Semanal de Café

Mercado de café avança em meio a cenário macro favorável e preocupações com o clima
 
Fernando Maximiliano
Leonardo Rossetti
Apesar da expectativa de maior produção no Brasil, a queda nos estoques certificados e oferta limitada de café robusta tem dado suporte aos preços
 
Resumo

•    Futuros de café arábica avançaram 895 pontos (5%) na semana, para US¢ 186,65/lb.
•    Cotações de café robusta avançaram USD 160/ton (6,3%) para USD 2702/t.
•    Indicador Cepea para o café arábica terminou semana com alta de 1,2%, a R$ 1.005,37/saca.
•    Indicador Cepea para o café robusta avança 2,0%, terminando a sexta cotado a R$ 725,84/saca
•    Exportações vietnamitas de café caíram 8,5% em maio para 2,49 milhões de sacas
•    Dólar cai para R$ 4,87 e atinge mínima em um ano
•    Resultados favoráveis para PIB e IPCA no país tem favorecido valorização do real
•    Decisão do Fed e divulgação da inflação dos EUA em maio devem movimentar mercados globais na semana
•    Mercado de café ainda segue reativo à possíveis quedas nas temperaturas no Brasil
•    Estoques certificados de café arábica apresentaram queda de 23.129 sacas na semana
•    Importações de café apresentaram queda de 25% em abril nos EUA
•    USDA estima a produção brasileira em 66,4 milhões de sacas
•    No relatório attaché, USDA projeta consumo brasileiro em 22,56 milhões de sacas e exportações em 45,35 milhões

Na última semana, os preços futuros de café tiveram fortes avanços tanto em Nova Iorque como em Londres, refletindo a aproximação de uma massa polar no Brasil, a queda nos estoques certificados, a queda do dólar e a perspectiva de oferta limitada do robusta – dados do órgão aduaneiro do Vietnã mostram que as exportações do país em maio totalizaram 2,49 milhões de sacas, queda de 8,5% se comparado ao mês anterior, mas 5,2% acima do observado em maio de 2022. Além disso, na quinta-feira (08) ambos os pregões apresentaram a maior alta da semana em meio a ausência de players do Brasil devido ao feriado de Corpus Christi.

Em Nova Iorque, o contrato mais ativo de café arábica terminou a semana com ganhos de 895 pontos (5%), fechando a sexta-feira cotado em US₵ 186,65/lb. Em Londres, o contrato mais ativo apresentou ganhos de USD 160/ton (6,3%), fechando a semana cotado em USD 2702/ton. 

Intraday semanal (contrato mais ativo) – 05/06 a 09/06
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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

Um dos fatores por trás da valorização dos preços de café foi a queda do dólar, que, como será abordado a frente, recuou em meio aos resultado menor que o esperado da inflação no Brasil e dados mais fracos que o antecipado nos EUA. No Brasil dólar teve queda de 1,6%, fechando em R$ 4,87.

No Brasil, os preços praticados no mercado doméstico seguiram as movimentações observadas em Nova Iorque e Londres, terminando a semana em alta tanto para o café arábica como para o café robusta. O indicador Cepea para o arábica apresentou alta de 1,2%, fechando cotado em R$ 1005,37/saca. Para o robusta, o indicador Cepea terminou o período cotado em R$ 725,84/saca, representado um ganho de 2% na semana. 

Dólar atinge mínima em um ano no mercado cambial brasileiro
Influenciado principalmente resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abaixo do esperado para o Brasil e ainda embalado pelo resultado do PIB melhor que o esperado para o país, o dólar recuou 1,6% no mercado cambial brasileiro para terminar cotado a R$ 4,876, menor valor em um ano. Para o café, além dos aguardados dados das exportações brasileiras e as previsões de frente fria no final da semana, as cotações devem também receber a influência do cenário macroeconômico e das variações do dólar, que contarão a divulgação de indicadores chave nesta semana.

 

O maior destaque no ambiente macro fica para a decisão de política monetária do Federal Reserve na tarde da quarta-feira (14). Depois dos dados aquém do esperado para a economia americana, a maior parte das expectativas dos agentes é de que o banco central americano manterá a taxa de juros americana em estabilidade, no intervalo entre 5,00 e 5,25 p.p. ao ano, antes de realizar um último ajuste na decisão de julho. 

Neste sentido, fator que deve influenciar as expectativas para a decisão é o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de maio dos Estados Unidos, que será divulgado pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS) na terça-feira (13). A expectativa é de que o indicador passe de uma alta anual de 4,9% em abril para 4,1% em maio, com o núcleo do CPI, quando se exclui alimentos e energia, mostrando leve queda de 5,5% para 5,3%. Apesar de ser improvável que o resultado do CPI de maneira isolada influencie mudanças na decisão desta quarta, este pode afetar as declarações e análises dos membros da do Fed a respeito dos passos futuros da autoridade monetária.

Sendo assim, um resultado acima do esperado para o CPI, isto é, que demonstrem uma inflação ainda resiliente, tendem a influenciar nas apostas de novo ajuste da taxa básica em julho, bem como em sua manutenção em patamar elevado por mais tempo, o que tende a atuar como fator altista para a moeda americana. Por outro lado, caso se identifique no indicador sinais mais claros de arrefecimento na aceleração de preços ao consumidor, as cotações de moedas emergentes, como o real, e outros ativos de maior risco, como commodities, tendem a ser beneficiadas.

Mercado de café seguirá de olho no clima no Brasil, estoques certificados, exportações brasileiras e perspectivas para a demanda

Como tem sido comentado em outras edições deste relatório, a aproximação de qualquer onda de frio no Brasil tende a dar suporte às cotações de café, tendo em vista a memória dos agentes com a geada que aconteceu em 2021. Na última semana, a aproximação de uma massa polar contribuiu para a valorização observada. Os modelos mais recentes mostram uma queda nas temperaturas nas regiões produtoras, porém a temperatura deve ficar acima do nível capaz de provocar a geada nas áreas de café. Apesar dos modelos não apontarem para o risco do fenômeno no momento, qualquer nova onda poderia impactar os preços, sendo necessário o monitoramento. 

O último relatório divulgado pela ICE mostrou que os estoques certificados de café arábica apresentaram uma queda de 23.129 sacas na semana, totalizando 550.379 sacas na última sexta-feira (09). Os estoques certificados tendem a seguir esta trajetória até os diferenciais de preço nas origens se enfraqueçam ao nível de paridade, contribuindo para que novos cafés sejam certificados pela bolsa. Como apresentado no último semanal, a paridade para a certificação de cafés brasileiros está em torno de -14 a -15 cents/lb. Conforme levantamento da StoneX, os diferenciais de café tem perdido força no Brasil – no final de abril, os diferenciais FOB para o café semi-lavado 2/3 fine cup 14/16 era próximo de zero, no final de maio esse diferencial recuou para -6 cents/lb e na última semana foi visto em -9 cents/lb.

Estoques certificados de café arábica (milhões de sacas)

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Fonte: ICE. Elaboração: StoneX. 

Olhando para a semana, um dos pontos críticos serão os dados de exportação no Brasil em maio pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), cuja divulgação está marcada para a terça-feira (13) às 16 horas. Desde o início do ano as exportações brasileiras têm apresentado queda no comparativo anual, o que levanta dúvidas quanto à disponibilidade de café no Brasil e a demanda no exterior. 

Um dos pontos que tem sido discutidos nas últimas semanas é a preocupação dos agentes com o consumo de café. Com a interrupção na divulgação nos dados de estoques nos EUA pela GCA, o único indicador disponível é o volume importado nos país. Os dados divulgados pela USDA na última semana referente ao mês de abril mostraram que as importações de café no país totalizaram 1,78 milhões de sacas, o que representa uma queda de 25% se comparado com abril do ano passado, e de 9,2% se comparado com o volume importado no mês anterior. Além disso, o volume importado ainda é 15,5% abaixo da média de importação nos últimos 3 anos.

Importações mensais de café nos EUA (milhões de sacas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 
USDA estima a produção brasileira em 66,4 milhões de sacas em 2023/24

Na última semana o USDA divulgou seu relatório attaché do Brasil, com as expectativas da agência americana para a produção de café no país e outros indicadores importantes. De acordo com o relatório, a produção deve avançar 3,8 milhões de sacas (6%) se comparado com a temporada anterior, totalizando 66,4 milhões de sacas. A produção de café arábica deve totalizar 44,7 milhões de sacas, um aumento de 12%, e a produção de robusta 21,7 milhões de sacas, representando uma queda de 5%. 

Evolução das projeções do USDA para a produção no Brasil (milhões de sacas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 

De acordo com o USDA, o estado de Minas Gerais recebeu volumes de chuva acima da média em janeiro, o que dificultou o controle de pragas e doenças em algumas regiões. No entanto, a maior disponibilidade de água contribuiu para o desenvolvimento dos frutos, resultado em grãos mais pesados, aumentando a expectativa para a produção de café arábica. 

Para o café robusta/conilon, o USDA justificou a redução nas estimativas devido ao clima não adequado durante as etapas de desenvolvimento e as fortes rajadas de vento que foram observadas no Espírito Santo. Apesar do retorno das chuvas a partir de outubro do ano passado, algumas etapas iniciais do desenvolvimento foram impactadas pelo clima seco. 

Com relação ao consumo, a agência estimou um total de 22,56 milhões de sacas em 2023/24, sendo 21,6 milhões de café torrado moído e 960 mil de café solúvel, o que representa um aumento de 0,5% se comparado com a estimativa para 2022/23, que foi de 22,45 milhões de sacas (21,5 milhões de sacas de torrado & moído e 950 mil de solúvel). De acordo com o relatório, alguns indicadores econômicos como a expectativa de um crescimento modesto da economia, inflação e os altos preços de café no varejo criaram dificuldades para o crescimento do consumo no país. 

O USDA estimou que as exportações brasileiras de café em 2023/24 deverão totalizar 45,35 milhões de sacas, volume 26% maior que as exportações em 2022/23, estimada em 36,64 milhões de sacas. As exportações de café solúvel são estimadas em 4,3 milhões de sacas, representando um aumento de 20% se comparado com 2022/23, quando 3,6 milhões de sacas. Apesar do avanço, o relatório aponta que a guerra russo-ucraniana ainda segue impactando as exportações brasileiras de café solúvel. 

Projeções do USDA para as exportações brasileiras de café (milhões de sacas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 

De acordo com os dados apresentados, os estoques de café no Brasil devem totalizar 2,68 milhões de sacas em 2023/24, o que indica uma queda de 35% se comparado com os estoques finais do ciclo 2022/23, que foi estimado em 4,12 milhões de sacas. 

TABELA DE INDICADORES

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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
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