A elevação das taxas de juros e seu impacto esperado sobre a economia mundial continua a ser o principal tópico de discussão em Wall Street, acompanhando a decisão do Banco Central Europeu (BCE) desta manhã, e antes da próxima reunião do Federal Reserve, que acontecerá em uma semana. Os futuros de ações operavam de maneira geral em baixa nos primeiros negócios do dia, enquanto o VIX era negociado próximo de 26 pontos. O dollar index oscilava perto de 110,0 pontos esta manhã, depois de avançar para novas máximas de 20 anos nos últimos três pregões. Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos eram negociados perto de 3,29%, enquanto os rendimentos dos títulos de 20 anos se encontravam perto de 3,49%, ampliando ainda mais a inversão da curva futura. Os preços do petróleo operaram no mercado noturno em seu menor nível desde meados de janeiro, próximos de US$ 81/barril, antes de assumirem um rali esta manhã. O setor de grãos e oleaginosas operava misto nas negociações do mercado noturno.
O número de novos pedidos de seguro-desemprego caiu para 222 mil na semana encerrada em 3 de setembro, inferior aos 228 mil da semana anterior e muito abaixo das expectativas dos analistas de 240 mil solicitações do benefício. Com o resultado, a média móvel de quatro semanais foi reduzida a 233 mil pedidos, recuando de 240,5 mil na semana anterior. O acumulado dos pedidos de auxílio-desemprego foi elevado em 36 mil na semana encerrada em 27 de agosto para 1,473 milhões, com a média móvel de quatro semanas do indicador elevando-se a 1,439 milhões. Este é um dos dados-chave para monitorar ao buscarmos evidências de um desaquecimento do mercado de trabalho. A fim de desacelerar a inflação de salários, o Fed precisa elevar a taxa de desemprego – provavelmente a 5,5% ou mais – já que este é um dos principais componentes da inflação.
O Banco Central Europeu elevou sua taxa básica de juros em 75 pontos base, anteriormente em 0,0%, esta manhã – seu maior aumento na história. A autoridade monetária sinalizou que elevações adicionais da taxa de juros são praticamente certas, enquanto busca controlar a inflação e antes que as perspectivas de recessão do bloco se concretizem. A decisão acontece em um momento em que os indicadores de inflação ganham ritmo na Europa, com o BCE elevando sua projeção de inflação para 5,5%, acima dos 3,5% anteriores. É impressionante como os economistas dos bancos centrais ao redor do mundo foram lentos em reconhecer o escopo do problema inflacionário, resultando em lentidão em suas respostas. O propósito dos estímulos fiscais e monetários sem precedentes adotados durante a pandemia foi o de estimular a demanda. A demanda aumenta quando se tem um aumento na oferta de moeda nas mãos dos consumidores.
Os formuladores de política econômica pareceram surpresos naquele momento ao ver o movimento inflacionário desenvolvendo-se quando a demanda excedia os níveis para os quais as cadeias de suprimentos foram desenhadas para lidar, mesmo em momentos normais. Os formuladores de política econômica falharam para compreender em tempo o escopo das ações que precisariam tomar para suprimir os impactos desse estímulo via contração monetária. Grande parte dos formuladores de política fiscal ainda não entendem isso. Agentes do mercado parecem pensar que a inflação possa ser controlada sem desaquecer a economia, entretanto isto é exatamente o que precisa ocorrer uma vez que a inflação está fora de controle. A economia precisa ser desacelerada ao ponto em que a oferta de moeda se contraia para que a demanda dos consumidores se desaqueça aos níveis em que as cadeias de suprimento conseguem operar. Simplesmente desacelerar a economia infundindo medo nos consumidores não será suficiente, porque a inflação voltaria uma vez que esses temores passem. É necessário reduzir a oferta de moeda. Formuladores de política monetária parecem entender isso agora, mas geralmente não conseguem o apoio dos formuladores de política fiscal, tanto nos Estados Unidos quanto em outras economias.
A China continua a construir uma parceria comercial estratégica com a Rússia, em meio à escalada das tensões com os Estados Unidos e com grande parte das nações do Ocidente. O acordo mais recente prevê que os pagamentos por gás natural russo serão feitos com rublo e yuan em uma proporção de 50-50, sinalizando um distanciamento do dólar como moeda global de troca. O comércio bilateral entre os dois países alcançou US$117,2 bilhões nos primeiros oito meses deste ano, um aumento de 31,4% em relação ao observado no ano passado. As importações chinesas da Rússia atingiram aproximadamente US$ 73 bilhões, 51% acima do ano passado. Espera-se que ambos os países continuem a manter reuniões nos próximos meses para desenvolver outras parcerias de comércio e estreitar suas relações, conforme a China se afasta da dependência dos Estados Unidos. Ainda assim, os Estados Unidos continuam a comprar da China, sugerindo uma ampliação no hiato de comércio entre os dois países.
A Rússia se mantém inflexível sobre a necessidade de mudanças no corredor humanitário para a exportação de grãos da Ucrânia, enquanto os ucranianos argumentam que dois terços das embarcações de grãos que têm deixado seus portos se destinam a países pobres da Ásia, África e Oriente Médio. Conforme essa discussão se desenrola, o tema permanece como um risco para os mercados. Em outra parte do mundo, a oferta temporária do governo argentino de 200 pesos por dólar para os produtores que venderem soja resultou em uma enxurrada de 2,13 milhões de toneladas da oleaginosa no mercado nos primeiros dois dias, com compradores chineses surgindo para abocanhar uma porção desse volume. Fundamentalmente, os balanços de milho dos Estados Unidos e do mundo estão se apertando, enquanto o balanço da soja está estável ou até mesmo se expandindo. Os excedentes exportáveis de trigo estão confortáveis, mas equilibrados com a demanda corrente. O USDA vai posicionar-se com suas estimativas de produção revisadas e balanços de oferta e demanda atualizados na segunda-feira (12). Nesse meio tempo, os mercados têm operado diante de um contexto amplo de temores com uma recessão. Gestores de fundo têm imaginado esse cenário com critérios pouco específicos, esperando que a demanda por commodities colapsará assim que uma recessão atinja a economia global. Essa visão influencia a forma com que os agentes no mercado interpretam os dados fundamentais de oferta e demanda. Isso mudará em algum momento. Não sabemos quando será, mas provavelmente não deve ser algo no curto prazo.
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