Especial | USDA - fevereiro| Soja, Milho, Trigo e Algodão

USDA - fevereiro | Soja, Milho, Trigo e Algodão
 
Ana Luiza Lodi
Thaís Monello
João Pedro Lopes
  Nuria Brito
Relatório não traz grandes surpresas e altera safras de soja e milho da argentina
Soja

O relatório de oferta e demanda do USDA em fevereiro reduziu a estimativa de esmagamento 22/23 dos EUA para 60,69 milhões de toneladas, 408 mil toneladas a menos que o número anterior, ficando mais próximo à tendencia que os dados mensais têm trazido. 

Por outro lado, o Departamento optou por não aumentar a estimativa de exportações 22/23 do país, mesmo com o ritmo mais acelerado de vendas e com a recuperação dos embarques nas últimas semanas. Esse não ajuste pode ser interpretado como um comportamento cauteloso, uma vez que o Brasil caminha para colher uma safra recorde, abrindo espaço para exportações ainda maiores.
Com isso, como o corte no esmagamento foi o único ajuste do balanço norte-americano, os estoques finais da safra 22/23 aumentaram no mesmo volume, ficando em 6,13 milhões de toneladas.

Para a América do Sul, o destaque foi o recuo de mais 4,5 milhões de toneladas na produção argentina, que caiu para 41 milhões, corte mais significativo que a média das expectativas, mas ainda acima do que outras instituições vêm divulgando. Na semana passada, a Bolsa de Buenos Aires reduziu sua estimativa para a safra de soja argentina 22/23 para 38 milhões de toneladas, enquanto a Bolsa de Rosário foi ainda mais agressiva, com seu número ficando em 34,5 milhões.

O USDA manteve a estimativa para a safra de soja do Brasil em 153 milhões de toneladas, sinalizando que as perdas no Sul do país, devido à falta de chuvas, foram compensadas por melhores níveis de umidade no restante das áreas produtoras, na mesma linha do que já tinha sido divulgado pela StoneX e também pela Conab.

De qualquer maneira, as preocupações com o equilíbrio entre a oferta e a demanda mundial de soja aumentaram com as possibilidades de perdas importantes de produção na Argentina. O plantio da safra de soja do país terminou no final de janeiro e uma parte importante das lavouras ainda precisará de umidade para se desenvolver de forma adequada. Aqui no Brasil, o Rio Grande do Sul também precisa de chuvas para não aprofundar o tamanho das perdas no estado, em mais um ano de La Niña.
 

Argentina | Produção de soja (milhões de toneladas)

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Fonte: USDA, Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) e Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA). Elaboração: StoneX. *Estimativa.

Milho

Em relação ao mercado de milho, o Departamento reduziu sua estimativa para o consumo doméstico norte-americano na safra 2022/23, em 635 mil toneladas, para 303,9 milhões. Essa redução foi motivada pelo corte no uso do cereal para a produção de etanol, agora estimado em 133,4 milhões de toneladas. O USDA não promoveu alterações na produção dos EUA e em suas exportações. Com isso, os estoques finais em 2022/23 aumentaram para 32,17 milhões de toneladas.

Um dos principais destaques para o mercado do cereal foi a alteração na produção argentina, que recuou de 52 para 47 milhões de toneladas, número abaixo da média das estimativas do mercado, de 48,5 milhões de toneladas. O corte de 5 milhões de toneladas foi feito em função das adversidades climáticas que têm afetado as lavouras do cereal há diversas semanas e têm sido motivo de apreensão para os agentes. Apesar do corte, o número do USDA segue acima das estimativas da Bolsa de Cereales de Buenos Aires (44,5 milhões de toneldas) e da Bolsa de Rosário (42,5 milhões de toneladas).

Em meio à menor produção esperada para a Argentina, o USDA reduziu também as exportações do país, em 3 milhões de toneladas, para 35 milhões. Por outro lado, os menores embarques argentinos foram compensados pelo aumento nas exportações do Brasil, em 3 milhões de toneladas, para 50 milhões, e da Ucrânia, em 2 milhões de toneladas, para 22,5 milhões.

O USDA não fez revisões em suas estimativas para a safra brasileira, que permaneceu em 125 milhões de toneladas, valor acima do esperado pela Conab (123,7 milhões de toneladas), mas abaixo da estimativa mais recente da StoneX (129,9 milhões de toneladas). Ainda será de grande importância acompanhar as condições climáticas na América do Sul, visto que as produções de milho no continente, especialmente da 2ª safra brasileira, estarão sujeitas às condições dos próximos meses. 

Argentina | Produção de milho (milhões de toneladas)

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Fonte: USDA, Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) e Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA). Elaboração: StoneX. *Estimativa.
Trigo
Como esperado, as estimativas do USDA não trouxeram grandes mudanças para o trigo na edição do relatório de fevereiro. O balanço de oferta e demanda global continua apertado, pois na mesma medida em que o nível de oferta obteve certo alívio, o consumo também foi ajustado positivamente.
São esperadas 783,80 milhões de toneladas para a produção mundial na temporada 2022/23, frente às 791,16 milhões estimadas para o consumo. Tal aperto no saldo global continua a preocupar players que dependem da importação de trigo para garantir a segurança alimentar de seus países e gera espaço para que produtores se posicionem como fontes estratégicas em meio a problemas de oferta.
Os ajustes que deixaram o balanço global mais confortável vieram principalmente do aumento na produção da Austrália e Rússia. A safra australiana obteve aumento de 1,4 milhão de toneladas em sua projeção, alcançando 38 milhões de toneladas. Deste modo, poderemos ver com maior possibilidade mais uma temporada recorde de exportação australiana.
A Rússia também, que já tinha indicativos de uma safra generosa, obteve ajuste de 1 milhão de toneladas para a produção, que caso se concretize, pode alcançar 92 milhões de toneladas na temporada, com cerca de 45,5 milhões de toneladas a serem exportadas. O aumento nas estimativas se deve ao menor abandono reportado nos dados de área da agência de estatísticas do estado russo (Rosstat).
 

Oferta e Demanda Mundial de trigo (em milhões de toneladas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 

Algodão

Para o mercado da pluma, o WASDE de fevereiro trouxe diminuições nos indicadores mundiais, mas ainda assim não mostrou muitas surpresas. Pelo lado da demanda, foi estimado um consumo mundial menor – cerca de 24,09 milhões de toneladas –, mostrando que o aumento de 110 mil toneladas para o consumo chinês compensou parcialmente as reduções estimadas para o Paquistão, Vietnã e Estados Unidos. Contudo, vale observar que o aumento do consumo na China não se traduziu no aumento das estimativas para as suas importações, mas sim em um maior volume de produção do país, que foi atualizada para 6,21 milhões de toneladas. Apesar disso, como pode ser observado nos dados de vendas de exportação dos Estados Unidos das últimas semanas, a China, de fato, vem apresentando um retorno ao mercado da pluma, o que pode reforçar o otimismo dos agentes em relação à demanda futura do país pelo algodão.

O volume de importação mundial também sofreu corte nas projeções, estando em 8,80 milhões de toneladas. Tal recuo representou uma queda de 260 mil toneladas ante o último reporte, e foi puxado principalmente pelas revisões nas importações do Paquistão, Vietnã e Bangladesh. Apenas o Paquistão foi responsável pela redução de 110 mil toneladas, o que não surpreendeu, visto que o país passa por uma crise cambial, impactando sua capacidade de importação.
Pelo lado da oferta, o recuo de 280 mil toneladas nas exportações do mundo foi influenciado, principalmente, pela retração das estimativas para a Índia e para o Brasil – só a Índia foi responsável por 130 mil toneladas reduzidas. Para a produção, o relatório trouxe números maiores para a China e Paquistão – cerca de 110 mil toneladas e 40 mil toneladas a mais, respectivamente. Contudo, tal acréscimo não compensou a diminuição do estimado para a Índia, que teve uma perda de 220 mil toneladas em sua projeção. 

O mercado dos Estados Unidos não exibiu maiores revisões, com os estoques finais do país aumentando 30 mil toneladas. Para o Brasil, a manutenção do volume de produção, aliado ao recuo das exportações, influenciou também no avanço dos estoques finais, sendo esperadas 3,04 milhões de toneladas. Entretanto, mesmo que o WASDE tenha diminuído cerca de 70 mil toneladas para as exportações brasileiras, vale notar que o volume total (1,74 milhão de toneladas) ainda é 3,5% superior ao projetado para o ciclo passado no mesmo período (1,68 milhão de toneladas), indicando um melhor desempenho da fibra 2022/23 exportada. 

De maneira geral, o USDA indicou que, mesmo mostrando volumes menores para a demanda mundial da pluma, tal movimento foi mais que compensado pela perspectiva geral de menor oferta da fibra. Essa dinâmica se traduziu no recuo dos estoques finais, projetados agora em 19,39 milhões de toneladas, os quais foram puxados, principalmente, pela retração das estimativas para a Índia, Paquistão e Bangladesh. No geral, o relatório pode ser considerado neutro, visto que, ao mesmo tempo em que traz algumas perspectivas de baixa, também mostra alguns fundamentos positivos para o mercado global – como os estoques mais apertados.
 

Oferta e Demanda Mundial de algodão (em milhões de toneladas)

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Fonte: USDA. Elaboração: StoneX. 
 
Tags relacionadas: Grãos e Oleaginosas

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