- Fatores baixistas
- Movimento de diversificação e diluição de riscos por investidores pode estimular a demanda por ativos arriscados e favorecer um fortalecimento do real.
- Possível arrefecimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China
- Dados mais enfraquecidos para a economia americana podem fortalecer expectativa de mais cortes de juros pelo Fed ao longo do ano.
- Fatores altistas
- Incertezas com tensões comerciais aprofunda receios de uma recessão econômica global, o que pode estimular a demanda por ativos “portos-seguros” e prejudicar o desempenho do real.
Resumo da semana passada
A semana foi marcada por oscilações acentuadas nos mercados cambiais, refletindo a instabilidade gerada por sinais contraditórios nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Episódios alternados de moderação e tensão alimentaram movimentos abruptos nos ativos financeiros, sustentando elevada volatilidade e incerteza quanto à trajetória dos fluxos globais.
O real encerrou a sessão desta sexta-feira (25) avançando frente ao dólar em cerca de 0,1%, com fortalecimento acumulado de 2,0% na semana, 0,3% no mês e 7,9% no ano, embora ainda registre desvalorização de 11,2% em 12 meses. Já o Dollar Index (DXY) fechou a semana com avanço de 0,6%, apesar da forte queda acumulada de 4,4% no mês e de 7,9% no ano, mantendo recuo de 5,6% em 12 meses.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX.
O MAIS IMPORTANTE: Possível amenização das tensões tarifárias entre EUA e China
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Ao longo desta semana, o mercado de divisas brasileiro repercutiu a oscilação do sentimento global desencadeada pelo impasse tarifário entre Estados Unidos e China. Episódios alternados de esperança e frustração, ora alimentados por manifestações conciliatórias, ora por elevações nas tensões entre os dois países, mantiveram elevada a volatilidade nos mercados financeiros.
Na terça-feira, primeiro pregão no Brasil após o feriado de segunda, a movimentação do real repercutiu a combinação entre novas críticas do presidente Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e do anúncio, pelo Departamento de Comércio norte-americano, de tarifas de mais de 3.400% sobre painéis solares fabricados no Sudeste Asiático — medida percebida como alvo indireto a empresas chinesas. Como consequência, a percepção de imprevisibilidade sobre a política monetária dos EUA e a sinalização de nova medida protecionista pelo país gerou um movimento de perdas generalizadas para ativos norte-americanos, o que por consequência favoreceu a valorização do real sobre o dólar.
Ainda na terça-feira, falas do secretário do Tesouro do Estados Unidos, Scott Bessent, de que a guerra comercial era “insustentável” favoreceram o movimento de valorização do real ao passo em que ativos considerados arriscados, como os principais índices acionários e moedas emergentes apreciaram-se mesmo em face de recuperação do Dollar Index (DXY). Essa dinâmica prolongou-se ao longo da quarta-feira, quando Trump passou a adotar tom mais moderado em entrevistas, descartando a demissão de Jerome Powell e sugerindo que deve haver reduções “substanciais” das tarifas contra a China em breve. Paralelamente, o governo chinês reforçou que permanecia disposta ao diálogo com a Casa Branca, o que intensificou a percepção de que uma negociação para a diminuição das tarifas entre os dois países pudesse estar acontecendo.
O quadro mais favorável, contudo, mostrou-se parcial. Na madrugada de quinta-feira, o Ministério do Comércio chinês negou a existência de negociações em curso, restaurando a percepção de impasse. Em resposta, Trump afirmou que “reuniões ocorreram pela manhã”, porém sem fornecer mais detalhes. O desalinhamento de discursos reacendeu dúvidas quanto à perspectiva de acordo, trazendo novamente incerteza à precificação dos ativos. Mesmo assim, a moeda brasileira manteve trajetória de apreciação frente ao dólar, à medida que investidores efetuaram fuga parcial para outras moedas e “portos-seguros” tradicionais, como o iene japonês e o franco suíço.
Para a próxima semana, a atenção se concentra na validade das declarações contraditórias de Washington e Pequim. Na manhã dessa sexta-feira, novas notícias sugeriram que a China estaria avaliando a suspensão de suas tarifas de importação para determinados produtos norte-americanos. Adicionalmente, o governo chinês teria solicitado às empresas locais que identificassem bens essenciais cuja importação isenta de tributos seria considerada prioritária. Nesse âmbito, caso surjam sinais concretos de agenda de negociações — encontros públicos, cronograma de redução tarifária ou comunicação conjunta — o apetite por risco tende a firmar-se, permitindo nova rodada de fortalecimento das moedas emergentes e potencial de novos avanços do real. Por outro lado, persistindo a retórica conflitante ou ampliando-se as tarifas, o mercado deverá precificar prêmio de risco adicional, elevando a volatilidade e abrindo espaço para correção altista do dólar. Em síntese, a direção do real seguirá dependente do equilíbrio entre suavização ou não das tensões comerciais, persistindo um viés de amplas oscilações enquanto não houver clareza sobre o desfecho do conflito.
Dados de emprego e PIB dos EUA
Impacto esperado no USDBRL: baixista
A próxima semana concentra, adicionalmente, diversas divulgações de indicadores econômicos para os Estados Unidos. Entre eles, destaca-se o Relatório da Situação de Emprego (“payroll”) de março na sexta-feira (04), cuja mediana de projeções antecipa um recuo na geração de empregos, passando de um saldo acima do esperado de 228 mil novos postos de trabalho registrados em fevereiro para 130 mil estimados em março. Ainda no âmbito do mercado de trabalho, a semana contará ainda com a publicação da Pesquisa de Abertura de Vagas e Turnovers (JOLTs) de fevereiro, na terça-feira (29), e do Relatório de Emprego do Setor Privado (ADP) de março, na quarta (30). Além dos dados sobre o mercado de trabalho, será apresentada também a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2025. A expectativa mediana aponta para uma expansão de 0,4% no período, resultado inferior tanto aos 2,4% registrados no trimestre anterior quanto ao crescimento de 1,4% observado no primeiro trimestre de 2024.
Caso confirmadas, essas estimativas podem intensificar a preocupação dos investidores em relação ao dinamismo do mercado de trabalho americano, especialmente se acompanhada de outros indicadores de atividade econômica abaixo do esperado ao longo da semana. Embora os dados recentes sigam apontando para um enfraquecimento apenas incipiente da economia do país, investidores se mostram pessimistas por receio de que algumas políticas econômicas do governo Trump possam prejudicar as condições, como a aplicação de tarifas à importação, a paralisação de contratações e demissões em larga escala promovidas pelo governo federal dos EUA. Isto, por sua vez, pode aumentar as apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve neste ano, o que tende a reduzir a atratividade dos títulos dos EUA e contribuir para um cenário de desvalorização global do dólar.
Variação no total de empregos urbanos (mil pessoas) e da taxa de desemprego (%) nos Estados Unidos
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics (BLS), Federal Reserve Bank of St. Louis. Elaboração: StoneX.
Taxa Ptax de fim de mês
Impacto esperado no USDBRL: indefinido
Após novo mês de instabilidade, a taxa de câmbio do real deve apresentar volume de negócios e volatilidade mais elevados na próxima quarta-feira (30), dentro das janelas de horários utilizadas pelo Banco Central para o cálculo da taxa Ptax de fim de mês, ou seja, entre 10h00min e 13h10min. A Ptax é uma referência divulgada diariamente pelo BC e seu valor de fim de mês é muito utilizado em contratos de câmbio e derivativos. Desta forma, os operadores do mercado intensificam suas operações durante estes intervalos, disputando a sua definição.
TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
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