O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) iniciou na última semana a divulgação de seus relatórios Attaché com a atualização semestral de suas estimativas de produção para alguns dos principais produtores globais de café. Entre eles, Vietnã, Colômbia e Indonésia. Nesta semana, foi divulgada a atualização das perspectivas do Departamento também para o Brasil. Segue abaixo um resumo e análise sobre os principais pontos dos relatórios.
Brasil
A produção brasileira na temporada 2022/23 foi ajustada pelo USDA para 62,6 milhões de sacas, uma redução de 1,7 milhões em relação à estimativa anterior, com todo o ajuste ocorrendo sobre a produção de café arábica, que foi reduzida para 39,8 milhões, enquanto a estimativa para o robusta permaneceu em 22,8 milhões de sacas. Segundo o relatório, a justificativa para a redução se deu em função dos problemas climáticos que o país enfrentou, desde as geadas em 2021, chuvas abaixo da média e clima mais quente entre o final de 2021 e primeiro semestre de 2022.
Apesar de USDA ser uma importante referência para o mercado global, sua estimativa anterior, de 64,3 milhões de sacas, era considerada demasiadamente otimista, não representando o sentimento da maior parte do mercado. Após os problemas climáticos, atrasos das chuvas provocados pelo La Niña, diversos agentes vinham reduzindo suas estimativas para a safra, com sua parte recuando para abaixo de 60 milhões de sacas e se aproximando das estimativas divulgadas pela StoneX em fevereiro, de 58,9 milhões de sacas.
Apesar de o número revisado ainda estar acima da maior parte das estimativas, o Departamento acompanhou a tendência de redução e de uma safra menor, fator que temos destacados nossos relatórios deste julho, quando diversos agentes e parceiros da StoneX reportaram uma colheita com rendimento abaixo do esperado. O documento ainda mencionou o fato de as estimativas de Conab (50,38 milhões de sacas) e IBGE (52,2 milhões) serem significativamente inferiores às suas, destacando que estas são realizadas através de uma metodologia diferente. O USDA estima que a área plantada tenha se mantido inalterada em 2022/23, em 2,5 milhões de hectares, com a produtividade revisada de 31,83 para 30,99 sacas/ha.
Amplitude das estimativas do mercado para a produção brasileira de café (milhões de sacas)
O número estimado para consumo doméstico em 2022/23 se manteve em 22,45 milhões de sacas, sendo 21,5 milhões de café torrado e 950 mil em café solúvel, avanço de 1,0% frente às 22,34 milhões estimadas na safra 2021/22. A perspectiva de exportação foi reduzida em 2,4 milhões de sacas para 36,65 milhões, devido a permanência de gargalos logísticos e dados atualizados fornecidos pela indústria. Destas, 33 milhões seriam de café verde, com solúvel atingindo 3,6 milhões. As exportações da temporada 2021/22 foram elevadas em 1,69 milhão de sacas para 39,68 milhões, ficando bastante próximas dos números oficiais divulgados pelo Cecafé. Os estoques de passagem em 2022/23 foram elevados de 3,58 milhões de sacas para 4,12 milhões.
Colômbia
A chuva excessiva e menor incidência de raios solares nos últimos 2 anos que continuam afetando a produção colombiana, reflexo da permanência dos efeitos do La Niña na região, foram uma das principais justificativas para que o USDA reduzisse em 3,1% sua expectativa para a produção em 2022/23, indo de 13 milhões de sacas para 12,6 milhões. Vale destacar a revisão para a temporada 2021/22, que passou de 13,0 milhões de sacas para 11,8 milhões, uma variação de -9,2%, especialmente pelos efeitos negativos que as precipitações e baixa luminosidade, acima do normal, trouxeram para o período de florada, resultado em uma menor produtividade.
A expectativa para o consumo na temporada corrente se manteve inalterada, em 2,2 milhões de sacas, e em estabilidade em relação à temporada anterior. Segundo o USDA, a perspectiva de retração da economia colombiana em 2023, junto de alta inflação e forte desvalorização do peso colombiano, devem impedir que o consumo do país se expanda.
Estimativas para a produção de café na Colômbia (milhões de sacas)
Devido à menor produção, a perspectiva para as exportações foi reduzida em 2,3% ante o último relatório, para 12,7 milhões. Os embarques colombianos em 2021/22 sofreram redução de 5,7%, passando de 13,1 milhões para 12,4 milhões. Já a projeção para as importações da Colômbia foi elevada em 13,5% para 2,1 milhões de sacas na atual temporada, devido a um aumento da demanda local e redução da produção nacional de cafés de menor qualidade, com os cafés de alta qualidade sendo priorizados para a exportação. As importações em 2021/22 também sofreram revisões significativas, saltando de 1,8 milhões para 2,1 milhões, variação de +15,5%. O Brasil deve continuar sendo o grande fornecedor de café à Colômbia, seguido do Peru, Honduras e Equador. Os estoques de passagem para a atual temporada colombiana foram reduzidos de 485 mil sacas para 455 mil sacas.
Vietnã
O relatório semianual do USDA apresentou uma leve correção para as estimativas da produção de café no país asiático em 2022/23, com uma redução de 2,2% com relação a estimativa anterior, divulgada em junho, e 4,3% menor que a produção do país em 2021/22, para um total de 30,22 milhões de sacas, sendo 29,2 milhões a produção de robusta. De acordo com a análise, refletindo os impactos do La Niña no clima, os volumes de chuva observados nas regiões produtoras de robusta foram maiores que a média entre os meses de janeiro e julho deste ano. A manutenção do La Niña até o início de 2023 é um ponto de atenção, pois pode resultar em um excesso de chuva no país durante o período de colheita.
Apesar do clima favorável no ponto de vista da disponibilidade hídrica, a menor produção foi atribuída por traders a uma questão de um ciclo com menor produção ou à menor aplicação de fertilizantes, devido aos preços elevados em 2022. De acordo com o Ministério da Indústria do Vietnã (VITIC, sigla em inglês), as importações de fertilizantes tiveram uma queda de 29% nos primeiros 9 meses do ano, mas um aumento de 12% em valor.
Com relação ao consumo, o relatório enfatiza a forte recuperação da economia Vietnamita, que cresceu 8,83% nos primeiros 9 meses deste ano, com a estimativa do Banco Mundial para o PIB do país avançando de 2,6% em 2021, para 7,5% em 2022. A recuperação em vários setores da economia suportou uma forte recuperação do consumo de café fora de casa, modalidade que havia sido impactada em meio a pandemia da Covid-19. Desta forma, o USDA mantém sua estimativa para o consumo do país em 3,3 milhões de sacas, representando um avanço de 3,1% com relação ao ano passado.
As exportações totais do país foram estimadas em 27,65 milhões de sacas, sendo 24,5 milhões de café cru. Apesar da redução de 1,6% com relação à estimativa anterior, o volume estimado é apenas 0,2% inferior ao observado em 2021/22. Em linha com o que tem sido apresentado nos relatórios da StoneX, o USDA pontuou que o café robusta vietnamita tem sido negociado com um desconto em relação ao café conilon brasileiro e o robusta de países africanos, o que torna o café vietnamita mais competitivo. Refletindo este cenário, o volume exportado no país teve um avanço de 11,15% entre 2020/21 e 2021/22.
Indonésia
O USDA manteve suas estimativas para a produção total de café no país em 2022/23, estimado em 11,35 milhões de sacas, o que representa um aumento de 7,3% com relação à produção em 2021/22, sendo 10 milhões de sacas a produção de robusta. O avanço na produção foi justificado por um avanço na produtividade média do país. No entanto, foi ressaltado que, como reflexo do La Niña, houve um adiantamento do início da temporada chuvosa do país, o que impactou negativamente a qualidade do café.
O consumo de café na Indonésia em 2022/23 foi estimado em 4,77 milhões de sacas, o que é 0,6% menor que a estimativa anterior, divulgado em junho, porém 0,4% maior que o volume estimado para 2021/22. A redução no consumo foi justificada pelo aumento nos custos dos combustíveis, principalmente, o que afetou o poder de compra dos consumidores. Ademais, pondera que o consumo fora de casa está em ascensão desde o ano passo, no processo de recuperação pós pandêmico.
As exportações do país em 2022/23 foram estimadas em 7,75 milhões de sacas, sendo 6,6 milhões de café cru, cuja estimativa foi aumentada em 100 mil sacas (1,5%) com relação à estimativa anterior. As exportações totais de café cru devem ter um aumento de 4,4% se comparado com 2021/22. O aumento nas exportações foi justificado por um aumento da demanda internacional e pela desvalorização da moeda local. Vale a pena lembrar que o Brasil, segundo maior produtor do tipo robusta, teve uma redução de mais de 60% nas exportações, devido a um forte aumento nos preços causado pela demanda da indústria brasileira, o que favoreceu as exportações do Vietnã e da Indonésia.
Índia
A produção total de café na Índia foi estimada em 6,24 milhões de sacas em 2022/23, representando um aumento de 8,7% se comparado com a estimativa anterior e 5,4% maior que a produção de 2021/22. Destes, 4,92 milhões de sacas são de café robusta e 1,32 milhão de café arábica. De acordo com o relatório a maior disponibilidade de água é o principal motivo por trás do avanço na produção de café.
O consumo de café no país foi estimado em 1,32 milhões de sacas, representando um incremento de 6,8% com relação a estimativa anterior e 8,2% se comparado com 2021/22. O aumento no consumo tem refletido aumento das vendas de café solúvel para consumo em casa – a adoção do modelo de trabalho híbrido tem gerado um aumento no consumo de café em casa no país. As exportações foram estimadas em 6,225 milhões de sacas, sendo 4,17 milhões de sacas de café cru. As estimativas das exportações de café cru tiveram um avanço de 6,4% se comparado com a estimativa anterior, mas é 15% inferior as exportações de 2021/22.
Atualização parcial das estimativas do USDA
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