O par real/dólar avançou de maneira expressiva nesta terça-feira (5), registrando variação de quase +1,2% e encerrando cotado a R$ 5,389 – seu maior valor em seis meses. Esta foi a quarta sessão consecutivo de alta da moeda americana, que acumula valorização de 3,8% desde o final da semana passada. O receio cada vez mais difundido entre os agentes de que a economia mundial caminha no sentido de uma recessão e a apreensão com a deterioração das contas públicas brasileiras foram os principais vetores deste movimento. Ambos os efeitos se somaram: enquanto o pessimismo com o nível de atividade global estimula a demanda por segurança e a saída de recursos de aplicações mais arriscadas, a perspectiva de maior fragilidade fiscal do Brasil tende a reprimir a disposição dos investidores a se manterem expostos ao real e a ativos locais.
No exterior, a moeda americana demonstrou força em relação às divisas de outras economias avançadas nesta terça, com o dollar index avançando cerca de 1,3% e encerrando cotado acima dos 106 pontos, máxima em quase duas décadas. Além do contexto de aversão ao risco, a divulgação de dados mais fortes do que o esperado para os pedidos à indústria dos Estados Unidos contribuíram para a valorização do dólar. Segundo o Departamento do Comércio, o número de novos pedidos de bens manufaturados avançou 1,6% em maio, superando a mediana das estimativas dos analistas, que sugeriam um crescimento de 0,5%, e acelerando-se em relação à variação observada em abril, de +0,5%.
O indicador do Departamento do Comércio foi uma surpresa positiva após a pesquisa do ISM, publicada na última sexta (1º), que apontou a segunda contração mensal consecutiva da indústria americana em junho e a primeira queda em dois anos do indicador de novos pedidos. O resultado do levantamento corroborou a leitura de que a adoção de uma política monetária mais agressiva pelo Federal Reserve, para fazer frente à aceleração inflacionária, já contribui para um arrefecimento da atividade econômica do país.
No cenário doméstico, o noticiário relacionado à PEC dos Auxílios continuou afetando o mercado cambial, após as repercussões acerca da declaração do relator da proposta na Câmara, deputado Danilo Forte (União-CE), de sua intenção de incluir motoristas de aplicativos entre os beneficiários da Proposta, o que elevaria o seu custo fiscal para além dos R$ 41,25 bilhões estimados anteriormente.
Todavia, nesta tarde, o deputado desistiu de realizar as mudanças no texto. Segundo Forte, devido ao calendário apertado da Câmara antes do recesso a partir de 17 de julho, não serão realizadas adições ao texto, a fim de se conseguir a aprovação da PEC o quanto antes. A expectativa de Forte é de que a leitura do texto seja realizada ainda nesta terça-feira (5), com a possibilidade de que, caso não haja resistência, a votação possa ocorrer logo em seguida. Por um lado, a aprovação aparentemente inevitável da PEC continua sendo um indicador de deterioração da situação fiscal no país, o que tem atuado de maneira negativa sobre a moeda brasileira. O recuo do relator sobre um possível aumento dos valores da Proposta, por outro lado, reduz o temor de que o atual quadro poderia ser agravado.
Ainda no cenário da política nacional, vale mencionar a sinalização do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que a CPI para investigar o caso de tráfico de influência e desvio de verbas no Ministério da Educação (MEC), deve ficar apenas para depois das eleições. Segundo Pacheco, o requerimento para a CPI deve ser lido em plenário nesta quarta-feira (6), porém, afirmou que a maioria dos líderes da casa concordaram que sua instalação e indicação de seus membros “se dará no momento oportuno”. Apesar das declarações de líderes da oposição de que deverão recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão dos líderes do Senado, por ora, representam uma vitória para o governo.
A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, divulgada mais cedo hoje, teve um tom menos otimista, ficando aquém das expectativas do mercado. Na passagem de abril para maio, a produção da indústria brasileira registrou variação positiva de 0,3%, e crescimento de 0,5% no comparativo com o mesmo mês de 2021. Ainda assim, o setor acumula queda de 1,9% em 12 meses, e permanece 1,1% abaixo dos níveis pré-pandemia (fevereiro de 2020). A contração da renda média do trabalho, a perda de poder de compra dos consumidores e o encarecimento do crédito, diante da forte elevação da Selic, se apresentam como desafios para a recuperação do setor.
Após três meses de greve, o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central anunciou o fim da paralisação e a normalização das atividades. A decisão se deu devido ao encerramento, nesta segunda-feira (4), do prazo previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para reajustes nas remunerações e carreiras dos servidores em anos eleitorais. De acordo com o BC, com a suspensão da greve serão retomadas “assim que possível” as divulgações de estatísticas e relatórios que ficaram represados desde abril.
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