As ações e as commodities avançaram no mercado noturno, em meio aos sinais encorajadores de progresso nas conversações sobre o teto da dívida dos EUA. Há até rumores de que a Câmara dos Representantes poderia votar um acordo na próxima semana, aliviando as preocupações em Wall Street. O índice de volatilidade VIX caiu abaixo de 16 pontos durante a noite pela terceira vez nos últimos 18 meses, refletindo uma calma crescente no mundo dos investimentos. O dollar index negocia perto dos 103,3 pontos esta manhã. Os títulos de 10 anos do Tesouro negociam em máximas de dois meses perto de 3,70%, enquanto os títulos de 2 anos negociam perto de 4,32%. Os preços do petróleo estão quase 1% mais altos, enquanto o setor de grãos e oleaginosas se recupera das recentes perdas em razão da realização de lucros antes do fim de semana.
As negociações continuam entre a Casa Branca e a Câmara dos Representantes sobre um pacote de limite máximo da dívida destinado a evitar o calote da dívida norte-americana, que atualmente se situa em USD 31,8 trilhões. Um acordo precisa ser firmado antes que o departamento do Tesouro fique sem contabilidade criativa para fazer pagamentos. Ambos os lados concordam que o calote não é uma opção, mas também verão isso como uma vantagem maior para conseguir o que desejam nas negociações. Os republicanos têm as margens mais estreitas na Câmara e os democratas têm as margens mais estreitas no Senado, mas acredita-se que qualquer acordo alcançado terá apoio bipartidário. Desse modo, o mercado espera que enfrentemos esta tempestade e passemos rapidamente por ela nos próximos dias e semanas.
Mas isso não resolverá o problema a longo prazo. Os Estados Unidos continuam a gastar mais do que podem, e não estão nem perto de mudar isso. Esse acordo certamente não vai mudar isso. Isso é um reflexo do público americano que vota nesses representantes. A “Geração Grandiosa” levou os EUA à Segunda Guerra Mundial, sacrificando-se pelo bem futuro. Mas a cultura de hoje quer o que quer hoje e pagará por isso outro dia. Esse "outro dia" está próximo e terá um impacto direto em toda a população norte-americana nos próximos anos, com implicações para os mercados.
Os pagamentos de juros sobre USD 31,8 trilhões considerando as taxas de curto prazo de hoje totalizariam USD 1,6 trilhão, mas, na realidade, são de “apenas” USD 570 bilhões porque grande parte da dívida ainda é mantida por certificados de dívida existentes a taxas mais baixas. Todos serão rolados – observe que eu não disse aposentados - à medida que vencem com as taxas de juros mais altas de hoje. Desse modo, os pagamentos anuais de juros sobre a dívida nacional estão projetados entre USD 900 bilhões e USD 1,7 trilhão daqui a quatro anos. Isso se compara às projeções de que gastaremos USD 1,7 trilhão em pagamentos da Seguridade Social daqui a quatro anos e mais de USD 900 bilhões em defesa nacional. O Congresso terá de lidar de frente com esta questão nos próximos dois anos – provavelmente em ambos os lados da próxima eleição presidencial. Isso exigirá a) um aumento significativo nos impostos que desaceleraria drasticamente a economia, b) um corte dramático nos gastos que nenhuma das partes demonstrou capacidade de realizar ou c) monetizar a dívida que desvaloriza o dólar e é ainda mais inflacionário do que vimos até aqui. A China está assistindo a isso e se posicionando para aproveitar a oportunidade de assumir um papel de liderança no mundo quando isso acontecer.
A Cúpula do G-7 tem ocorrido no Japão esta semana, com os líderes dessas principais economias endurecendo as sanções contra a Rússia, inclusive pressionando a Alemanha a interromper um aumento nas exportações para países vizinhos à Rússia. A Cúpula do G-7 também se comprometeu a apoiar Taiwan, o que irritou a China. O ímpeto vinha favorecendo a China no início deste ano, já que era visto mais como um líder mundial. Mas o ímpeto parece estar se afastando da China, com muitas nações ocidentais cada vez mais preocupadas com a postura agressiva do país asiático em questões econômicas e militares globais. Mas, no final, a questão de Taiwan será provavelmente uma questão central. A Ucrânia tornou-se uma questão global significativa devido à forte convicção da Rússia de que representava um risco à sua segurança à medida que a Ucrânia fortalecia seus laços com o Ocidente, e à forte convicção do Ocidente de que a Rússia representava uma ameaça à Europa se vencesse na Ucrânia. As linhas estão sendo traçadas da mesma forma em Taiwan. A China vê isso como uma questão interna de segurança nacional, e qualquer defesa de Taiwan é um ataque à segurança nacional da China. O Ocidente vê a independência de Taiwan como um componente-chave para a liberdade da região e para o livre comércio através do crítico Mar da China Meridional. Mais uma vez, ambos os lados traçaram uma linha na areia. A Rússia desafiou essa linha na areia no ano passado e estamos em guerra há 15 meses. A questão agora é: a China ou o Ocidente desafiarão a linha na areia no Estreito de Taiwan e quais serão as consequências disso, tanto militar quanto economicamente para o comércio mundial? Uma coisa que sabemos é que isso já tem impactado as decisões comerciais, com a China buscando cada vez mais fontes alternativas de commodities à medida que se diversifica para além dos Estados Unidos. Isso tem sido responsável por parte do colapso das commodities agrícolas, embora estejamos vendo uma realização de lucros antes do fim de semana.
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