Semanal de Café

Futuros de café terminam a semana com leve queda
 
Fernando Maximiliano
 
Leonardo Rossetti
Do ponto de vista dos fundamentos, preocupação com a demanda de café segue no foco dos agentes
Resumo

•    Futuros de café arábica recuaram 5 pontos (0,03%) em NY, para US₵ 177,80/lb
•    Preços futuros de café robusta recuaram USD 22/t em Londres (1,0%), para USD 2140/ton
•    No mercado doméstico, os preços de café arábica e robusta recuaram 1,9% e 5,9% respectivamente
•    Preocupação com demanda mundial de café segue como fator baixista
•    Exportações brasileiras de café tiveram queda de 33% em fevereiro
•    Importações de café nos EUA tiveram queda de 14,5% em janeiro
•    Demanda de café nos EUA segue se recuperando, mas ainda não superou 2019
•    Ameaça de crise bancária nos EUA eleva aversão ao risco e afeta mercado de divisas 
•    Dólar fecha semana próximo da estabilidade no Brasil, mas inicia segunda-feira com tendência de alta
•    Falência do banco americano SVB altera expectativas por decisão de juros nos EUA
•    Divisas que compõem o dollar index avançam em relação à moeda americana
•    CPI, PPI e decisão do BCE são destaques na semana

   Fatores baixistas       Fatores altistas

Dominado por fatores técnicos e macroeconômicos (leia a sessão de macro deste relatório), os preços futuros de café arábica apresentaram volatilidade, mas terminaram a semana quase inalterados. Também sobre efeito de fatores técnicos, mercado de café robusta terminou a semana em leve queda. De forma geral, o mercado espera por um novo direcionamento no ponto de vista dos fundamentos, enquanto digere e acompanha de perto os indicadores ligados ao consumo de café. Parte dos players estiveram viajando durante alguns dias da semana para participar da convenção da National Coffee Association (NCA), que aconteceu em Tampa-FL. 

Em Nova Iorque, o contrato mais ativo teve uma queda de apenas 5 pontos (0,03%), fechando a semana cotado em US₵ 177,80/lb. Para o café robusta, o contrato mais ativo terminou a semana com perdas de USD22/t (1,0%), fechando cotado em USD 2.140/t. 

Intraday semanal (contrato mais ativo) - 06/03 a 10/03

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

No mercado doméstico brasileiro, os preços futuros de café arábica e robusta terminaram a semana em queda. O indicador CEPEA para o café arábica terminou a semana com perdas de 1,9% cotado em R$ 1.092,87/saca. Para o café robusta, os preços terminaram a semana com perdas de 5,9%, com o indicador CEPEA fechando a sexta-feira (10) cotado em R$ 650,75/saca. 

Como foi apresentado em outras edições deste relatório, do ponto de vista dos fundamentos, as atenções do mercado estão voltadas para as informações que podem indicar como está a demanda de café nos principais países consumidores. Nos dois primeiros meses de 2023, houve uma forte redução nas exportações brasileiras de café, o que, consequentemente, indica um menor recebimento de café nos países consumidores, principalmente nos EUA. 

Para compreender este cenário, é importante acompanhar os estoques de café nos EUA, que é o maior consumidor mundial de café. Portanto, nesta semana, as atenções estarão voltadas para a divulgação dos estoques GCA referentes ao mês de fevereiro, que serão divulgadas no dia 15/03. Nos últimos 5 anos, os estoques GCA caíram em média 1% entre os meses de janeiro e fevereiro. Além disso, os estoques totalizaram em média 6,13 milhões de sacas no período. 

Exportações brasileiras de café recuaram 33% em fevereiro

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil exportou 2,39 milhões de sacas de café em fevereiro, representando uma queda de 33,3% se comparado com fevereiro de 2022. Destes, o Brasil exportou 2,11 milhões de sacas de café cru, com uma queda de 35,8%. As exportações de café robusta totalizaram 93,3 mil sacas (-42%) e de café arábica 2,03 milhões de sacas (-35,5%). Considerando a receita, o Brasil exportou 505,8 milhões de dólares (2,6 bilhões de reais), queda de 38.5%, a um preço médio de USD 211,13/saca. 

Sazonalidade das exportações brasileiras de café (milhões de sacas)

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Fonte: Cecafé. Elaboração: StoneX. 
A forte queda nas exportações brasileiras está associado a uma menor disponibilidade de café, devido à produção aquém do potencial em 2022, a uma demanda possivelmente enfraquecida e aos diferenciais elevados, o que desestimula as exportações brasileiras de café. 
Importações nos EUA tiveram queda de 14,5% em janeiro
De acordo com os dados divulgados pelo USDA, os EUA importaram 1,74 milhões de sacas de café em janeiro, representando uma queda de 14,5% se comparado com janeiro do ano anterior e de 2,3% se comparado com o mês anterior. O volume importado foi 7,7% inferior à média de importação para o mês de janeiro nos últimos 3 anos e 18% inferior ao volume importado em janeiro de 2019. A forte queda nas importações de café nos EUA vem em linha com o desempenho das exportações brasileiras em janeiro, que recuaram mais de 18% no mês. 
Evolução da importação mensal de café nos EUA
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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 
Enquanto as importações tiveram queda de 2,3% ou 41,7mil sacas, se comparado com o mês anterior, os estoques de café nos portos americanos, reportado pela GCA, diminuíram 1,77%, ou 112,9 mil sacas. Considerando o estoque do mês anterior, o volume importado e os estoques remanescente no final do mês, houve uma internalização, ou seja, café que saiu do porto nos EUA, de 1,85 milhões de sacas. O volume representa uma recuperação de 3,3% se comparado ao mês anterior, mas ainda 10,6% inferior ao observado em janeiro de 2022 e 3,8% abaixo da média dos últimos 3 anos. Se comparado com janeiro de 2019 e 2020, período pré pandêmico, o volume é 16% e 10% menor, respectivamente. Importante ressaltar que, apesar da queda nos estoques GCA em janeiro deste ano, o volume observado ainda é 8% superior ao observado em janeiro de 2022.
Ameaça de crise bancária nos EUA eleva aversão ao risco e afeta mercado de divisas

O dólar terminou a última semana próximo da estabilidade no mercado cambial brasileiro, com um avanço de apenas 0,1% no par real/dólar para encerrar cotado a USD 5,208. O ambiente macroeconômico global de maior aversão ao risco, com os receios de maiores elevações na taxa de juros americana, teve forte influência sobre as moedas commodities de maneira geral na maior parte da última semana.

Os agentes operaram sob maior cautela após as falas em tom mais duro do presidente do Fed, Jerome Powell, contra a inflação em seu depoimento ao Senado americano. Powell reforçou que o caminho para controlar a aceleração de preços é tortuoso, mas que o Fed está preparado para acelerar o ritmo de ajustes na taxa de juros se os dados de atividade e preços continuarem mostrando uma economia muito aquecida. Como complemento, Powell afirmou que os diversos resultados acima do esperado em janeiro indicam que o patamar máximo da taxa de juros poderia ser maior que o esperado anteriormente. Contribuiu para a visão apresentada pelo chairman o resultado do Relatório de Situação de Emprego de fevereiro dos Estados Unidos, divulgado na sexta-feira (10), que mostrou uma criação líquida de 311 mil novos postos de trabalho, contra uma expectativa de 223 mil. 

Todavia, também no final da semana, foi verificada uma fuga do dólar para outros ativos de segurança, tendência que se estende para esta segunda-feira, com a aversão ao risco dos agentes se elevando após a notícia de falência do banco americano Silicon Valley Bank (SBV). Como comentado no relatório de câmbio da StoneX, o ambiente de condições financeiras mais apertadas, juros mais elevados e queda na demanda por crédito acabou por trazer dificuldades financeiras à instituição. Desta forma, investidores receiam tanto que outros bancos possam estar em dificuldades semelhantes, quanto que este cenário reduza a credibilidade nas instituições financeiras e provoque um aumento injustificado de saques –com o potencial de causar uma nova crise a uma instituição que não estava exposta aos problemas originais.

Neste cenário, outras moedas avançadas considerada seguras, como a libra, o euro e o iene japonês, tem registrado uma valorização significativa frente à moeda americana nas últimas três sessões. No sentido oposto, o real, opera nesta segunda-feira (13) em seu terceiro pregão consecutivo de alta, caminhando para terminar em seu maior nível de fechamento em pouco mais de um mês. vale lembrar que tanto a alta do dólar em relação ao real quanto o ambiente de maior apreensão nos mercados têm potencial de afetar negativamente as cotações de café nesta semana.

Cotação do euro (EUR), libra (GBP) e real (BRL) em relação ao dólar

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

O cenário também é de mudança significativa nas apostas para a próxima decisão de política monetária do Fed no dia 22 de março. Se na última semana as apostas se dividiam entre um aumento de 0,25 p.p. e 0,50 p.p. na taxa de juros americana, hoje, 80% dos agentes acreditam em um aumento de 0,25p.p., enquanto os demais apostam que ela se mantenha inalterada.

Neste sentido, na agenda desta semana, a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e Índice de Preços ao Produtor (PPI) dos Estados Unidos nesta terça (14) e quarta-feira (15), respectivamente, devem ser indicadores chave para o sentimento dos mercados nos próximos dias. Adicionalmente, na quinta-feira (16) haverá a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), e na sexta (17) a divulgação do CPI da zona do euro, que também serão acompanhados de perto pelos mercados.

tabela de indicadores
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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
 

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