Panorama Semanal de Câmbio

Panorama de câmbio: principais eventos da semana
 
Leonel Oliveira Mattos
Alan Lima
Vitor Andrioli
Dólar deve refletir ata do Copom, inflação PCE nos EUA adiamento do arcabouço, expectativa pela reforma tributária.
Fatores altistas
  • Adiamento do arcabouço fiscal no Congresso Nacional por discordâncias entre Câmara e Senado pode elevar aumentar percepção de riscos políticos de ativos brasileiros e afastar investimentos do país, contribuindo para o enfraquecimento do real.
Fatores baixistas
  • Ata do Copom pode esclarecer se o Colegiado discutiu cortes de juros e adotar um tom mais leve que o Comunicado, contribuindo para o fortalecimento do real.
  • Expectativa de tramitação acelerada da reforma tributária na Câmara dos Deputados pode reforçar o ambiente de otimismo com o cenário macroeconômico brasileiro, atraindo investimentos para o país e fortalecendo o real.
  • Índice de Preços de Despesa de Consumo Pessoal (PCE) deve reforçar a percepção de que a inflação está lentamente se reduzindo nos Estados Unidos e de que o ciclo de altas de juros no Federal Reserve está próximo do fim, podendo enfraquecer o dólar.
 

Resumo da semana passada

O dólar negociado no mercado interbancário recuou pela quinta semana seguida ao encerrar a sessão desta sexta-feira (23) cotado a R$ 4,777, recuo semanal de 0,9%, mensal de 5,8% e anual de 9,5%. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 102,5 pontos, variação de +0,7% na semana, -1,6% no mês e -0,7% no ano. O mercado de divisas repercutiu o tom duro do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que afastou as possibilidades de cortes à taxa básica de juros (Selic) no curto prazo, e à aprovação do projeto de lei do arcabouço fiscal no Senado Federal, que retorna para uma última apreciação na Câmara dos Deputados. No exterior, a moeda americana se fortaleceu diante de medidas de estímulos pela China consideradas tímidas e dados econômicos piores que o estimados para a área do euro promoverem um ambiente de aversão ao risco.

Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
image 74101
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX
 
O MAIS IMPORTANTE: Ata do Copom e reunião do CMN

Impacto esperado no USDBRL: baixista

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu ao divulgar um duro comunicado em sua decisão de juros. Por um lado, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% a.a. e a remoção do trecho que o Comitê “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado” eram largamente antecipados por economistas. Contudo, o Copom pouco alterou seu balanço de riscos entre maio e junho, enquanto a maior parte dos analistas acredita que houve uma melhoria significativa na conjuntura macroeconômica no período. Adicionalmente, o documento mencionou que há uma “incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal” pressionando as expectativas inflacionárias, contrariando falas recentes de autoridades do BC que atribuíam ao desenho do projeto de lei uma estabilização das expectativas inflacionárias mais longas. Por fim, o Copom frustrou as expectativas de investidores ao não sinalizar a possibilidade de reduções à taxa Selic, mencionando, em seu lugar, que “a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.

O comunicado foi alvo de críticas por parte de líderes do Executivo, em especial do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que classificou o comunicado “como de hábito, (...) muito ruim”. A divulgação da ata da reunião do Copom poderá ao menos esclarecer se seus integrantes discutiram a possibilidade de um corte de juros e por que escolheram manter a menção exclusiva à manutenção da taxa Selic no comunicado. A ata pode trazer um contexto mais detalhado sobre a visão dos participantes a respeito do quadro macroeconômico atual e, talvez, reconhecer avanços qualitativos entre maio e junho, podendo soar mais moderada que o comunicado da semana passada.

Por fim, nesta quinta-feira (29), haverá a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que reúne o Ministro da Fazenda, a Ministra do Planejamento e Orçamento e o presidente do Banco Central. Tradicionalmente, as reuniões de junho do CMN são dedicadas para a discussão das metas de inflação, que foram um tema de crítica do Palácio do Planalto no início do governo Lula. A maior parte dos analistas não acredita em uma alteração à meta de longo prazo de 3,0% ou no intervalo de tolerância de 1,50 ponto percentual. Porém, considera-se provável uma mudança no formato das metas, que deixariam de seguir o ano-calendário e passariam a ser definidas como uma meta contínua de prazo mais longo. O tema já foi abordado em diversas ocasiões e de modo favorável tanto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.

 

Adiamento do arcabouço fiscal

Impacto esperado no USDBRL: altista

Na semana passada, como era esperado, o projeto de lei do novo arcabouço fiscal foi aprovado no Senado Federal, por 57 votos a 17. Por conter modificações em relação ao texto inicial aprovado pela Câmara dos Deputados, o projeto retorna para a Casa Baixa para uma análise final. Embora, na semana anterior, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, tivesse afirmado que pretendia apreciar a matéria no dia seguinte à sua aprovação no Senado, aparentemente, deputados e senadores se desentenderam sobre qual é o melhor formato para as novas regras fiscais do país.

O texto apreciado no Senado foi de autoria do senador Omar Aziz (PSD-AM), e causou surpresa em analistas políticos ao incluir tópicos que não estavam sendo reportados na mídia especializada. Aziz reconheceu que seu projeto foi feito de maneira autônoma e sem acordo prévio com a Câmara. O relator do projeto na Câmara, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), declarou que “não concorda com nada que o Senado alterou” e que, por ele, “volta tudo para o texto da Câmara”. Com a discordância entre as Casas, Lira deve promover um encontro entre líderes dos partidos antes de seguir com a apreciação do projeto, que deve ser prorrogado para a segunda semana de julho.

 

Tramitação da reforma tributária

Impacto esperado no USDBRL: baixista

Na quinta-feira passada (22), o parecer preliminar da Proposta de Emenda à Constituição que trata da consolidação e reorganização do sistema de impostos sobre o consumo no Brasil (PEC 45/19) foi apresentado à Câmara dos Deputados pelo seu relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Entre as principais medidas da reforma estão a extinção de quatro tributos – IPI, PIS e Cofins (federais), ICMS (estadual) e ISS (municipal) – e sua substituição por dois novos Impostos de Valor Agregado (IVA): o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), unificando o ICMS e o ISS, e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), no lugar do IPI, PIS e Cofins.

Além da simplificação obtida com a redução no número de tributos, a mudança visa à neutralidade da cobrança de impostos ao evitar sua incidência em cascata ao longo da cadeia de produção, o que acaba onerando demasiadamente atividades industriais mais complexas. Na proposta, a cobrança de impostos deixaria de ocorrer na origem da operação (produção ou venda), como é atualmente, e se daria no destino, onde ocorre o consumo do bem ou serviço em questão. Algumas atividades econômicas teriam alíquota reduzida, como cesta básica, serviços de educação e produtos agropecuários, enquanto outras seriam integralmente isentas, como medicamentos, Prouni e atividade rurais desempenhadas por pessoas físicas até um limite de faturamento de R$ 2 milhões anuais. Adicionalmente. Os regimes especiais da Zona Franca de Manaus e o Simples Nacional seriam mantidos, e seriam estabelecidos regimes específicos para combustíveis e lubrificantes, serviços financeiros, bens imóveis, planos de saúde e apostas, e compras governamentais.

Segundo o relator, o texto ainda se encontra em fase preliminar, devendo ser apreciado pelos parlamentares a partir do próximo dia 3. O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL), acredita que a matéria pode ser aprovada no Plenário da Casa em dois turnos, nos dias 05 de julho (quarta-feira) e 07 de julho (sexta-feira). Se aprovada, a PEC prevê a transição para os novos impostos em um período de 8 anos entre 2026 e 2033, com a entrada gradativa da CBS, a partir de 2027, e do IBS a partir de 2029. A mudança da cobrança da origem para o destino ocorreria em um período de 50 anos, definido junto aos governadores, entre 2029 e 2078.

 

Índice de inflação PCE

Impacto esperado no USDBRL: baixista

O Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de maio deve apresentar um comportamento similar ao do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), isto é, um pequeno aumento no índice cheio, porém uma alta mais moderada em seu núcleo, que exclui os voláteis componentes de alimentação e energia. A mediana das expectativas é de que o crescimento acumulado em 12 meses do núcleo do PCE se mantenha inalterado entre abril e maio, em 4,7%. Nas últimas semanas, pareceu claro que há um processo de desaceleração econômica e arrefecimento das pressões inflacionárias ocorrendo com mais intensidade sobre cadeias industriais do que sobre serviços, bem como sobre os preços de commodities alimentícias, metálicas e energéticas. Em um momento em que se discute a possibilidade do fim do ciclo de altas de juros pelo Federal Reserve, parece fundamental observar a resiliência dos preços dos setores de serviços e o vigor do mercado de trabalho americano. Nesse sentido, é digno de nota o aumento relativo nos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos nas últimas três semanas, que podem ser um primeiro sinal de enfraquecimento nos empregos do país.

Pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos
image 74103
Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis. Elaboração: StoneX.
 
 

 

image 71959
 

 

TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
image 74102
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
Tags relacionadas: Moedas

Este documento contém opiniões do autor e não necessariamente reflete as estratégias da StoneX. As previsões de mercado são especulativas e podem variar. O investidor é responsável por qualquer decisão baseada neste material. A StoneX só negocia com clientes que atendem aos critérios legais. O aviso legal completo está em https://brasil.stonex.com/aviso-legal/.


É proibida a cópia ou redistribuição deste material sem permissão da StoneX.


© 2024 StoneX Group, Inc.



Descubra mais insights

Nossos assinantes têm acesso às análises de mercado da StoneX, abrangendo commodities, ações, moedas e muito mais.
Abrimos mercados

Utilizamos nosso capital, conhecimento e profunda experiência para proteger as margens de nossos clientes, reduzir custos e fornecer soluções personalizadas para obter sucesso nos mercados globais competitivos de hoje.

  • Confiança

    Valorizamos relacionamentos próximos e de longo prazo com nossos clientes. Ao oferecer o melhor serviço e suporte tecnológico, nossos clientes confiam em nós para entrar nos mercados mais desafiadores e atender aos seus pedidos mais difíceis.

  • Transparência

    Oferecemos preços competitivos e transparentes, além de entrega garantida e segura em mais de 140 moedas em mais de 185 países.

  • Especialização

    Com insights e informações de todo o mundo, fornecemos aos nossos clientes notícias, dados e comentários agregados de todas as vertentes de nossos mercados, desde interconexões de complexos de commodities até fluxos globais de capital.

+
!

Ao enviar este formulário, você está enviando ao Grupo StoneX e suas subsidiárias suas informações pessoais para serem usadas para fins de marketing. Consulte nossa  Política de privacidade  para saber mais.

+
!

Ao enviar este formulário, você está enviando ao Grupo StoneX e suas subsidiárias suas informações pessoais para serem usadas para fins de marketing. Consulte nossa Política de privacidade  para saber mais.