Fechamento de Câmbio

Dólar chega aos R$ 5,49,
mas atenua alta durante a tarde
 
Leonel Oliveira Mattos
Leonardo Rossetti
Vitor Andrioli
Divisa perdeu força com redução nas chances de uma elevação de 1,00 p.p. pelo Fed

O dólar voltou a avançar em relação ao real nesta quinta-feira (14), recuperando parcialmente as perdas da véspera ao repercutir o sentimento de cautela que se espalhou pelos mercados ao redor do mundo. Os dados mais recentes da inflação para os Estados Unidos, acima do esperado tanto para os preços ao nível do consumidor quanto do produtor, reforçaram as perspectivas de uma atuação ainda mais contracionista do Federal Reserve, o que, por consequência, poderia engendrar uma recessão da economia americana. Pela manhã, quando esses receios eram mais expressivos e conduziam as cotações, a taxa de câmbio da moeda brasileira chegou a alcançar os R$ 5,49, renovando suas máximas intradiárias desde janeiro deste ano.

A alta do par real/dólar, no entanto, foi atenuada durante a tarde, depois que dois membros do Fed sinalizaram que votariam por um aumento de 0,75 p.p. da taxa básica de juros na decisão de política monetária de 27 de julho. As declarações contribuíram para reverter as apostas por uma elevação mais intensa, de 1,00 p.p., e retiraram parte do fôlego da moeda americana. Ao final do pregão, o dólar comercial era negociado a R$ 5,433, em alta de 0,5%. O dollar index também encerrou abaixo do pico de 109,1 pontos atingido durante a manhã, mas ainda assim acumulou alta diária significativa de 0,7% ao fechar em 108,5 pontos. 
 

 

Além dos dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), divulgados pela manhã e comentados na Abertura de Câmbio, os investidores também repercutiram a atualização do número de novos pedidos de seguro-desemprego, publicados pelo Departamento do Trabalho (DOL) dos Estados Unidos. Avançando pela segunda semana consecutiva, as solicitações do benefício atingiram 244 mil na semana encerrada em 9 de julho, o que corresponde ao maior nível do indicador em oito meses. Um aumento consistente dos pedidos de auxílio-desemprego costuma ser um antecedente de deterioração das condições do mercado de trabalho, entretanto ainda é cedo para inferir que os números atualizados hoje sejam condizentes com este cenário, em vista das estatísticas robustas divulgadas na semana passada pelo relatório de situação do emprego de junho.

No Brasil, depois da aprovação da PEC dos Auxílios, que deve ser promulgada no Congresso na noite desta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que as transferências de renda promovidas pela proposta não terão impacto fiscal líquido. Em coletiva de imprensa após a publicação das projeções oficiais do Ministério da Economia (ME) para o crescimento do PIB e inflação, Guedes afirmou que a política fiscal segue forte, e que uma arrecadação extraordinária do governo de R$ 57 bilhões, através de ganhos tributários e dividendos de estatais, será suficiente para bancar o custo da PEC, estimado em R$ 41,25 bilhões.

O ME também reafirmou através de nota o seu “comprometimento com a consolidação fiscal necessária para a continuidade do cenário da recuperação econômica”, ao repercutir a mudança de avaliação da agência de classificação de risco de crédito Fitch, que melhorou a perspectiva para a nota de crédito soberano de longo-prazo do Brasil de “negativa” para “estável”. Apesar de manter a nota de crédito do país em “BB- “, a agência afirma que a mudança reflete “a evolução melhor que o esperado para as finanças públicas em meio a sucessivos choques nos últimos anos”. Segundo a Fitch, houve significativa redução na dívida pública em 2021, com projeções de que 2022 registre mais uma leve queda, melhorando consideravelmente o ponto de partida antes de um aumento gradual projetado para 2023.

Todavia, os participantes do mercado continuam mantendo a cautela frente à fragilidade fiscal do país e as pressões que a postura hawkish do Fed podem acarretar sobre a taxa de câmbio e a inflação no Brasil. O mercado de futuros de DI elevou suas apostas para a taxa básica de juros (Selic), precificando um avanço ao patamar de 14,50% a.a. até o início de 2023, quando o ciclo de aperto monetário se encerraria. A aposta atual é 50 pontos base acima do que era projetado um mês atrás, sugerindo que o Banco Central (BC) teria de elevar a taxa básica em 125 pontos base ao longo de suas próximas reuniões. Caso se concretize, o ajuste levaria a Selic a um patamar acima do último grande ciclo de alta de juros, que terminou em 14,25 a.a. em 2016.

Na agenda de indicadores, destaque para os dados da atividade econômica da China no segundo trimestre de 2022. Às 23h (horário de Brasília), o Departamento Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) publicará os dados para o Produto Interno Bruto (PIB) para o período abril-junho, assim como os resultados da produção industrial e vendas no varejo para junho. Sob os efeitos da política de Covid zero, que colocou importantes regiões do país em lockdown rígido, a expectativa é de uma contração de 1,5% do PIB chinês no segundo trimestre, revertendo o resultado positivo de 1,3% observado nos primeiros três meses do ano. 
 

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