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Leituras acima do esperado para indicadores econômicos americanos podem reforçar os receios de que a inflação se manterá elevada por mais tempo no país e o Federal Reserve precisará manter seu aperto monetário por mais tempo, fortalecendo a moeda americana.
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Seguidas críticas de Lula e de parlamentares aliados ao Banco Central provoca volatilidade exacerbada e amplia a percepção de riscos pelos investidores, podendo enfraquecer o real.
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Leitura suave para o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos Estados Unidos pode confirmar interpretação de que a economia passa por um processo desinflacionário e reforçar expectativa de moderação para o aperto monetário pelo Federal Reserve.
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Fala de autoridades do Federal Reserve pode reforçar a sensação de que a instituição está moderando seu aperto monetário deste ponto em diante, ampliando o apetite por ativos arriscados.
O dólar negociado no mercado interbancário encerrou a sessão desta sexta-feira (10) cotado a R$ 5,222, variação de +1,5% na semana, +2,9% no mês e de -1,1% no ano. Já o dollar index fechou o pregão cotado a 103,5 pontos, aumento de 0,7% na semana, 1,6% no mês e 0,2% no ano. A semana foi marcada por uma barragem de ataques do presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, e de parlamentares da base aliada, ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao patamar da taxa básica de juros (Selic) e às metas atuais de inflação.
Impacto no USDBRL: baixista
O foco das atenções da próxima semana será a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de janeiro, que deverá determinar a narrativa macroeconômica do mês. A mediana das projeções aponta para um aumento moderado tanto para o índice cheio (0,4%) como para seu núcleo (0,4%), que exclui itens voláteis de alimentação e energia. Ainda assim, tal expectativa representa uma queda para o CPI no acumulado em 12 meses, passando de 6,5% em dezembro para 6,2% em janeiro no índice cheio, e de 5,7% para 5,5% em seu núcleo.
Nos últimos três meses, a aceleração de preços ao consumidor tem crescido menos que o esperado nos Estados Unidos, originando uma interpretação de que a economia americana iniciou seu processo de desinflação – leitura apresentada, inclusive, pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. Caso o CPI mantenha a tendência de crescer menos que o projetado, deve haver uma intensificação das apostas de moderação do aperto monetário pelo Fed e, por consequência, um enfraquecimento da moeda americana. Caso o aumento seja acima do esperado, é possível que seja lido como apenas um ponto fora da curva e não altere substancialmente o discurso dos integrantes do banco central estadunidense, e elevará a expectativa para o dado de fevereiro.
A decomposição do indicador também será digna de nota, visto que a suavização da alta de preços recentes esteve mais relacionada a bens industrializados, enquanto serviços mantém uma aceleração mais persistente, particularmente aqueles correlacionados aos ganhos salariais. A data-base de janeiro pode resultar em atualizações contratuais para serviços ao consumidor e acabar impactando mais intensamente o CPI.
Impacto no USDBRL: altista
Contrariando as expectativas de que o novo governo traria um período de distensão para a vida política e de respeito às instituições, o presidente da República prosseguiu sua barragem de ataques à autoridade monetária do país, trazendo intranquilidade, instabilidade e volatilidade aos mercados financeiros. A alta da taxa de câmbio na última semana pode ser atribuída, principalmente, ao aumento dos temores de que a política monetária do país será contaminada por questões política, especialmente porque os ataques ganharam intensidade e passaram a ser acompanhados por parlamentares da base aliada, que agora defendem a convocação de Roberto Campos Neto ao Congresso para “dar explicações” sobre a taxa de juros. Reportagens de imprensa afirmaram, também, que o BC possa ceder às críticas e revisar a meta de inflação de 2023, elevando-a de 3,25% para 3,50% na reunião do Comitê Monetário Nacional da próxima quarta-feira (16), e que, supostamente, Campos Neto seria a favor de uma meta mais alta. No meio deste turbilhão, o presidente do BC dará entrevista ao programa Roda Viva, em rede nacional, na segunda (13), e não se sabe ao certo se os ânimos serão apaziguados ou acirrados após suas falas.
Não se sabe ao certo a razão que Lula selecionou a autoridade monetária como adversária prioritária no momento, nem quais são seus objetivos. A situação lembra as críticas constantes que o ex-presidente Jair Bolsonaro fazia à política de preços da Petrobras, por ser incapaz de mudá-las quando bem desejasse. Os benefícios desses ataques são igualmente duvidosos, visto que qualquer mudança feita pelo BC deste ponto em diante terá seus critérios e argumentos minuciosamente analisados e com credibilidade reduzida, além de provocar efeitos opostos aos enunciados por Lula, isto é, elevação para as expectativas inflacionárias e para as de juros futuros. Nesse sentido, a próxima edição do Boletim Focus, na segunda-feira (13), servirá de termômetro para a confiança de mercado no Banco Central e nas instituições econômicas do país.
Impacto no USDBRL: altista
Nesta semana, também, serão divulgadas as vendas do varejo e a produção industrial, ambos referentes a janeiro, permitindo uma leitura atualizada da vitalidade da economia americana, da resiliência da demanda do consumidor e da atividade manufatureira no país. Após números decepcionantes em dezembro, a maior parte das projeções aponta para uma recuperação tanto para as vendas do varejo como para a produção industrial, porém não o suficiente para afastar o consenso de que a expansão econômica está perdendo ritmo. Ainda assim, as leituras positivas para as métricas podem sustentar uma interpretação de que a produção, a renda e o consumo nos Estados Unidos estão excessivamente resilientes, o que, por sua vez, tende a sustentar um nível de aceleração inflacionária e exigiria a continuidade do ciclo de alta de juros pelo Fed, favorecendo o fortalecimento do dólar.
Impacto no USDBRL: baixista
Na semana passada, a primeira com comentários das autoridades do Federal Reserve após a decisão de reduzir o ritmo de alta de juros para 0,25 p.p. em 01 de fevereiro, os membros da instituição procuraram reforçar uma mensagem mais equilibrada aos investidores, afirmando que o processo desinflacionário nos EUA já começou, mas reforçando que esse processo será longo, envolverá a desaceleração dos preços de serviços relacionados à remuneração do trabalho e exigirá a continuidade das altas de juros por mais um tempo. Os agentes de mercado, entretanto, parecem ser seletivos no que interpretam e apostam no mercado futuro de juros de que o aperto monetário se encerrará em breve. Estão programados para se pronunciarem na próxima semana a membra do Conselho de Governadores do Fed, Michelle Bowman, a presidenta do Fed de Dallas, Lorie Logan, o presidente do Fed de New York, John Williams, a presidenta do Fed de Cleveland, Loretta Mester, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, a membra do Conselho de Governadores do Fed, Lisa Cook, e o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin.
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