Resumo Semanal de Câmbio

Dólar recua a R$ 5,27
e encerra longe das máximas da semana
 
Leonel Oliveira Mattos
Leonardo Rossetti
Vitor Andrioli
Aversão ao risco e perspectiva de manutenção de postura contracionista do Fed manteve curso altista da divisa no exterior
fatores altistas
  • Novos avanços no Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e no Índice de Preços ao Produtor (PPI) nos Estados Unidos podem reforçar a urgência do banco central americano em controlar a inflação no país através de postura abertamente contracionista, o que elevaria a rentabilidade dos títulos denominados em dólar e atrairia investimentos para essa moeda.
  • Busca do governo Bolsonaro para melhorar sua popularidade através de projetos que aumentam gastos, reduzem a arrecadação e não respeitam o teto de gastos eleva a percepção de riscos fiscais e políticos associados ao Brasil, resultando na exigência de prêmio de risco mais elevado por parte dos investidores, dificultando a entrada de recursos estrangeiros no país e desvalorizando a taxa de câmbio.
  • Temores crescentes de uma recessão global impulsionam uma fuga de ativos arriscados, prejudicando tanto commodities como moedas de países emergentes, o que favorece um enfraquecimento do real.
fatores baixistas
  • Retorno do Boletim Focus mostrou uma melhora nas perspectivas do mercado para o PIB e inflação no país em 2022, o que pode contribuir para uma maior confiança dos investidores e atrair um maior fluxo de divisas para o país.
  • Resultados acima do esperado para os setores do varejo e de serviços podem contribuir para melhorar as avaliações sobre o desempenho da economia brasileira.
  • Após os levantamentos do ISM sugerirem desempenho aquém do esperado para a indústria e o setor de serviços americano, indicadores da produção industrial e das vendas no varejo, que serão divulgados na próxima semana, podem se somar às evidências de desaquecimento da economia do país.

Após um início de mês conturbado, que impulsionou suas cotações aos R$ 5,40 – recuperando máximas registradas em janeiro deste ano –, o par real/dólar recuou de maneira expressiva nos últimos dias encerrando a semana em queda de 1,0%. Ao final desta sexta-feira (8), a moeda americana era negociada a R$ 5,269 no mercado brasileiro de câmbio, recuando 1,4% em relação à véspera.
Ao longo da semana no exterior, a moeda americana manteve trajetória consistente de fortalecimento, atingindo suas máximas desde o final de 2002. O dollar index, que mede a paridade do dólar em relação a uma cesta de moedas de economias avançadas, encerrou nesta sexta-feira cotado a 106,82 pontos, avançando 1,8% no comparativo semanal. Já o índice J.P. Morgan de moedas emergentes fechou o pregão de hoje cotado a 49,78 pontos, o que equivaleu a uma desvalorização de 2,5% em relação à última sexta-feira (1º).    
Entre os principais fatores que ampararam o movimento do dólar nos últimos dias, merece destaque no cenário doméstico o avanço da tramitação da PEC dos Auxílios e seu impacto fiscal estimado de R$ 41,25 bilhões. Como pano de fundo, o episódio de forte aversão ao risco na última terça-feira (5), repercutindo os receios dos investidores com o arrefecimento das principais economias globais, contribuiu para consolidar o papel do dólar como porto seguro em tempos turbulentos.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
image 43074
Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

Cenário Externo

Na última semana, os mercados ao redor do mundo operaram em sintonia com a evolução das expectativas para o nível de atividade econômica das economias avançadas, e, em especial, com as perspectivas para os próximos passos do banco central americano.  

A divulgação da ata da decisão de política monetária do Comitê Federal de Política Monetária (FOMC) do Federal Reserve, referente a reunião realizada entre 14 e 15 de junho, trouxe desconfiança entre os investidores. Sem grandes novidades e reforçando a mensagem clara de que o banco central atuará com firmeza para controlar a inflação, o documento foi visto como descontextualizado pelo mercado, diante da publicação de números mais fracos para a atividade econômica e dos receios crescentes de uma recessão da economia americana desde então. Com isso, parte dos agentes passou a considerar que o Fed pode não ter espaço para seguir com uma política monetária significativamente restritiva e controlar a aceleração de preços no país sem sacrificar o crescimento da economia ou o nível de empregos durante o processo.

Na quinta-feira (7), declarações do integrante do FOMC, Christopher Waller, e do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, reforçaram a inclinação da autoridade monetária em seguir com um novo ajuste de 75 pontos base na reunião do final deste mês, além de afirmarem que consideram adequado levar a taxa básica aos 3,5% a.a. até o final de 2022. Será importante acompanhar as declarações dos demais membros do Fed ao longo da próxima semana para verificar se a forte intensidade no aperto monetário continua como opinião unânime entre o colegiado. 

Na manhã desta sexta-feira, o relatório de situação do emprego mostrou um cenário bem mais robusto do que era precificado até então para o mercado de trabalho americano, e voltou a favorecer as apostas por uma postura mais contracionista do Fed. O relatório contabilizou a abertura de 372 mil novas vagas em junho, apenas ligeiramente abaixo do número observado em maio, de 384 mil, mas superando a mediana das estimativas dos analistas de 270 mil contratações. A resiliência na geração de empregos no país favorece a leitura de que o Federal Reserve poderá atuar de maneira intensa para a estabilização do nível de preços na decisão de 27 de julho, praticamente confirmando as condições para uma elevação de 75 pontos base da taxa de juros, ao intervalo de 2,25% a 2,50%.

Em contraste, o acompanhamento dos pedidos semanais de auxílio-desemprego, divulgado toda quinta-feira pelo Departamento do Trabalho (DOL), tem sugerido uma dinâmica um pouco menos virtuosa do mercado de trabalho americano. As solicitações do benefício atingiram 235 mil na semana encerrada em 2 de julho, seu maior valor desde janeiro e acima da mediana das estimativas dos analisas, que projetavam o indicador em 230 mil. O indicador de alta frequência aponta para um aumento paulatino dos desligamentos, o que pode ser confirmado observando a trajetória da média móvel de quatro semanas dos pedidos de seguro-desemprego, que tem avançado consistentemente desde o início de abril deste ano.

Os indicadores econômicos para os Estados Unidos devem estar ainda mais em evidência na próxima semana. Em especial, merecem atenção o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), que está previsto para a próxima quarta-feira (13), o Índice de Preços ao Produtor (PPI), que será divulgado na quinta-feira (14), e os índices de preços de exportações e importações, na sexta-feira (15). A mediana das expectativas do mercado aponta para uma alta de 1,1% do CPI em junho, em ligeira aceleração em comparação com a variação de +1,0% computada em maio, levando o acumulado de 12 meses do indicador para 8,8% – seu maior valor desde janeiro de 1982. O PPI, antecedente da inflação para o consumidor, é estimado pelos economistas em alta mensal de 0,8% para junho, repetindo o observado em maio e levando a variação anual a +10,7%. 

A evolução do nível de atividade, e os possíveis indícios de uma desaceleração da economia dos Estados Unidos, poderá ser acompanhada com a atualização dos números das vendas no varejo e da produção industrial, ambos para o mês de junho, e da prévia para a confiança dos consumidores medida pela Universidade de Michigan para julho. Esse conjunto de indicadores, estará entre os últimos que entrarão na leitura de conjuntura do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) para a reunião de 26 e 27 de julho.

China
Nos últimos dias, novos surtos de Covid-19 voltaram a afetar as perspectivas para a retomada do nível de atividade da economia chinesa. De 1º a 7 de julho foram reportados 325 novos casos da doença, número oito vezes maior do que o registrado 15 dias antes. Xangai, que vinha flexibilizando as restrições após um lockdown prolongado, registrou 45 novas infecções nos últimos dias, mantendo as preocupações sobre uma possível reversão nos planos de reabertura da cidade.

Buscando compensar os impactos econômicos da política de Covid zero no país, o Ministério das Finanças chinês anunciou que considera permitir que os governos locais emitam títulos para financiar obras de infraestrutura a partir do segundo semestre. O valor previsto, de 1,5 trilhão de yuanes (US$ 220 bilhões), corresponderia a uma antecipação da quota de emissões de títulos do ano que vem.

A agenda econômica reserva indicadores de relevância para a China para na próxima semana, incluindo a divulgação dos dados da balança comercial, com expectativa de desaceleração no crescimento das exportações (de 16,9% em maio para 12,0% em junho) e na demanda por importações (de 4,1% para 3,9%). Também estão previstos dados importantes sobre o nível de atividade, como o PIB do segundo trimestre, a produção industrial e as vendas no varejo em junho.

Cenário Doméstico

No Brasil, o noticiário político, com o avanço da PEC dos Auxílios e sua aprovação em comissão especial na Câmara dos Deputados, dominou as atenções durante grande parte da semana, em meio às preocupações com a deterioração das estatísticas fiscais do país. Líderes da Casa e aliados do governo adotaram uma série de medidas para garantir celeridade ao processo e conseguir que os benefícios previstos na Proposta cheguem o quanto antes à população. Desta forma, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), assinou o despacho que atrela a PEC recém-aprovada pelos senadores à PEC dos Biocombustíveis, que já tramitava na Câmara, a fim de pular algumas etapas e ganhar mais agilidade para sua conclusão. O destaque sugerido na segunda-feira (4) pelo relator da Proposta na Câmara, o deputado Danilo Forte (União-CE), da criação de benefício de até R$ 200,00 para motoristas de aplicativo, também foi desconsiderado para que, uma vez aprovada na Casa, não haja a necessidade de a PEC retornar para nova votação no Senado. Para criar diversos benefícios a menos de três meses das eleições, com custo estimado em R$ 41,25 bilhões que não respeita a regra do teto de gastos ou prevê qualquer contrapartida pelo lado da arrecadação, o texto institui estado de emergência no Brasil, manobra utilizada para se esquivar da lei eleitoral, que proíbe a criação ou ampliação de programas sociais em ano de eleições.

A ampliação no desequilíbrio das contas públicas e no endividamento tende a ser acompanhada da exigência de um prêmio de risco maior por parte dos investidores, o que, por sua vez, pode enfraquecer o fluxo de capital estrangeiro ao país e o real.

A divulgação pelo IBGE do nesta sexta-feira do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) revelou que um crescimento de 0,67% no nível de preços em junho, em linha com o esperado pelo mercado, mas voltando a indicar aceleração ao superar a alta de 0,47% registrada em maio. Com isso, o acumulado em 12 meses avançou de 11,73% no mês anterior para 11,89%, contabilizando o décimo mês consecutivo com dígitos duplos para o Índice. As bases comparativas mais elevadas sugerem que o acumulado em 12 meses do IPCA deva conseguir obter algum recuo ao longo dos próximos meses, todavia, ainda assim encerrando 2022 significativamente acima da meta de 3,5% a.a. estabelecida pelo Banco Central (BC).

Vale destacar também que nesta semana foi encerrada a greve dos servidores do BC, com a autoridade monetária retomando a publicação de alguns dos seus principais indicadores após três meses de interrupção. Nesta manhã, o BC divulgou o Boletim Focus referente às expectativas do mercado até 1 de julho. O documentou mostrou melhora nas projeções dos agentes para o IPCA ao final deste ano, de 7,96% contra apostas de 8,89% quatro semanas antes, mas com a previsão para 2023 aumentando de 4,39% para 5,01% durante o mesmo período. As expectativas para o crescimento do PIB este ano aumentaram para 1,51% contra 1,20% no início de junho, porém com crescimento mais lento da economia brasileira em 2023, passando de 0,76% para 0,5%. O Focus também sugere que o ano se encerre com uma taxa básica de Juros (Selic) de 13,75% a.a., o que exigiria um aumento de mais 0,5 p.p. até o final de dezembro.

Entre os destaques da próxima semana, está a votação da PEC dos Auxílios na Câmara dos Deputados, que deve acontecer na próxima terça-feira (12). A tentativa de votação na última quinta-feira (7) foi adiada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) devido à insuficiência de quórum. Dos 513 deputados, apenas 427 estavam presentes, o que, na avaliação do parlamentar, oferecia uma margem apertada, já que são necessários 308 votos favoráveis para aprovação de uma proposta de emenda à Constituição. A expectativa é de que a medida seja aprovada até a próxima sexta-feira (15), antes do recesso parlamentar, que se inicia no dia 17.

Há também a expectativa de que o Executivo publique através de um decreto um pacote de medidas para estimular a recuperação da atividade industrial no país e atrair investimentos. De acordo com apuração de veículos de comunicação junto a fontes do governo, a iniciativa, já em fase adiantada de elaboração, seria apresentada no formato de Medida Provisória (MP), com divulgação prevista para antes das eleições, e seria dividida em três eixos: (i) incentivos para a instalação de empresas de semicondutores, (ii) simplificação do pagamento de tributos com a substituição do programa Reintegra, e (iii) novo regime para a dedução da depreciação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), instituindo a depreciação “superacelerada”.

Na agenda de indicadores econômicos, o destaque fica para a divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços e Pesquisa Mensal do Comércio pelo IBGE na terça e quarta-feira, e do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio na quinta-feira. Espera-se também que o BC retome as atualizações dos dados do fluxo cambial no país.

 

 
tabela de indicadores
image 43075
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e CommodityNetwork Trader’s Pro.
 
Tags relacionadas: Moedas

Este documento contém opiniões do autor e não necessariamente reflete as estratégias da StoneX. As previsões de mercado são especulativas e podem variar. O investidor é responsável por qualquer decisão baseada neste material. A StoneX só negocia com clientes que atendem aos critérios legais. O aviso legal completo está em https://brasil.stonex.com/aviso-legal/.


É proibida a cópia ou redistribuição deste material sem permissão da StoneX.


© 2024 StoneX Group, Inc.



Descubra mais insights

Nossos assinantes têm acesso às análises de mercado da StoneX, abrangendo commodities, ações, moedas e muito mais.
Abrimos mercados

Utilizamos nosso capital, conhecimento e profunda experiência para proteger as margens de nossos clientes, reduzir custos e fornecer soluções personalizadas para obter sucesso nos mercados globais competitivos de hoje.

  • Confiança

    Valorizamos relacionamentos próximos e de longo prazo com nossos clientes. Ao oferecer o melhor serviço e suporte tecnológico, nossos clientes confiam em nós para entrar nos mercados mais desafiadores e atender aos seus pedidos mais difíceis.

  • Transparência

    Oferecemos preços competitivos e transparentes, além de entrega garantida e segura em mais de 140 moedas em mais de 185 países.

  • Especialização

    Com insights e informações de todo o mundo, fornecemos aos nossos clientes notícias, dados e comentários agregados de todas as vertentes de nossos mercados, desde interconexões de complexos de commodities até fluxos globais de capital.

+
!

Ao enviar este formulário, você está enviando ao Grupo StoneX e suas subsidiárias suas informações pessoais para serem usadas para fins de marketing. Consulte nossa  Política de privacidade  para saber mais.

+
!

Ao enviar este formulário, você está enviando ao Grupo StoneX e suas subsidiárias suas informações pessoais para serem usadas para fins de marketing. Consulte nossa Política de privacidade  para saber mais.