Resumo Semanal de Câmbio

Câmbio encerra a semana em queda, cotado a R$ 5,250
 
Leonel Oliveira Mattos
Alan Lima
Vitor Andrioli
Semana foi marcada por decisões de política monetária e receios de crise financeira global
fatores altistas
  • Receios de uma crise bancária global provoca aversão ao risco e busca por ativos de segurança, contribuindo para o fortalecimento do dólar.

  • Seguidas críticas do Planalto ao Banco Central provoca volatilidade exacerbada e amplia a percepção de riscos pelos investidores, podendo enfraquecer o real.

  • Adiamento da divulgação da proposta de arcabouço fiscal desanimou investidores e reduziu as expectativas de um reequilíbrio das contas públicas mais veloz, favorecendo o enfraquecimento do real.

fatores baixistas
  • Ata do Copom pode reiterar que os juros no Brasil precisam permanecer em nível elevado para conter a desancoragem das expectativas inflacionárias e recuperar a estabilidade de preços, contribuindo para o fortalecimento do real

  • Índice PCE de fevereiro para os Estados Unidos podem sugerir que a inflação no país está moderando, diminuindo as expectativa para os juros no país e enfraquecendo o dólar.

O dólar negociado no mercado interbancário encerrou a sessão desta sexta-feira (24) cotado a R$ 5,250, variação de -0,4% na semana, +0,5% no mês e -0,6% no ano. Já o dollar index fechou o pregão cotado a 102,8 pontos, recuo de 0,6% na semana, 2,0% no mês e 0,5% no ano. A semana foi marcada por decisões de política monetária dos bancos centrais dos Estados Unidos, Brasil, Inglaterra e Suíça, bem como forte turbulência e volatilidade nos preços de ativos internacionais em função de dúvidas quanto à solidez do sistema bancário e financeiro internacional. No Brasil, após a decisão do Comitê de Política Monetária, destacou-se a intensificação dos atritos entre governo e BC.

Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

 

O MAIS IMPORTANTE: Preocupações globais com o setor bancário

Impacto esperado no USDBRL: altista

A leitura de dados econômicos nas últimas duas semanas foi significativamente prejudicada por um ambiente de elevada percepção de risco, volatilidade e turbulência, deflagrados após a falência de dos bancos americanos Silvergate, SVB e Signature em um curto espaço de tempo e a quebra de facto do Credit Suisse, na Suíça, que foi adquirido pelo concorrente UBS por uma cifra abaixo de seu valor de mercado em uma operação estruturada pelas agências reguladoras locais. Desde então, investidores e analistas buscam, com dificuldades, avaliar qual é a real condição dos sistemas bancário e financeiro globais, com particular interesse pelo sistema estadunidense, em que há maior presença de bancos regionais e de menor porte.

As principais autoridades globais – chefes de Estados, ministros das pastas econômicas, presidentes de Bancos Centrais – buscaram reforçar que o sistema financeiro global é sólido, resiliente e bem capitalizado, esforçaram-se para individualizar os problemas como erros de gestão de risco por parte de poucos bancos e que as agências responsáveis pela supervisão do sistema estão atentas a qualquer problema e dispostas a atuar caso uma nova instituição tenha dificuldades.

Contudo, é importante destacar que, apesar das garantias das autoridades, ninguém sabe até quando prevalecerá o cenário de desconfiança dos agentes financeiros e que há temores de que novas instituições possam passar por dificuldades. Empresas e consumidores também elevaram seus saques de depósitos e investimentos por temores de que seu banco pudesse estar passando por dificuldades, iniciando uma corrida bancária que pode causar uma dificuldade de liquidez ao banco e provocar sua falência, em uma espécie de profecia autorrealizável. Nas últimas três semanas, os bancos americanos precisaram recorrer a um elevado volume de empréstimos junto ao Federal Reserve para recompor sua liquidez (operações chamadas de redesconto), aumentando, por sua vez, em aproximadamente US$ 400 milhões o balanço de ativos do Federal Reserve, evidenciando que houve uma necessidade urgente de caixa pelas instituições financeiras. Enquanto permanecer um ambiente de dúvida e incerteza, investidores devem favorecer opções mais seguras e líquidas, como ativos de renda fixa denominados em moedas consideradas “portos-seguros”, tais como o dólar, o iene, o franco suíço e o euro.

Total de ativos no balanço patrimonial do Federal Reserve
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Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis. Elaboração: StoneX.
 
Ata do Copom e Relatório Trimestral de Inflação

Impacto esperado no USDBRL: baixista

Nesta quarta-feira (29), será divulgada a ata da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% a.a. Para justificar sua decisão, o Comitê alertou para os desafios inflacionários que o Brasil enfrenta, em especial uma resiliência do chamado “núcleo” da inflação (que exclui os voláteis componentes de alimentação e energia) e uma desancoragem (ou ampliação) das expectativas de inflação para prazos mais longos. Neste sentido, será de particular importância a publicação do Relatório Trimestral de Inflação de março, na quinta-feira (30), obra que traz uma análise aprofundada, nacional e externa, da visão do Banco Central sobre o tema. Para os fluxos cambiais, a persistência de um diferencial de juros mais elevado do Brasil em relação a outras economias avançadas e emergentes contribui para a atração de investimentos financeiros em renda fixa e contribui para o fortalecimento do real.

Atritos do Planalto com o Banco Central

Impacto esperado no USDBRL: altista

O comunicado do Copom da última quarta (22), considerado de tom duro e que afastou a possibilidade de cortes de juros no curto prazo, resultou prontamente em críticas do governo federal ao Banco Central, ao seu presidente, Roberto Campos Neto, e à gestão da política monetária do país. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a decisão do Comitê foi “muito preocupante” e que a manutenção dos juros em patamares elevados, que resultam em gastos mais elevados com a dívida pública, “pode comprometer o resultado fiscal”. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, declarou que a “decisão não é o que o governo esperava” e que “não há razão que explique” a decisão. O líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues, classificou a decisão como “frustrante, injustificável e incompatível com os esforços fiscais” do governo. E o presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, aumentando o tom das críticas, afirmou que “não tem explicação para nenhum ser humano do planeta Terra a taxa de juros no Brasil estar 13,75%”, que “a história julgará” Roberto Campos Neto pelas consequência de seus atos e sugeriu que o presidente do BC não cumpre a lei da autonomia do Banco Central por descuidar do nível de emprego e de crescimento econômico.

É importante mencionar que as críticas públicas do governo federal ao Banco Central, feitas frequentemente e com bastante veemência, costumam elevar a percepção de riscos aos ativos brasileiros e gerar temores de interferências políticas na gestão dos instrumentos econômicos, o que acaba, por sua vez, ampliando a volatilidade desses ativos e piorando as expectativas de inflação e mesmo de juros para prazos mais longos. Isto é, tem sido contraproducente a maneira com a qual o Planalto escolhe abordar o tema, pois produz resultados contrários ao que manifesta buscar.

Dados econômicos nos EUA

Impacto esperado no USDBRL: baixista

Nesta semana, será divulgado o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de fevereiro, a métrica utilizada pelo Federal Reserve para acompanhar preços ao consumidor. Após dados econômicos muito acima do esperado para o mês de janeiro, os indicadores de fevereiro se mantiveram dentro do estimado por analistas e sugerindo uma tendência de lenta desaceleração da atividade econômica e dos preços. A mediana das expectativas para o PCE é de um crescimento mensal de 0,5%, que resultaria em queda acumulada em 12 meses de 5,4% em janeiro para 5,1% em fevereiro. O Fed manteve seu alerta para a necessidade de se recuperar a estabilidade de preços, e qualquer desaceleração do índice será bem-vinda.

Adiamento da divulgação do arcabouço fiscal

Impacto esperado no USDBRL: altista

Apesar de haver grande expectativa pela divulgação das novas regras fiscais reguladoras dos gastos governamentais, o presidente Lula decidiu adiar sua divulgação apenas para após o retorno de sua viagem à China, no começo de abril. O adiamento desanimou investidores, que apostam que ela indicará claramente um maior comprometimento com a responsabilidade fiscal e, possivelmente, permitirá uma redução das previsões inflacionárias. Embora não tenha sido dada nenhuma explicação oficial para a postergação, analistas políticos especulam tanto que Lula possa ter demandado alguma modificação que permitisse um nível maior de investimento públicos como que líderes congressistas possam estar negociando o texto com o Executivo.

 

 
tabela de indicadores
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Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e CommodityNetwork Trader’s Pro.
 
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