A seca severa que afeta a região norte do Brasil tem desencadeado uma série de desafios logísticos, trazendo preocupações ao mercado de grãos. A combinação de chuvas mais escassas com temperaturas elevadas tem sido agravada pelo fenômeno El Niño, resultando em impactos significativos sobre os níveis dos rios da região.
De acordo com dados divulgados pelo porto de Manaus, o nível do Rio Negro atingiu a marca de 12,89 metros na segunda-feira (dia 23), estabelecendo um recorde histórico de baixa. As maiores secas do Rio Negro ocorreram em 2010 (13,63m), 1963 (13,64m) e 1906 (14,2m).
O Rio Negro desempenha um papel crucial no transporte de cargas e passageiros, juntando-se ao Rio Solimões para formar o Rio Amazonas. A bacia do Rio Amazonas cobre uma vasta área de 7 milhões km², estendendo-se desde a cordilheira dos Andes, no Peru, até a região da ilha de Marajó, no norte do estado do Pará, tornando-o o rio mais extenso do mundo.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), somente em 2022, a região hidrográfica amazônica foi responsável pelo transporte de mais de 71 milhões de toneladas em cargas, sendo o Rio Amazonas a principal via utilizada. No entanto, a seca severa traz desafios logísticos significativos para o Norte do país. Dados da ANA (Agência Nacional de Águas) indicam que o Rio Amazonas em Itacoatiara está no menor nível dos últimos 25 anos, com a baixa profundidade dos rios restringindo o calado e dificultando a navegação de embarcações de grande porte e sua manobrabilidade.
Com o crescimento sustentado da produção de grãos, os portos do Norte têm ganhado cada vez mais participação nos embarques nacionais, com a combinação de transporte fluvial e rodoviário. Uma parcela crescente do milho e da soja deixa o país pelos portos do Arco Norte e chegam até os terminais pelos rios.
Em 2022, os portos do Arco Norte (localizados acima do paralelo 16) responderam por 29,9 milhões de toneladas das exportações de soja e 19,6 milhões das de milho do Brasil, representado, respectivamente, 38% e 46% do total nacional. As hidrovias que chegam aos portos de Barcarena (PA), Santarém (PA) e Manaus (AM) foram as mais afetadas pela seca, sendo que esses portos responderam em conjunto por 5,6 milhões de toneladas da oleaginosa e 4,6 milhões de toneladas do cereal, representando, respectivamente, 7% e 11% da movimentação nacional no ano passado.
Em meio ao elevado excedente exportável proporcionado pela produção recorde de soja e milho no Brasil, a capacidade portuária do país tem sido alvo de questionamentos. Diante de estimativas de embarques recordes de soja e milho na safra 2022/23, a redução da capacidade logística fluvial preocupa, pois encarece o frete, eleva os custos e prejudica a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Há relatos de comboios levando cargas reduzidas e estão sendo utilizados empurradores para atravessar os pontos mais rasos, com os portos de Itacoatiara, Santarém e Barcarena tendo sua operação afetada, havendo o desvio de um pequeno número de cargas para terminais portuários do Sul e Sudeste.
Com isso, tende a haver uma sobrecarga ainda maior sobre as vias de exportação da região, especialmente Santos e Paranaguá, devido ao direcionamento de um novo volume de carga, que tem enfrentado dificuldades para chegar aos portos do Norte. Desde maio, os navios de grãos que saem pelo porto de Santos vêm registrando um tempo de espera acima da média, diante da demanda muito grande, após safras recordes, e, recentemente essa diferença se tornou mais expressiva, evidenciando o maior fluxo, sendo que os lineups já indicam que o tempo médio de espera deverá aumentar nos próximos meses no porto paulista.
Paralelamente, os dados meteorológicos têm registrado anomalias negativas de precipitação na região Norte do país desde junho de 2023. Os mapas abaixo destacam as anomalias de precipitação para os meses de junho, julho, agosto e setembro evidenciando a falta de chuva e a severa condição de seca na região.
Essas condições climáticas desafiadoras afetaram diretamente o nível dos rios na bacia amazônica, contribuindo para a redução do calado e a consequente maior dificuldade de escoamento de grãos pelos principais portos do Arco Norte.
As previsões indicam uma recuperação gradual dos níveis de precipitação entre dezembro e janeiro, o que poderá aliviar o problema, favorecendo o escoamento das regiões norte do Mato Grosso, Pará e Maranhão. Contudo, é crucial continuar monitorando de perto a situação, uma vez que os próximos meses são muito importantes para as exportações brasileiras de milho e o clima e as condições hidrológicas podem ser imprevisíveis, principalmente com o fenômeno El Niño presente, que tende a trazer um clima mais seco em partes das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
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