- Possível paralisação das atividades do governo americano por falta de consenso entre seus congressistas para um novo Orçamento pode promover um ambiente de cautela e aversão ao risco entre investidores, prejudicando o desempenho de ativos arriscados, como o real.
- Dados para a economia americana devem reforçar a percepção de que a atividade produtiva e o mercado de trabalho se mantêm vigorosos, o que, por sua vez, corrobora as interpretações de que os juros nos país se manterão mais altos por mais tempo e contribuem para o fortalecimento do dólar.
- Possível aprovação de pautas econômicas do governo junto ao Congresso pode reduzir a percepção de riscos políticos de ativos brasileiros, contribuindo para a atração de investimentos e, assim, fortalecendo o real.
Resumo da semana passada
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a semana em alta, encerrando a sessão desta sexta-feira (29) cotado a R$ 5,0273, variação de +1,8% na semana, +1,5% no mês e -4,8% no ano. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta em alta pela décima primeira semana consecutiva, com ganho semanal de 0,6%, mensal de 2,2% e anual de 2,5%. O mercado de divisas repercutiu a alta contínua e sustentada dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, a divulgação da ata da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), a divulgação de dados de inflação para o Brasil, Estados Unidos e Europa e a formação da taxa Ptax de fim de mês.
Impacto esperado no USDBRL: altista
O foco da atenção dos investidores nesta semana deve ser a provável paralisação das atividades do governo americano, a 22ª desde 1976. O Congresso do país havia aprovado um Orçamento que financiava as atividades do setor público até 30 de setembro deste ano, e é necessário que a Câmara e o Senado aprovem novas leis orçamentárias (chamadas “appropriations bills”) que financiem o governo após essa data. Sem a aprovação de um novo Orçamento, todas as atividades federais consideradas não-essenciais são paralisadas, impactando a dinâmica do mercado financeiro ao impedir a publicação de estatísticas importantes por agências governamentais. Por exemplo, na próxima semana podem não ser divulgados o Relatório de Situação do Emprego de setembro e a Pesquisa de Abertura de Vagas e Turnover (JOLTS) de agosto.
É difícil tentar prever quanto tempo essa paralisação pode durar. O impasse reside principalmente na Câmara dos Deputados, onde os Republicanos possuem pequena maioria e um grupo de ultraconservadores está se recusando a aprovar qualquer novo Orçamento que não envolva cortes profundos em áreas que eles consideram menos importantes. Entretanto, essas áreas são justamente as mais estratégicas para os Democratas, que possuem maioria no Senado e se recusariam a aprovar esse tipo de proposta. O Senado já enviou alternativas, aprovadas de modo bipartidário, para a Câmara, porém este grupo tem se recusado a ceder.
Adicionalmente, a agência de classificação de risco de crédito Moody’s, a última das três maiores agências que ainda avalia o título soberano dos EUA como “tripo A” (maior nota possível), alertou na semana passada que uma nova paralisação prejudicaria a avaliação de crédito do país, pois evidenciaria um enfraquecimento da política fiscal no país em um momento de elevação da dívida pública e pressões para lidar com sua sustentabilidade. “A gestão fiscal nos Estados Unidos é menos robusta do que nas demais economias avaliadas como Aaa, e outra paralização corroboraria as evidências dessa fraqueza”, escreveu a Moody’s. Uma revisão negativa por essa agência poderia reforçar um ambiente externo de aversão ao risco e de busca por ativos de segurança, podendo enfraquecer o real.
Impacto esperado no USDBRL: altista
Dentre os dados que serão seguramente divulgados na próxima semana, cabe destaque ao Índice de Gerente de Compras (PMI) de setembro pelo instituto ISM, tanto para atividade industrial como para o setor de serviços. Os dados de setembro devem manter o padrão dos meses anteriores, isto é, apresentar contração (leitura abaixo dos 50 pontos) para indústria e expansão (acima dos 50 pontos) para serviços. Nos últimos meses, o crescimento da economia americana superou as estimativas de analistas ao se manter estável mesmo diante de um ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed). Da mesma forma, os pedidos de auxílio-desemprego continuam sugerindo um mercado de trabalho com elevada demanda por mão de obra e poucos sinais de enfraquecimento. Ambos os indicadores podem contribuir para a percepção de que os juros nos Estados Unidos precisarão se manter elevados por um longo período para assegurar que a inflação retorne à meta do Fed, contribuindo para o fortalecimento do dólar diante das demais divisas.
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Duas semanas após a entrada do chamado “Centrão” para a coalisão de apoio ao governo no Congresso, os conflitos na relação entre o Executivo e o Legislativo continuam aflorando. Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reclamou publicamente da demora do Palácio do Planalto em efetivar as trocas no comando da Caixa Econômica Federal e ameaçou “trancar” a pauta de votações até que se cumprisse o acordo. Posteriormente, após reunião de Lira com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o parlamentar se comprometeu a encaminhar para votação na próxima semana três projetos importantes para a elevação das receitas federais, a saber, a Medida Provisória que propõe tributar os fundos de investimentos exclusivos, os fundos “offshore” e o Marco Legal das Garantias para Empréstimos. Já no Senado Federal, deve haver sessão extraordinária para votar o projeto de lei do Desenrola e que limita os juros do cartão de crédito. Após um início melhor que o esperado, a articulação dos projetos prioritários do governo federal junto ao Congresso Nacional tem sido lenta e alvo de críticas. Dessa forma, a aprovação destas medidas podem ser bem-avaliadas pelos investidores e reduzir a percepção de riscos políticos de ativos brasileiros, contribuindo para a atração de investimentos e, assim, fortalecendo o real.
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