Abertura de Câmbio

Dólar abre a semana em leve alta,
prolongando movimento da última sexta-feira
 
Leonel Oliveira Mattos
Leonardo Rossetti
Vitor Andrioli
Deterioração das contas públicas domésticas e pessimismo com exterior exercem pressão sobre o real

A taxa de câmbio da moeda brasileira operava em leve alta na abertura desta semana, mantendo-se acima dos R$ 5,30 e operando em seu nível mais elevado em cerca de cinco meses. A valorização do dólar americano contra o real nesta manhã prolongava o movimento da divisa observado no final da semana passada, em que acumulou ganho de 2,5% entre a quinta e sexta-feira (1º), motivado por receios com uma estagflação global e a deterioração das contas públicas no Brasil. Por volta das 09h30, o par real/dólar era negociado a R$5,329, em alta de 0,14%.

Devido ao feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos, as negociações de câmbio ocorrerão sem a referência das cotações do mercado americano e tendem a demonstrar menor volume de transações. Os futuros dos principais índices acionários de Wall Street, que operam hoje, apontavam para um pequeno ajuste do rali de cerca de +1,0% da última sexta, acompanhando os temores de um arrefecimento do crescimento econômico em um contexto de inflação elevada e persistente.

O mercado cambial continua repercutindo as preocupações com os impactos esperados sobre as estatísticas fiscais do país após a rápida aprovação no Senado Federal da proposta de emenda à Constituição (PEC) 1/2022 na semana passada, que busca aumentar o Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, conceder subsídios para o etanol e o transporte gratuito de idosos e criar um voucher para caminhoneiros autônomos. Após seu acolhimento e votação no Senado, o projeto segue para tramitação na Câmara dos Deputados. As medidas contidas na PEC terão um custo estimado de R$ 41,25 bilhões, segundo seu relator, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e não serão contabilizadas no teto de gastos, o que tem elevado a percepção de maiores riscos para as contas públicas nacionais e contribuído para afastar investidores da moeda brasileira nas últimas semanas.

A expectativa é de que o processo ocorra igualmente de maneira acelerada na Câmara, com o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), afirmando que a intenção é de que a proposta seja votada antes do recesso parlamentar, que se inicia em 17 de julho. Nesta semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), assinou o despacho que atrela a PEC recém-aprovada pelos senadores à PEC dos Biocombustíveis, que já tramitava na Câmara, a fim de pular algumas etapas e ganhar mais agilidade para sua conclusão. A possibilidade de que o texto da PEC 1/2022 sofra ajustes por parte dos deputados, elevando o valor dos benefícios previstos e onerando ainda mais os cofres públicos, deve permanecer como fonte de cautela por parte dos investidores ao longo da semana.

Além da agenda do Congresso brasileiro, o mercado deve acompanhar nos próximos dias a divulgação de indicadores importantes para a atualização das perspectivas para a economia doméstica e para o cenário internacional. 

Na dimensão da atividade econômica, a semana concentrará a divulgação dos números finais dos PMIs da indústria e serviços para o Brasil e as principais economias globais. Ainda nessa frente, merecerão atenção a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, que será atualizada nesta terça-feira (5), o índice do setor de serviços do ISM para os EUA, e os dados de vendas ao varejo na zona do euro, ambos na na quarta-feira (6).

O mercado de trabalho americano também se manterá no foco dos analistas, que aguardam o relatório de situação do emprego, previsto para a sexta-feira (8). Após resultado acima do esperado no mês de maio, com o registro de um saldo de 390 mil vagas criadas, a mediana das expectativas aponta para uma desaceleração na abertura líquida de postos de trabalho para 270 mil, e a manutenção da taxa de desemprego em 3,6%.

Ainda nos EUA, os investidores acompanharão a ata da última decisão do Federal Reserve, que elevou a meta para a taxa básica de juros da economia americana em 75 pontos base, maior ajuste desde 1994. O documento deve oferecer mais detalhes sobre as discussões internas do banco central que resultaram no aumento, assim como indicativos sobre a possibilidade de manutenção deste ritmo de contração monetária para a decisão de 27 de julho.

Por fim, a semana se encerra no Brasil com a divulgação do IPCA para o mês de junho. As estimativas apontam para nova aceleração da inflação ao consumidor, com o indicador passando de uma alta de 0,47% em maio para um avanço projetado de 0,70%, levando o acumulado em 12 meses para 11,90%. De acordo com o IPCA-15 de junho, o movimento de perda de poder de compra continuava bastante disseminado entre os itens considerados na cesta de consumo de referência, com destaque para a reversão da queda nos custos com habitação.

TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
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Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e CommodityNetwork Trader’s Pro.
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