Semanal de Café

Cenário macroeconômico pressiona as cotações de café
 
Fernando Maximiliano
 
Leonardo Rossetti
 
Apesar do recuo de 64 mil sacas nos estoques certificados de café arábica, os preços foram pressionados pelo sentimento de aversão ao risco em meio a perspectiva de recessão na economia global
Resumo

•    Cotações de café arábica recuaram 420 pontos (1,9%) em NY na semana, encerrando cotado a US₵ 220,45/lb. 
•    Indicador Cepea de café arábica teve queda de 0,7% na semana, cotado a R$ 1.348,87/saca.
•    Preços de café robusta recuam 1,25% em Londres, para USD 1981/ton.
•    Indicador Cepea para o robusta avançou 0,4%, fechando em R$ 706,76/sc.
•    Sentimento de aversão ao risco pressiona as cotações de café
•    Autoridade aduaneira do Vietnã indica queda de 3,5% nas exportações em junho
•    Estoques certificados de café robusta seguem avançando
•    Estoques certificados de café arábica caíram mais de 64 mil sacas na semana
•    USDA: importações de café nos EUA caíram 23% em maio
•    Relação de troca entre café e fertilizantes apresentou importante recuo nos últimos meses
•    Depois de atingir máximas desde janeiro, dólar fecha em leve queda em semana marcada por volatilidade
•    Temor por recessão e expectativa de forte alta na taxa de juros americana impulsionaram dólar no exterior
•    Tramitação da PEC dos Auxílios na Câmara tende a seguir contribuindo para elevar risco fiscal no Brasil
•    Nesta semana, agentes devem acompanhar a divulgação da inflação nos Estados Unidos e PIB do 2º trimestre na China

   Fatores baixistas       Fatores altistas

Apesar da condição relativamente positiva no ponto de vista dos fundamentos, com a forte queda nos estoques certificados, os preços de café estiveram sob grande influência dos fatores macroeconômicos e cambiais. As preocupações com relação a uma possível recessão econômica global alimentaram o sentimento de aversão ao risco, o que promoveu forte alta do dólar index, que indica o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas de países desenvolvidos, e fuga dos investidores de ativos de risco, como as commodities. Como reflexo desse movimento, os preços de café arábica terminaram a semana com queda de 420 pontos (1,9%) para o contrato mais ativo (set/22), que terminou a semana cotado em US₵ 220,45/lb.

Considerando os fundamentos de robusta, os dados preliminares de exportação divulgados pelo GSO no Vietnã, indicaram que as exportações do país em junho deveriam totalizar 2,4 milhões de sacas, postando um avanço de 13,3% se comparado com o mesmo mês do ano passado. No entanto, os dados oficiais divulgados na última semana pela autoridade aduaneira do Vietnã, indicaram que as exportações do país na realidade recuaram 3,5% em junho, para 2,29 milhões de sacas. Apesar deste cenário, o acumulado das exportações nos primeiros 9 meses do ano-safra vietnamita, que começou em outubro/21, indicou que o país exportou 22,07 milhões de sacas, postando um aumento de 13,9%. 

Seguindo as movimentações de Nova Iorque, os contratos futuros de café robusta também terminaram a semana em queda, pressionados pelos fatores macroeconômicos. Além disso, outro fator que tem contribuído para pressionar as cotações do robusta é avanço nos estoques certificados para o tipo, que tem crescido em meio a chegada de cafés Vietnamitas, principalmente, mas também cafés oriundos da Indonésia. Em Londres (ICE Europe), a tela de setembro fechou a sexta-feira cotada em USD 1981/t, recuo de 1,25%.
 

Intraday Semanal (Contrato mais ativo) - 04/07 a 08/07

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

Seguindo a movimentação no mercado internacional, as cotações de café arábica no mercado doméstico brasileiro terminaram a semana em queda. O indicador CEPEA para o café arábica encerrou a sexta-feira cotado a R$ 1.348,87/saca, um recuo semanal de 0,7%. Já para o café robusta, o indicador CEPEA terminou a semana com um avanço de 0,4%, fechando cotado a R$ 706,76/saca. 

Com relação aos estoques certificados de café arábica, não houve mudanças no cenário que tem sido observado nas últimas semanas. Na semana, os estoques certificados de arábica recuaram mais de 64 mil sacas e rompeu o patamar das 800 mil sacas, fechando a semana com apenas 789.981 sacas. Como já foi abordado em outras edições, os diferenciais em patamares elevados e os custos de frete em patamares relativamente elevados desencorajam novas certificações. Além disso, é possível que novas quedas nos estoques aconteçam, já que faz sentido descertificar cafés em meio a conjuntura atual dos diferenciais e frete.  

Sem grandes mudanças no campo dos fundamentos, o mercado de café continuará de olho nas movimentações nos estoques certificados de café arábica. Além disso, o clima no Brasil está no foco das atenções dos agentes, que estão tentando antecipar o que poderia afetar a florada do café, que terá início nos próximos meses. Ademais, serão monitorados os dados de exportação do Brasil, que não foram divulgados até a edição deste relatório, e os dados dos estoques nos EUA, que será divulgado pelo GCA na sexta-feira (15).

USDA: importações de café nos EUA caíram 23% em maio

Os dados de importação divulgados pelo USDA indicaram que os EUA importaram 1,8 milhões de sacas de café em maio, representando uma queda de 23% se comparado com abril e uma queda de 17% se comparado com maio de 2021. No entanto, quando analisamos o acumulado das importações (jan-mai) os EUA importaram 10,14 milhões de sacas, volume 6,8% maior se comparado com o mesmo período do ano passado. 

Sazonalidade das importações de café nos EUA (milhões de sacas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 
Se considerarmos os estoques de café nos portos americanos, houve uma queda de 19,5% no volume de café que foi internalizado, ou seja, volume de café que saiu dos portos, para um total de 1,74 milhões de sacas – indicador calculado a partir do balanço entre as importações e os estoques de café nos portos. No entanto, o acumulado do indicador para os 5 primeiros meses do ano totalizou 9,96 milhões de sacas, volume 5,3% maior se comparado com o mesmo período do ano passado. Apesar do forte recuo nas importações em maio, este cenário deve ser analisado com cautela, devido aos ainda existentes problemas nas cadeias logísticas globais em meio a pandemia da Covid-19.
Relação de troca entre café e fertilizantes no Brasil apresentou importante recuo nos últimos meses

Do ponto de vista fundamental, o desenvolvimento da safra de café para a próxima temporada segue no foco dos agentes, que além de monitorar o clima, avaliam a relação de troca (RT) e o possível nível de adubação nas lavouras de café, fator que está diretamente ligado ao potencial produtivo das lavouras. Com os problemas causados pela pandemia da Covid-19 e o início da guerra russo-ucraniana, foram geradas grandes incertezas com relação a disponibilidade e ao uso potencial dos fertilizantes nas lavouras. 

Um dos indicadores mais importantes é a relação de troca entre café e os principais fertilizantes, o que mostra quantas sacas de café são necessárias para adquirir 1 tonelada do referido fertilizante. Quanto menor a relação de troca, mais acessível está o fertilizante ao produtor, enquanto uma relação de troca elevada é desfavorável para o produtor. 

Relação de troca de café e fertilizantes (Ureia, KCl, MAP e SAM)

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Fonte: StoneX. Elaboração: StoneX.
A relação de troca da ureia apresentou forte recuo nos últimos meses, recuando de quase 3,5 scs/ton em abril para menos de 2 scs/ton em junho, índice dentro da média de 5 anos e substancialmente abaixo do nível observado no ano passado. Por outro lado, a relação de troca do cloreto de potássio (KCl) recuou da máxima, mas voltou a avançar, se posicionando ainda em patamar elevado, acima do que foi observado em 2021 e bem acima da média de 5 anos. 

Assim como a Ureia, tanto o fosfato monoamônico (MAP) como o sulfato de amônio (SAM), apresentaram forte recuo em sua relação de troca com o café nos últimos meses, porém ainda estão acima da média dos últimos 5 anos, mas em patamar similar ao observado em 2021. 

Como foi mencionado, o cloreto de potássio segue sendo o fertilizante menos acessível aos produtores, enquanto a ureia segue como o fertilizante com a melhor relação de troca. Considerando o cenário atual, apesar da elevada RT para KCl, os fertilizantes de forma geral seguem acessíveis, o que pode contribuir para uma adequada fertilização das lavouras no segundo semestre de 2022. 

Depois de atingir máximas desde janeiro, dólar fecha em leve queda em semana marcada por volatilidade

Em uma semana de grande volatilidade no mercado cambial, o dólar encerrou a sexta-feira (8) cotado a R$ 5,27, em valorização de 1,0% e longe de suas máximas no período. Depois de forte aversão ao risco até a terça-feira, quando a taxa de câmbio e aproximou dos R$ 5,40, afetada pelo temor com uma recessão global, pelas perspectivas de manutenção de uma postura contracionista do Federal Reserve e pela tramitação da PEC dos Auxílios na Câmara dos Deputados no Brasil, a segunda metade da semana foi marcada por correções e recuperação da divisa brasileira.

No exterior, os agentes repercutiram principalmente a divulgação da ata da decisão do Comitê Federal de Política Monetária (FOMC) do Federal Reserve, referente a reunião realizada entre 14 e 15 de junho, e os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em um primeiro momento, a ata, sem grandes novidades e reforçando a mensagem clara de que o banco central atuará com firmeza para controlar a inflação, foi considerada descontextualizada, diante da publicação de números mais fracos para a atividade econômica e dos receios crescentes de uma recessão da economia americana desde então. Parte do mercado não acredita que o banco central americano conseguirá realizar um “pouso suave”, ou seja, controlar a aceleração de preços no país sem sacrificar o crescimento da economia ou o nível de empregos durante o processo.

Todavia, a surpresa positiva nos dados do mercado de trabalho americano em junho, acima do esperado, deu um indicativo de que a autoridade monetária possa manter o ritmo de elevações intensas da taxa básica de juros na decisão do final de julho. De acordo com o Departamento de Estatísticas de Trabalho (BLS), foi contabilizado em junho um saldo líquido de contratações de 372 mil pessoas, número bastante acima da mediana das apostas do mercado, de 268 mil, e apenas ligeiramente abaixo do observado em maio, quando foi registrada a criação de 384 mil vagas. Adicionalmente, declarações do integrante do FOMC reforçaram a inclinação da autoridade monetária em seguir com um novo ajuste de 75 pontos base na reunião do final deste mês, além de afirmarem que consideram adequado levar a taxa básica aos 3,5% a.a. até o final de 2022. Será importante acompanhar as declarações dos demais membros do Fed ao longo desta semana para verificar se a forte intensidade no aperto monetário continua como opinião unânime entre o colegiado.

No Brasil, o noticiário político, com o avanço da PEC dos Auxílios e sua aprovação em comissão especial na Câmara dos Deputados, dominou as atenções durante grande parte da semana, em meio às preocupações com a deterioração das estatísticas fiscais do país. A proposta inclui o aumento do Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, a concessão de subsídios para o etanol e o transporte gratuito de idosos, a criação de um voucher de R$ 1000,00 para caminhoneiros autônomos e um auxílio-gasolina para taxistas, com um custo estimado de R$ 41,25 bilhões que não respeita a regra do teto de gastos ou prevê qualquer contrapartida pelo lado da arrecadação. Para se esquivar da lei eleitoral, que proíbe a criação ou ampliação de programas sociais em ano de eleições, o texto da PEC institui estado de emergência no Brasil. O maior desequilíbrio nas contas públicas e no endividamento tende a ser acompanhada da exigência de um prêmio de risco maior por parte dos investidores, o que, por sua vez, pode enfraquecer o fluxo de capital estrangeiro ao país e o real.

Ademais, o IBGE divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 0,67% em junho, em linha com o esperado pelo mercado, mas voltando a indicar aceleração ao superar a alta de 0,47% registrada em maio. Com isso, o acumulado em 12 meses avançou de 11,73% no mês anterior para 11,89%, contabilizando o décimo mês consecutivo com dígitos duplos para o Índice.

O relatório revelou uma desaceleração no aumento de preços do café torrado e moído ao consumidor brasileiro, que registrou um aumento de 0,21%, menor variação desde fevereiro de 2021, quando registrou queda de 0,23%. Com o resultado, os preços registram avanço de 14,87% no primeiro semestre de 2022, com o acumulado em 12 meses recuando de 67,0% no em maio para 61,8% no último mês. Já o café solúvel marcou um aumento nos preços de 0,65% em junho, também abaixo dos 3,58% registrados no mês anterior, mas com o acumulado em 12 meses avançando de 19,22% para 22,12%.

Evolução da inflação sobre o café torrado e moído no Brasil nos últimos 12 meses

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Fonte: IBGE. Elaboração: StoneX.
Na agenda desta semana no exterior, o mercado deve acompanhar especialmente o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), que está previsto para a próxima quarta-feira (13), o Índice de Preços ao Produtor (PPI), que será divulgado na quinta-feira (14). A mediana das expectativas do mercado aponta para uma alta de 1,1% do CPI em junho, em ligeira aceleração em comparação com a variação de +1,0% computada em maio, levando o acumulado de 12 meses do indicador para 8,8% – seu maior valor desde janeiro de 1982. Merece atenção também a divulgação do PIB do segundo semestre para a economia chinesa, na quinta-feira. No Brasil, os agentes devem acompanhar a votação da PEC dos Auxílios na Câmara dos Deputados, que deve acontecer nesta terça-feira (12), e a divulgação pelo IBGE das pesquisas mensais de serviços e do comércio referentes a maio.
tabela de indicadores
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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
 

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