-
Ata da decisão do FOMC e leituras acima do esperado para indicadores econômicos americanos podem reforçar os receios de que a inflação se manterá elevada por mais tempo no país e o Federal Reserve precisará manter seu aperto monetário por mais tempo, fortalecendo a moeda americana.
-
Fala de autoridades do Federal Reserve em defesa da manutenção de um rígido aperto monetário para recuperar a estabilidade de preços tende a reduzir o apetite por ativos arriscados e fortalecer a moeda americana.
-
Seguidas críticas de Lula ao Banco Central provoca volatilidade exacerbada e amplia a percepção de riscos pelos investidores, podendo enfraquecer o real.
-
Fluxos cambial positivo, resultado de elevado apetite estrangeiro por ativos brasileiros e geração e de saldos comerciais superavitários, contribuem para o fortalecimento do real.
O dólar negociado no mercado interbancário encerrou a sessão desta sexta-feira (17) cotado a R$ 5,163, variação de -1,1% na semana, +1,7% no mês e de -2,2% no ano. Já o dollar index fechou o pregão cotado a 103,8 pontos, aumento de 0,3% na semana, 1,8% no mês e 0,5% no ano. A semana foi marcada por uma trégua temporária nos ataques do presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao patamar da taxa básica de juros (Selic) e às metas atuais de inflação, bem como pelas leituras acima do estimado para os Índices de Preços ao Consumidor (CPI) e ao Produtor (PPI) de janeiro nos Estados Unidos.
Impacto no USDBRL: altista
O foco das atenções na próxima semana deve ser a publicação da ata da decisão de 01 de fevereiro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, na qual o Comitê decidiu reduzir o ritmo de alta de juros de 0,50 p.p. para 0,25 p.p. Após esta decisão, uma sequência de indicadores econômicos apresentou leitura mais vigorosa que a antecipada, como criação de empregos, nível de atividade em serviços, vendas no varejo e, principalmente, preços ao produtor e ao consumidor, todos referentes ao mês de janeiro. Desta forma, o documento será analisado minuciosamente em sua avaliação das condições econômicas americanas que fundamentaram a suavização do aperto monetário e como os integrantes do FOMC visualizaram as estratégias possíveis para os juros no país para os próximos meses.
O diagnóstico da maior parte dos analistas é que o os fatores de riscos são maiores para um cenário de inflação persistente e resistente, que se prolongue por um prazo dilatado e que exija uma desaceleração econômica considerável para reestabilizar os preços. Estes riscos foram exacerbados pela reação positiva de investidores à redução do ritmo de alta de juros pelo Fed, que resultou em uma expansão da liquidez e das condições financeiras. Assim, as apostas majoritárias nos mercados futuros passaram a refletir um novo patamar máximo para as taxas de juros nos EUA, em um intervalo entre 5,25% e 5,50% a.a.
Os indicadores econômicos desta semana devem seguir esta tendência de se apresentarem leituras robustas, em linha com uma interpretação de que o Fed necessitará manter uma estratégia de juros mais agressiva para conter as pressões inflacionárias. Cabe destaque à segunda prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, cuja mediana das estimativas aponta para um leve aumento frente à primeira prévia, passando de 2,9% para 3,2%, e o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de janeiro, cuja mediana das estimativas aponta para um crescimento de 0,3% no mês e uma alta acumulada de 4,3% em 12 meses.
Impacto no USDBRL: altista
A semana passada parecia indicar uma aparente trégua entre o presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, e o presidente do Banco Central (BC), com poucas críticas à autarquia vindo de parlamentares e em volume bastante reduzido. Contudo, em entrevista veiculada na noite de quinta-feira, Lula adotou um discurso contraditório, alternando frases conciliatórias com novos ataques. Por um lado, o líder do Executivo afirmou que “não cabe ao presidente da República ficar brigando com o presidente do Banco Central” e que “não tem problema nenhum” em conversar com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Ao mesmo tempo, Lula relembrou que o objetivo da instituição não é de apenas controlar a inflação, mas também de fomentar o emprego e o crescimento econômico do país, que a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% a.a. inviabiliza o atingimento destes objetivos e declarou que “vamos ter que mudar” a autonomia do Banco Central se este não demonstrasse sua “utilidade” e não fosse “positivo” para a economia. A oscilação entre críticas e ameaças à Política Monetária do BC e outros de curta trégua, mantém os investidores inseguros e duvidosos de que o Executivo não tentará intervir politicamente na gestão dos instrumentos monetários e amplia a volatilidade e instabilidade sobre os preços de ativos brasileiros, com reflexos sobre o câmbio.
Impacto no USDBRL: altista
Na semana passada, como consequência dos indicadores econômicos aquecidos do mês de janeiro, autoridades do Federal Reserve adotaram um tom mais cauteloso para descrever o panorama econômico americano e argumentaram que, em que pese o significativo aperto monetário realizado até o momento, ainda resta muito a ser feito para trazer os preços de volta à meta estabelecida pela autoridade monetária. Em retrospecto, tanto a presidenta do Fed de Cleveland, Loretta Mester, quanto o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, afirmaram que um aumento de 0,50 p.p. na última decisão teria sido mais adequado, e ambos recomendam que o Federal Reserve tente atingir o patamar máximo de juros o mais rapidamente possível para, então, sustentar essa taxa por vários meses. Estão programados para se pronunciarem na próxima semana o presidente do Fed de New York, John Williams, e o membro do Conselho de Governadores do Fed, Philip Jefferson.
Impacto no USDBRL: baixista
Diversos analistas observam que o movimento de câmbio registrado pelo Banco Central começou o ano registrando saldos positivos elevados, tanto na conta comercial quanto na conta financeira. O superávit comercial acumulado de janeiro até 10 de fevereiro de 2023 (oito dias úteis em fevereiro) é de US$ 3,828 bilhões, contra US$ 0,383 bilhões no mesmo período do ano passado (utilizando-se os primeiros oito dias úteis de fevereiro para comparação). Já o superávit financeiro em 2023 é de US$ 3,993 bilhões, contra US$ 0,108 bilhões no mesmo período de 2022. O elevado apetite estrangeiro por ativos brasileiros tem contribuído para conter o enfraquecimento do real em um momento de maior percepção de riscos fiscais e políticos relatados por investidores nacionais e que favorecem a volatilidade no preço dos ativos.
Acesse o painel interativo com informações detalhadas sobre o fluxo cambial desde 1982 através do link: https://stonex.digital/interativos/041f5f1f-f13f-4b92-916f-11bed5761ad5
Este documento contém opiniões do autor e não necessariamente reflete as estratégias da StoneX. As previsões de mercado são especulativas e podem variar. O investidor é responsável por qualquer decisão baseada neste material. A StoneX só negocia com clientes que atendem aos critérios legais. O aviso legal completo está em https://brasil.stonex.com/aviso-legal/.
É proibida a cópia ou redistribuição deste material sem permissão da StoneX.
© 2024 StoneX Group, Inc.