A economia dos EUA está em recessão, de acordo com os últimos dados divulgados. Contudo, isso não é uma surpresa para Wall Street, que se concentra no futuro e já tem precificado expectativas de uma recessão. Acredito que a estagflação é a maior ameaça para o país, mas isso é uma discussão para depois. O Federal Reserve fez o que Wall Street esperava na quarta-feira, confirmando antecipadamente uma recessão técnica. Desse modo, as últimas notícias têm sido absorvidas com calma, com as ações se firmando após a divulgação dos dados, enquanto o índice de volatilidade VIX recua abaixo dos 23 pontos à medida que as preocupações diminuem. O dollar index negocia próximo dos 106,6 pontos, após atingir mínimas de três semanas, em 106 pontos, no início da sessão. Os títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA negociam em mínimas de três semanas, próximo a 2,66%, enquanto os títulos de 2 anos recuaram para 2,82% após a divulgação dos dados na manhã de hoje. Os preços do petróleo estão em alta de quase 2%, enquanto os mercados de grãos e oleaginosas negociam majoritariamente em alta. A estagflação significa que a economia está estagnada enquanto a inflação continua a ser um problema. É isso que Wall Street tem precificado na manhã de hoje.
O produto interno bruto recuou a uma taxa anualizada de 0,9% no segundo trimestre, após queda 1,6% no primeiro trimestre. Isso significa trimestres consecutivos de crescimento negativo do PIB, o que define uma recessão. Os analistas previam um crescimento de 0,5%, embora o Federal Reserve de Atlanta tivesse previsto isso com precisão. As despesas de consumo pessoal aumentaram a uma taxa anual de 1,0% no segundo trimestre, contra um crescimento de 1,8% no primeiro trimestre e contra as expectativas dos analistas de um crescimento de 1,3%.
Na semana encerrada em 23 de junho, os novos pedidos de seguro-desemprego dos EUA totalizaram 256 mil, contra 249 mil na semana anterior. Além disso, o total da semana anterior foi revisado para 261 mil pedidos, 10 mil acima dos pedidos reportados originalmente. Com isso, a média móvel de quatro semanas avançou para 249.250, contra 243 mil na semana passada. Contudo, os pedidos contínuos tiveram queda de 25 mil, para 1,359 milhão de toneladas, com a média móvel de quatro semanas em 1,362 milhão, levemente acima das mínimas de 50 anos.
Vejamos agora estes dois relatórios em contexto. Os números do PIB refletem uma economia estagnada. Não há dúvidas quanto a isso. O número foi considerado negativo em grande parte devido a outro trimestre de estoques de lojas de varejo e concessionárias em queda devido aos problemas na cadeia de suprimentos. O mercado de trabalho continua extremamente apertado porque os empregadores continuam tentando contratar pessoas para atender pedidos de bens e serviços – para recompor os estoques. As despesas pessoais continuam em alta, embora a um ritmo mais lento do que o esperado. A economia se comporta de maneira estagnada, não de maneira recessiva. Os formuladores de políticas precisam definir corretamente o problema para abordá-lo de forma adequada. A inflação é o principal responsável, em grande parte devido ao fato de a demanda exceder a oferta. Há várias razões para isso, incluindo o estímulo expressivo que criou um aumento da demanda acima dos níveis normais em um momento em que as cadeias de suprimento foram afetadas pela Covid-19 e pelas políticas dos governos passados e atual.
O Fed pode trabalhar do lado da demanda, retirando os estímulos - reduzindo o balanço - e aumentando a sua taxa de juros de referência. É isso que a autoridade monetária tem feito. O trabalho teria sido muito mais fácil se tivesse reconhecido o problema um ano antes. No entanto, o banco central norte-americano também precisa de assistência do lado fiscal, o que significa uma ação por parte do Congresso. Isso é mais difícil. O Federal Reserve expressou preocupações acerca de uma economia em desaceleração no segundo trimestre na quarta-feira, ao mesmo tempo que voltou a destacar o seu compromisso de reduzir a inflação para 2%. Outra rodada de dados sobre a inflação acontecerá amanhã de manhã, fornecendo mais detalhes sobre as despesas de consumo pessoal em junho. Os analistas esperam que o principal número para a inflação nesse caso se posicione em 6,7%, acima dos 6,3% do mês anterior, com o índice PCE permanecendo inalterado em 4,7%. A inflação é um sintoma do problema, que o Fed agora tenta resolver. A autoridade monetária elevou a confiança de Wall Street, parecendo ter controle sobre o problema e um plano apropriado para lidar com ele. Na manhã de hoje, os juros futuros do Fed têm negociado expectativas de que o próximo aumento nas taxas de juros será de 50 pontos base em setembro, seguido de aumentos de 25 pontos base em novembro e dezembro.
Em Wall Street, a confiança é uma coisa inconstante que pode mudar com a próxima manchete, mas, por enquanto, tem permitido que os mercados de commodities se concentrem nos fundamentos de oferta e demanda. Em seu segundo dia, o giro de safra na Dakota do Norte tem registrado bons rendimentos, acima da média, mas não recordes. O principal foco do mercado esta semana continua na previsão de um padrão de clima quente e seco se espalhando por grande parte do Meio-Oeste dos EUA, à medida que entramos em agosto e que “pode” continuar até a metade do mês ou mais.
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