Semanal de Café

Futuros de café arábica terminaram mais uma semana em alta
 
Fernando Maximiliano
 
Leonardo Rossetti
A aproximação do inverno no hemisfério norte associado a fatores técnicos suportou um forte avanço nos preços futuros de café em Nova Iorque e em Londres
 
Resumo

•    Café arábica avançou 6,7%, fechando cotado em US₵ 165,25/lb
•    Cotações de café robusta avançaram 8,5% para USD 2479/ton
•    Cepea registra alta de 5,0% para o arábica e 2,5% para o robusta
•    Clima no Brasil segue como foco de atenção do mercado
•    Refletindo El Niño, Indonésia tem volume de chuva reduzido
•    Movimentações do café seguem alinhadas com complexo de commodities
•    Correlação entre os preços do café em NY e o índice CRB segue avançando
•    Fundos de Índice elevam suas apostas altistas, enquanto specs reduzem saldo vendido
•    Cenário macroeconômico continuará no radar dos agentes na semana

Na última semana, os preços futuros de café arábica estenderam seus ganhos em Nova Iorque, completando a segunda semana consecutiva em alta. Um conjunto de fatores, tanto técnicos, macroeconômicos e de fundamentos contribuiu para os avanços observados na semana. 

A aproximação do inverno no hemisfério norte, período com maior ritmo de consumo nos EUA e Europa, suportou os avanços nos preços para o primeiro contrato (dez/23), que ultrapassou os preços para o vencimento de mar/24, colocando estes contratos com curva futura inversa, ou backwardation. No entanto, os demais contratos, com vencimentos mais distantes, seguem com curva futura em carrego, o que indica que as preocupações dos agentes estão relacionadas a disponibilidade de café no curto prazo. 

Em Nova Iorque, o contrato mais ativo, de dezembro, terminou a semana com alta de 1035 pontos (6,7%), fechando o período cotado em US₵ 165,25/lb. Para o café robusta, o contrato mais ativo em Londres, com vencimento em janeiro, terminou a semana com ganhos de USD 195/ton (8,5%), fechando a sexta-feira (20) cotado em USD 2479/ton. 

Intraday semanal (contrato mais ativo) – 16/10 a 20/10

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

No Brasil, os preços de café no mercado doméstico seguiram as movimentações no exterior e terminaram a semana em alta. O indicador Cepea para o café arábica avançou 5,0% fechando a última sexta-feira (20) cotado em R$ 860,54/saca. Para o café robusta, o indicador avançou 2,5%, para R$ 652,27/sc.

Do ponto de vista técnico e macroeconômico, foi observado um movimento de cobertura de posições vendidas por parte dos fundos, além de o avanço nos preços estar relacionado à queda de 1% do dólar na semana. Além disso, os preços avançaram em consonância com o avanço no índice CRB das commodities, o que pode ser notado através do incremento na correlação entre os preços futuros de café e o índice, indicando um componente de tendência macro por trás dos avanços nas cotações – leia abaixo a sessão macro para mais detalhes. 

Para o café robusta, além dos fatores supracitados, os futuros da commodity também tem refletido o menor volume de exportação no Vietnã, o que confirma o cenário de oferta limitada e as preocupações com os possíveis impactos do clima na produção asiática. Os dados climáticos da Indonésia mostram que o acumulado de chuva nos últimos meses tem sido abaixo do observado no último ano e abaixo da média histórica para o período – a ocorrência do El Niño está associada a um clima seco e quente no Sudeste Asiático, o que pode impactar a produção de café robusta na região. Em outubro, os dados parciais até o último dia 22 também apontam volume inferior ao padrão histórico, devendo encerrar o terceiro mês consecutivo significativamente abaixo da média dos últimos 10 anos.

Acumulado mensal de chuva na Indonésia – acumulado até o dia 22 para o mês de outubro

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Fonte: NOAA/IRI/CPC. Elaboração: StoneX.

Do ponto de vista dos fundamentos, o clima continua sendo um dos pontos principais de atenção, com a ocorrência do El Niño adicionando nas preocupações com os impactos do clima na produção tanto no Brasil como nos outros países. No Brasil, a manutenção de um clima favorável tende a contribuir para um otimismo com a safra em 2024, no entanto, qualquer impacto do El Niño tem potencial para afetar o potencial produtivo na próxima temporada. 

Para o robusta, o clima seco na Indonésia tem um teor altista para as cotações, tendo em vista ainda que, caso venha a ser impactada, a produção do país completaria 2 anos com produção inferior em meio aos problemas com o clima – a safra do país já teve quebra de mais de 2 milhões de sacas devido aos impactos do La Niña. Por outro lado, o avanço da colheita no Vietnã, que deve se iniciar em meados de novembro, pode aliviar as preocupações com a oferta do produto.

 

Movimentações do café seguem alinhadas com complexo de commodities

Recentemente, as cotações de café, principalmente do arábica, têm acompanhado de maneira mais próxima as oscilações observadas no complexo de commodities, o que faz do cenário macroeconômico, além do mercado climático, a serem os principais fatores por trás das movimentações recentes nos preços. Neste sentido, atualizando o mesmo gráfico de correlações que trouxemos no semanal de café há duas semanas, podemos observar que a correlação com o Índice CRB de commodities, não só se manteve como se intensificou mais um pouco nas últimas semanas. Desta forma, as oscilações dos preços das matérias-primas em função do noticiário global, como o conflito entre Israel e Hamas, por exemplo, podem continuar tendo influência significativa também no café.

Correlação do café arábica em NY com o dollar index e o índice CRB de commodities

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Fonte: Refinitiv. Elaboração: StoneX.

Outro fator que corrobora este cenário é a movimentação que o último relatório CFTC mostrou. Segundo o relatório divulgado na última sexta-feira (20), no período entre 10 e 17 de outubro, os fundos de índices, que costumam acompanhar fundamentos macroeconômicos, elevaram sua posição liquidamente comprada em futuros e opções de café na bolsa de Nova Iorque de 42.949 lotes para 46.677 lotes, maior nível em cerca de um mês. Adicionalmente, os fundos especulativos reduziram o seu saldo vendido em 8.625 lotes, passando de 24.406 para 15.781 lotes liquidamente vendidos, evidenciando uma redução das apostas dos specs em um cenário baixista para o café.

Desta maneira, o cenário macro deve estar no foco dos agentes nos próximos dias, uma vez que, além do conflito no Oriente Médio, os investidores acompanharão a divulgação dos últimos indicadores econômicos para os EUA antes da próxima decisão de política monetária do Fed, no dia 1 de dezembro. Atualmente, depois de dados acima do esperado para o mercado de trabalho, inflação e atividade da indústria em setembro, a quase totalidade dos agentes aposta em uma manutenção da taxa básica no intervalo entre 5,25% e 5,50% a.a., com projeções de manutenção pelo menos até maio de 2024, o que tem contribuído para uma aversão ao risco mais elevada nos mercados globais de maneira geral. Nesta semana, se destacam a divulgação na quinta-feira (26) da primeira leitura para o PIB americano do 3º trimestre, com expectativa de crescimento mais intenso que no 2º trimestre, e do Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de setembro na sexta-feira (27), indicador mais usado pelo Fed para acompanhar inflação ao consumidor no país.

TABELA DE INDICADORES

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Fontes: ICE/NY; ICE/EU; B3; Commodity Network Trader’s Pro.
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