- Fatores baixistas
- Números para a atividade produtiva e o mercado de trabalho dos EUA podem reforçar percepção de pouso suave da economia americana, aumentando as apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve e enfraquecendo o dólar.
- Dados econômicos chineses e possibilidade de novos estímulos pelas autoridades do país podem melhorar as expectativas para o crescimento econômico em 2025, favorecendo o desempenho de moedas de países exportadores de produtos primário, como o real.
- Fatores altistas
- Aumento das tensões geopolíticas e comerciais pelos EUA devem resultar em maior aversão global a riscos, o que tende a fortalecer o dólar globalmente.
- Aumento da percepção de riscos fiscais para ativos brasileiros tende a elevar a exigência de prêmios de risco por investidores, enfraquecendo o real.
- Corte de juros pelo Banco Central Europeu prejudica o diferencial de juros do bloco frente aos EUA, o que tende a fortalecer o dólar indiretamente.
Resumo da semana passada
A semana foi marcada pelo aumento consistente da taxa de câmbio do real por conta de preocupações renovadas de investidores com o cenário fiscal brasileiro e de um cenário externo mais avesso ao risco após a confirmação de novas tarifas de importação pelo governo americano sobre China, México e Canadá.
A taxa de câmbio do real terminou a sessão desta sexta-feira (28) cotada a 5,9160, ganho semanal de 3,2% e mensal de 1,4%, porém recuo anual de 4,2%. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 107,6 pontos, variação de +0,9% na semana, de -0,7% no mês e de -0,5% no ano.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX.
O MAIS IMPORTANTE: Tensões geopolíticas e comerciais pelos EUA
Impacto esperado no USDBRL: altista
Desde a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro, os mercados financeiros experimentam ampla volatilidade e forte incerteza por conta da baixa previsibilidade para a condução das políticas econômicas e da diplomacia do país. Na semana passada, investidores demonstraram receios de que o crescimento econômico e a inflação nos EUA possam piorar após a confirmação por Trump de que serão aplicadas tarifas de importação de 25% sobre produtos do México e do Canadá a partir de 04 de março, enquanto as sobretaxas sobre produtos chineses se elevarão de 10% para 20%. Além disso, o presidente prometeu que aplicará tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio a partir de 12 de março e sobre todas as importações de cobre, automóveis, semicondutores, produtos farmacêuticos, madeira e produtos florestais a partir de 02 de abril, mesma data em que seriam adotadas “tarifas de reciprocidade” para equiparar os impostos de importação cobrado pelos americanos aos daqueles cobrados por seus parceiros comerciais aos seus produtos. A concretização de barreiras comerciais mais elevadas pelos Estados Unidos deve resultar em maior aversão ao risco pelos investidores, o que tende a fortalecer globalmente o dólar, uma moeda considerada “porto-seguro” para momentos de estresse.
Adicionalmente, o governo de Donald Trump continua a ampliar as percepções de riscos geopolíticos por conta de tensões e atritos com antigos aliados, como a União Europeia e a Ucrânia, bem como uma leitura de tratamento diferenciado para a Rússia, adversário histórico do país. Essas percepções se agravaram profundamente na sexta-feira passada, após um encontro desastroso entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky no Salão Oval da Casa Branca. Zelensky veio à Casa Branca para assinar um acordo comercial de exportações de minérios críticos para os EUA em troca de apoio americano para a defesa ucraniana. Contudo, em meio a uma coletiva de imprensa anterior à cerimônia de assinatura do acordo, O líder ucraniano irritou o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, ao afirmar que não acreditava que um acordo de paz com a Rússia buscado pelos americanos deteria as agressões russas e traria uma paz duradoura para a região. Vance, por sua vez, acusou-o de não ser grato pela ajuda militar americana e que a diplomacia ucraniana foi responsável por instigar a invasão russa, enquanto Trump falou a Zelensky que ele não está em “boa posição para negociar”, “está jogando com a Terceira Guerra Mundial” e que “ou faz um acordo [de paz] ou nós estamos fora, e se nós estamos fora, você luta sozinho. Eu não acho que isso vá ser bonito”. A elevação dos atritos dos EUA com a Ucrânia deve elevar a insegurança de investidores em relação à estabilidade geopolítica da Europa e ampliar a aversão a riscos dos agentes, o que, por sua vez, tende a fortalecer globalmente o dólar.
Dados de atividade e emprego nos EUA
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Em uma semana repleta de indicadores para atividade produtiva e para o mercado de trabalho americano, cabe destaque ao Relatório da Situação de Emprego de fevereiro, que deve apontar para um leve recuo na geração de empregos, com a mediana das estimativas antecipando um saldo positivo de 133 mil novos postos de trabalho em fevereiro ante 143 mil em janeiro. Se confirmada essa previsão, ela ampliaria a preocupação de investidores com o dinamismo do mercado de trabalho americano, após alguns indicadores de alta frequência sugerirem um enfraquecimento no mês de fevereiro. Adicionalmente, espera-se que a paralisação de contratações e as demissões em massa promovidas recentemente pelo governo federal dos EUA reforcem essa piora nos próximos meses. Contudo, é importante ressalvar que esse ritmo de enfraquecimento tem se mostrado moderado, em linha com um “pouso suave” da economia, não se antecipando uma piora brusca das condições de trabalho.
Já a mediana das projeções para o Índice Gerente de Compras (PMI) de serviços é que ele se mantenha estável em fevereiro, com uma leitura de 52,8 pontos (um número acima de 50 pontos indica expansão), após uma leitura mais fraca que o esperado em janeiro. Essa estabilidade deve ser resultado de um recuo do nível de confiança empresarial, que retornou ao patamares anteriores ao impulso provocado pelos resultados eleitorais de novembro. Dessa forma, antecipa-se que os indicadores para atividade e mercado de trabalho nesta semana indiquem um maior espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve, o que tende a prejudicar o rendimento dos títulos denominados em dólar e, assim, enfraquecer a moeda americana mundialmente.
EUA: Histórico e expectativa para a taxa de juros – 28 de fevereiro de 2025
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Refere-se à aposta com maior probabilidade no mercado futuro de juros na data indicada.
PIB e receios fiscais no Brasil
Impacto esperado no USDBRL: altista
Em uma semana encurtada pelo feriado prolongado de carnaval, os investidores aguardam pela divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do quarto trimestre, cuja estimativa mediana aponta para uma expansão de 3,5% em 2024. Entretanto, o crescimento deve ter se desacelerado no último trimestre mesmo diante de um estímulo mais vigoroso dos gastos públicos. Nesse sentido, o dado pode reforçar o pessimismo de investidores em relação à trajetória das contas públicas no país, visto que, na semana passada, prevaleceu uma leitura entre os agentes do mercado financeiro que o governo federal deve ampliar as suas despesas para tentar recuperar seus índices de popularidade nas pesquisas e se tornar mais competitivo para as eleições de 2026. Esse pessimismo se aprofundou na sexta-feira passada, quando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, indicou a deputada Gleisi Hoffmann (PT-SP) para a Secretaria de Relações Institucionais, órgão responsável pela articulação política junto ao Congresso. Gleisi é uma crítica vocal às gestões do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e provavelmente será contrária a novos cortes de gastos pelo governo. Uma elevação das percepções de riscos fiscais pelos investidores, por sua vez, pode resultar em níveis mais elevados de exigência de prêmios de risco, enfraquecendo o real.
Decisão de juros do BCE
Impacto esperado no USDBRL: altista
Há consenso entre analistas de que o Banco Central Europeu (BCE) deve reduzir a sua taxa básica de juros de 2,75% a.a. para 2,50% a.a. tanto por conta de uma melhora nas projeções de inflação como, principalmente, pela estagnação da atividade produtiva do bloco de 20 países. Após essa decisão, contudo, é provável que o BCE adote uma postura mais cautelosa, buscando avaliar a evolução das condições econômicas e das condições comerciais com os Estados Unidos antes de decidir por mais cortes. No momento, a maior parte das apostas de investidores é de que a autoridade monetária faça mais dois cortes de 0,25 p.p. em 2025, em um esforço para recuperar o crescimento econômico. Cortes de juros pelo BCE, por sua vez, tendem a enfraquecer o euro, o que contribui indiretamente para um fortalecimento da moeda americana.
Indicadores e Congresso na China
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Em uma semana cheia de eventos importantes na China, investidores devem reagir à divulgação da balança comercial dos meses de janeiro e fevereiro, que deve mostrar uma aceleração do ritmo de expansão das exportações por conta de um esforço das empresas do país de tentar se antecipar à aplicação de tarifas de importação pelos EUA. Adicionalmente, as autoridades chinesas devem divulgar um amplo conjunto de metas econômicas ao final da importante Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, na quarta-feira, e é possível que novas medidas de estímulos fiscais e monetárias sejam anunciadas, porém em uma escala menor e de forma complementar às medidas implantadas no ano passado. De toda forma, a expectativa é de que os indicadores e os anúncios das autoridades melhorem as perspectivas de crescimento econômico chinês em 2025, o que pode favorecer o desempenho de ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países emergentes, como o real.
TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
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