhão de hectares; e a área de soja em 35,01 milhões de hectares, aumento de 1,18 milhão de hectares. Existem analistas, entretanto, que discordam desta estimativa, inclusive a equipe de Inteligência de Mercado da StoneX nos Estados Unidos. Eles acreditam que o USDA superestimou a perda do milho no núcleo do cinturão agrícola e por isso estimam a área de plantio de milho em 37,27 milhões de hectares. Caso confirmada, essa correção seria um fator de baixa para o milho.

Plantio nos Estados Unidos está avançando conforme a normalidade – No dia 21 de abril, o USDA estima que o plantio do milho nos Estados Unidos havia alcançado 12%. O percentual está em linha com o registrado no ano passado e 2 pontos percentuais acima da média dos últimos cinco anos. Hoje (29), às 17h, serão divulgados os dados referentes ao dia 28.

Diminuiu a produção do setor de etanol de milho – Na 3ª feira (23), o EIA divulgou os dados de produção e estoque de etanol de milho nos Estados Unidos referentes à semana encerrada dia 19 de abril. Os dados ficaram aquém do esperado, com os 954 mil barris/dia representando uma diminuição da produção na comparação com o mesmo período de 2023. Com o recuo na produção, os estoques ficaram em 25,73 milhões de barris, uma diminuição semanal de 347 mil barris. Numa perspectiva mais ampla, entretanto, vale apontar que o ano de 2024 tem sido positivo para a produção de etanol de milho. Das 16 divulgações já feitas em 2024, a produção superou a de 2023 em 13 delas.

Vendas de exportação de milho nos Estados Unidos na semana estavam aquecidas – Na 5ª feira, o USDA divulgou os dados de vendas de exportação nos Estados Unidos para a semana encerrada dia 18 de abril. Para o milho, o relatório mostrou saldo positivo de 1,299 milhão de toneladas, quando a média dos últimos três anos para o período foi de apenas 526 mil toneladas. Com isso, o total das vendas de exportação no ano 23/24 ficou em 45,92 milhões de toneladas, volume superior ao registrado no mesmo período no ciclo 22/23, mas inferior aos registrados nos ciclos 21/22 e 20/21.

Muitos fundos abandonaram suas posições vendidas – Incertezas quanto a safra dos Estados Unidos, redução das chuvas no Brasil, cigarrinha na Argentina, além de fatores mais pontuais como valorização do trigo, vendas semanas de exportação aquecidas e riscos geopolíticos levaram muitos fundos a abandonar suas posições vendidas no mercado de milho nesta última semana, optando pela adoção de uma postura mais cautelosa. A divulgação de sexta-feira (26) do CFTC mostrou que o saldo vendido dos fundos diminuiu em 41 mil contratos.

 Vendas de exportação dos Estados Unidos (mil toneladas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX.

Brasil

Milho desvalorizou na B3, acompanhando a movimentação do dólar - Como a relação dólar/real é determinante para a competitividade das exportações brasileiras, flutuações expressivas no câmbio acabam impactando a precificação do milho. Devido a isso, dólar e milho têm andado junto na B3 nas últimas três semanas: entre os dias 10 e 16 de abril, riscos fiscais no Brasil, indício de juros altos nos Estados Unidos por mais tempo e acirramento das tensões geopolíticas fizeram o dólar e, consequentemente, o milho valorizarem; já entre os dias 17 e 26, os indícios de esfriamento da atividade econômica nos Estados Unidos e a diminuição das tensões no Oriente Médio fizeram o dólar recuar, puxando o milho junto. No encerramento da semana passada, o milho com vencimento em maio ficou cotado a R$ 56,94/sc, desvalorização semanal de 1,7%; enquanto o dólar ficou cotado a R$ 5,11, desvalorização semanal de 1,9%.

StoneX atualizará sua estimativa de safra no dia 2 de maio – Em estimativa divulgada no 1º dia de abril, a StoneX estimou a produção brasileira de milho 2ª safra em 96,3 milhões de toneladas. A atualização dessa estimativa será divulgada dia 2 de maio, com correções na produção não estando descartadas, já que Paraná e Mato Grosso do Sul sofreram com seca na primeira metade de abril e Goiás teve o mesmo problema na segunda metade.

Modelos climáticos indicam pouquíssima chuva nas próximas duas semanas - Na última estimativa de safra feita pela StoneX, Mato Grosso, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul eram responsáveis por 88% da produção de milho safrinha no Brasil em 23/24. Na semana passada, indicadores climáticos mostraram chuvas apenas no Mato Grosso, com o acumulado de chuva no restante dos estados mencionados ficando próximo a 0 milímetros. Para as próximas duas semanas, os modelos climáticos mostram que a seca alcançará também o Mato Grosso. Nesse sentido, temos que o período seco chegou nas principais regiões brasileiras produtoras de milho safrinha. A StoneX seguirá acompanhando o impacto disso sobre a produtividade das lavouras.

Intraday (15 min) contrato de maio/24 - B3

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Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

Argentina

Disseminação da cigarrinha limita o potencial de safra da Argentina – Na semana passada, a Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA) manteve sua estimativa para a safra argentina de milho em 49,5 milhões de toneladas. Entretanto, a instituição seguiu fazendo alertas para os problemas trazidos pela cigarrinha, que já afetou toda a porção norte da região agrícola argentina e tem o potencial de gerar quebras ainda mais significativas. Vale lembrar que um mês atrás a BCBA estimava a safra da Argentina em 56,5 milhões de toneladas. Para mais detalhes, leia a matéria elaborada pela StoneX.

Colheita do milho atinge 19,8% - Na última semana, a colheita na Argentina avançou apenas 2,6 pontos percentuais, atingindo 19,8%. Esse percentual está acima do registrado no ano passado, mas abaixo da média dos últimos cinco anos para o período. Vale lembrar que algo entre 65% e 75% do milho é plantado na Argentina tardiamente (entre dezembro e janeiro), fazendo com que a colheita também só ganhe ritmo a partir de meados de maio. Nesse sentido, ainda temos grande parte das lavouras sujeitas a doenças causadas pela cigarrinha.

Greves na Argentina podem afetar exportações - O Sindicato dos Trabalhadores e Empregados de Óleos (SOEA) de San Lorenzo, um dos maiores portos agroexportadores da Argentina, anunciou um greve indefinida contra as reformas do governo de Javier Milei.  Sindicato do Pessoal Embarcado de Dragagem e Balizamento (Dragybal) e os trabalhadores estatais responsáveis pela qualidade sanitária dos alimentos (Senasa) anunciaram greves similares. Todos esses fatores devem impactar as exportações argentinas dos complexos de soja e grãos.


Preços futuros e físicos

 

Contratos futuros negociados na CBOT (US¢/bu)

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Fonte: CME. Elaboração: StoneX.
 

Contratos futuros negociados na B3 (R$/sc)

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Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

Preços fisicos no Brasil (R$/sc)

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Fonte: StoneX.

AGENDA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Tags relacionadas: Grãos e Oleaginosas

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