Resumo Semanal de Milho

Milho tem semana de sustentadas altas
 
Raphael Bulascoschi
Analista de Inteligência de Mercado
Teses baixistas se enfraquecem e cobertura de posições sustenta correções para cima no mercado de grãos 
  • Fatores baixistas
  • Perspectiva de estoques elevados ao final dos anos safra 23/24 e 24/25;
  • Colheita de safra forte nos EUA prossegue;
  • Diferencial de juros traz valorização do Real, podendo pressionar milho B3.
  • Fatores altistas
  • Clima seco no Brasil deve atrasar plantio da soja primeira safra, o que pode impactar o plantio da safrinha;
  • Ciclo de corte de juros nos EUA deve trazer fortalecimento da demando no médio prazo;
  • Cobertura de posições vendidas;
  • Estímulos econômicos na China.

Síntese semanal | Os futuros do milho voltaram a se valorizar na última semana, quando o vencimento de dezembro encerrou negociado a US¢418/bu, valorização de 4,0%. As teses baixistas para o mercado de commodities vêm se enfraquecendo nos últimos dias conforme o contexto internacional de conflitos geopolíticos, estímulos monetários na China, incerteza climática e corte de juros nos EUA vieram guiando commodities para um caminho de alta, o que acaba se traduzindo também na posição dos fundos, que estão cada vez menos vendidos no mercado de grãos.  

Intraday (15 min) contrato de dezembro/24 - CBOT

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Fonte: CBOT. Elaboração: StoneX.

Pacotes de Estímulos - China | Na última terça-feira (24/set), o governo chinês anunciou um pacote de medidas visando estimular a atividade econômica no país, a fim de que seja cumprida a meta de crescimento de 5%. Em primeiro lugar, a autoridade monetária do país diminuiu os depósitos compulsórios dos bancos, o que aumenta o espaço para essas instituições praticarem sua política de crédito. Além disso, também houve corte na taxa de juros para compromissos de recompra, bem como na taxa de juros média para hipotecas. Também foram introduzidas ferramentas – programa de swap e empréstimos - financeiras para injetar dinheiro no mercado de capitais, o que se traduziu na valorização substancial dos principais índices acionários da Ásia. Deixando o “economês” de lado, o pacote de estímulos se tratou de medidas, principalmente na frente da política monetária, para incentivar o consumo e a demanda doméstica, a fim de melhorar as perspectivas de crescimento para o país. 

No dia seguinte a esse pacote de medidas, o Banco do Povo da China fez um novo anúncio, reduzindo a taxa de empréstimos de médio prazo. Na quinta-feira, Reuters e Bloomberg divulgaram que o Ministério das Finanças da China deve emitir títulos de dívida soberana de 2 trilhões de yuans (US$ 283,43 bilhões), com expectativas de estímulos fiscais sendo anunciados ao longo dos próximos dias. 

Toda essa sequência de medidas do governo chinês, entregando uma política monetária mais expansionista, fazem sentido se olharmos para o contexto em que se encontra a economia do país. A meta oficial é que o gigante asiático cresça 5% em 2024. No entanto, analistas são praticamente uníssonos em afirmar que o país deve crescer menos neste ano. Com o início do ciclo de corte de juros nos EUA na semana passada, além da perspectiva de continuidade de cortes (espera-se que o ano termine com juros de 4%-4,25% de acordo com a FedWatch Toll, da CME), a autoridade monetária chinesa tem mais espaço para praticar uma política monetária mais adequada para atingir a meta de crescimento do país com impactos cambiais mais amortecidos. Ainda assim, é comumente falado que, a fim de estimular efetivamente a economia chinesa, as políticas econômicas também devem vir na frente fiscal, não apenas monetária, o que ficará no radar do mercado ao longo dos próximos dias. De qualquer maneira, a sinalização do governo chinês de que está comprometido em ser mais ativo na política econômica para incentivar o crescimento do país já serviu para dar força para ativos de risco e commodities, além de enfraquecer o dólar. 

Olhando especificamente para o milho, um fortalecimento da demanda interna na China poderia fortalecer o apetite importador do país, que em agosto, por exemplo, importou o menor volume de milho desde 2019 para o mês. No entanto, esse efeito só deverá ser sentido se as medidas do governo tiverem um efeito na renda real dos chineses, o que, se acontecer, ainda deverá demorar alguns meses. 

Greves portuárias - EUA | Nos EUA, as preocupações com a iminente greve dos estivadores nos portos da costa leste vêm aumentando. Por mais que os impactos diretos sobre as exportações de grãos seja menor, uma vez que não é feito através de contêineres, os impactos econômicos serão sentidos ao longo de toda a economia, principalmente pensando que a greve pode custar à economia dos EUA US$ 5 bilhões por dia. O sindicato dos estivadores dos portos da costa leste reivindica um reajuste salarial de 77% ao longo de seis anos. 

As autoridades políticas enfrentam algum receio em tomar medidas drásticas em meio ao cenário eleitoral apertado que vem se desenhando no país. O presidente dos EUA, Joe Biden, indicou que não intervirá. Ainda assim, a seis semanas de uma eleição presidencial, os impactos econômicos da greve podem munir o partido republicano de armas para atacar a abordagem democrata na economia, o que seria indesejável para o presidente.  

Se não for encontrado um consenso até hoje (30/set), a greve começará amanhã (01/out), o que fará com que o senso de urgência da política norte-americana busque resoluções céleres para a questão, o que seguirá sendo monitorado.  

Demanda | Na semana passada, a EIA apontou para o menor volume semanal de produção semanal de etanol nos EUA desde maio. Por mais que uma queda de volume nessa época do ano esteja em linha com o movimento visto nos últimos anos, foi a primeira vez neste semestre que o volume semanal esteve abaixo do observado em 2023 para as mesmas semanas de referência. Além disso, os dados de vendas de exportação dos EUA também foram pouco animadores, ficando abaixo do piso das estimativas ao ser totalizado em 535 mil toneladas para a safra atual. Ainda assim, os embarques vieram em alta.  

EUA | Produção semanal de Etanol (mil barris/dia)
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Fonte: EIA. Elaboração:: StoneX

 

Posições dos Fundos | O relatório de posições dos agentes na CBOT apontou para mais uma diminuição da posição líquida vendida dos fundos especulativos, que diminuíram sua estão agora liquidamente vendidos em cerca de 130,7 mil contratos (-4,1 mil no comparativo semanal). Os fundos vêm diminuindo sua posição vendida no mercado de commodities nas últimas semanas, conforme teses baixistas vêm perdendo força. Mantido esse movimento, novas coberturas de posições podem seguir entregando altas para o milho. No entanto, tudo isso dependerá de uma série de fatores, como capacidade dos EUA de exportar seus grãos, fortalecimento da economia chinesa frente aos estímulos monetários, incerteza climática na América do Sul e continuidade do ciclo de corte de juros nos EUA. 

B3, Câmbio e Clima | No Brasil, os futuros do milho negociados na B3 também registraram altas, embora em menor magnitude, com o novembro/24 sendo negociado a R$68,70/sc no encerramento da última sexta-feira, valorização semanal de 1,3%. Adicionalmente, os preços físicos também vieram registrando altas na semana passada. 

Intraday (15 min) contrato de novembro/24 - B3

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Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

Por aqui, o clima seco continua a ser acompanhado pelo mercado. Se é verdade que existe a expectativa de que haja um ligeiro atraso no plantio da primeira safra no Brasil, conforme vem sendo extensivamente abordado por comentadores do agro, também é fato que uma presença maior de chuvas ao longo das próximas duas semanas no centro-oeste brasileiro deve entregar uma aceleração do plantio nessas regiões. De acordo com o último relatório de acompanhamento de safra da StoneX, o plantio do milho primeira safra está, aliás, mais acelerado frente ao visto no ano passado (28,1% contra 25,3%), puxado por estados do sul, que estão mais úmidos do que o centro-oeste. A soja segue levemente atrasada.  

 

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Do lado do câmbio, a semana foi de poucas movimentações, com um fortalecimento do Real frente à expectativa de ampliação do diferencial de juros após dados de inflação dos EUA apontarem para preços mais controlados. Além disso, os pacotes de estímulos econômicos na China fortaleceram ativos arriscados, como a moeda brasileira.  

Próximos dias | O mercado seguirá atento às expectativas quanto ao clima no Brasil. Além disso também deverá ser mantida alguma atenção a um volume maior de precipitação no leste dos EUA após o furacão Helene atingir o sudeste do país, o que pode atrasar os trabalhos no campo nos próximos dias. Além disso, na sexta-feira, serão conhecidos os novos dados mensais para o mercado de trabalho nos EUA, que podem dar indícios mais claros acerca do caminho de cortes de juros que será percorrido pelo Fed nas próximas reuniões, o que pode entregar alguma volatilidade no mercado. Hoje, às 13h (horário de Brasília) também serão conhecidos os dados de posições dos estoques da safra 2023/24 de milho.

  • Perspectivas | Etanol na Índia

  • Na semana passada, a StoneX divulgou um estudo para seus assinantes dando um panorama do mercado de etanol na Índia, bem como tratando as políticas de mistura do país, o papel de diversas matérias primas, como milho, arroz e melaço de cana e as perspectivas para a produção do combustível nos próximos anos.  

    A matéria completa pode ser acessada clicando aqui

    Desde a safra 2021/22, o governo indiano vem flexibilizando o uso de grãos –principalmente arroz e milho – para sustentar uma produção doméstica de etanol compatível com a sua meta de mistura. Com isso, o consumo doméstico de milho no país veio crescendo, o que fez com que na safra 2023/24 o país tivesse que entrar como um importador no mercado de milho, tendo que internalizar na safra um volume maior do que havia importado no acumulado dos sete anos anteriores. Para a safra 2024/25, o USDA espera que o país tenha o segundo maior volume de importações da série histórica. 

  • Produção de etanol (bilhões de litros) e mistura na gasolina (%)

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  • *Entre nov/23 e jul/24. Fontes: Governo da Índia, Chini Mandi. Elaboração: StoneX. DFG corresponde a grãos de destilaria danificados (damaged foodgrains).

    Índia | Produção e consumo de milho (milhões de toneladas)

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    Fontes: Ministério da Agricultura do Governo da Índia e USDA. Elaboração: StoneX.

Tabelas de preços futuros e físicos

 

Contratos futuros negociados na CBOT (US¢/bu)

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Fonte: CME. Elaboração: StoneX.
 

Contratos futuros negociados na B3 (R$/sc)

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Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

Preços fisicos no Brasil (R$/sc)

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Fonte: StoneX.

AGENDA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Tags relacionadas: Grãos e Oleaginosas

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