Em 07 de fevereiro deste ano, o Banco Central da China (PBoC) e o Banco Central do Brasil (BCB) assinaram um memorando de entendimento estabelecendo um acordo para o uso do yuan (renminbi) na liquidação (clearence) entre as transações econômicas entre os países. Com a celebração do acordo, torna-se possível a realização de trocas entre reais e yuans diretamente, sem a necessidade de utilizar uma moeda intermediária, como o dólar, reduzindo custos de operações e tempo necessário para a liquidação do pagamento.
A China tem buscado ativamente estes acordos de cooperação com outros países, como a Rússia, a França, a Arábia Saudita, a Argentina e o Chile. Já são mais de 25 países que fazem parte deste arranjo para compensação de pagamentos em yuan, com acesso direto ao sistema chinês de pagamento internacional (Cross-Border Interbank Payment System, Cips). Entre outras características, este sistema permite remessa em yuan 24 horas por dia. Já há um banco sino-brasileiro participante do Cips em São Paulo, possibilitando que brasileiros possam realizar pagamentos em yuan com estrangeiros, caso desejem.
Isto não significa, evidentemente, que qualquer pessoa que realize negócios com empresas chinesas sejam obrigadas a aceitar o yuan como pagamento, nem qualquer outra moeda. Porém, com o acordo, esta possibilidade se tornou mais fácil e menos custosa.
A China é a maior parceira comercial do Brasil, sendo, em 2022, destino de 26,8% das exportações e origem de 22,3% das importações. Nesse ano, as exportações somaram US$ 89,4 bilhões e as importações, US$ 60,7 bilhões, com saldo superavitário de US$ 28,7 bilhões. Os principais produtos exportados para o país asiático foram minério de ferro, soja em grão, carne, açúcar e celulose, enquanto os principais produtos importados são insumos industriais básicos e elaborados.
Adicionalmente, em uma política de diversificação de riscos pelo Banco Central, o yuan já representa a segunda moeda com maior participação nas reservas internacionais da autoridade monetária, com 5,4% do total, ultrapassando o euro, que tem 4,7% de participação.
USD = dólar americano; EUR = euro europeu; JPY = iene japonês; GBP = libra esterlina; CAD = dólar canadense; AUD = dólar australiano; e CNY = yuan chinês.
Embora o dólar ainda esteja em posição hegemônica no sistema financeiro mundial, as autoridades chinesas entendem que a redução da dependência de sistemas e da moeda americana para transações econômicas é vital em sua estratégia de se estabelecer como uma liderança geopolítica e econômica global, além de permitir maior autonomia e reduzir possíveis volatilidades ao não depender de divisas externas. Um dos principais atrativos oferecidos pela China é o seu volume no comércio global, visto que, em 2022, o país foi o maior exportador (US$ 3,594 trilhões, ou 20,1% das exportações globais) e o segundo maior importador (US$ 3,373 trilhões, ou 16,7% das importações globais) da economia mundial. Além disso, ao usar a própria moeda, a China tem mais facilidade para ofertar linhas de crédito para promover o comércio exterior e investimentos bilaterais, aprofundando o uso do yuan em fluxos comerciais e financeiros. Em abril de 2023, a moeda chinesa já era a quinta mais utilizada nos sistemas de pagamentos internacionais, acima de pares importantes como o iene japonês e o franco suíço.
USD = dólar americano; EUR = euro europeu; JPY = iene japonês; GBP = libra esterlina; CNY = yuan chinês; CAD = dólar canadense; e AUD = dólar australiano.
Outro fator que estimula Pequim a impulsionar o uso do yuan como moeda internacional é o contexto de crescente antagonismo com Washington em diversos tópicos, do relacionamento com Taiwan a direitos humanos até o uso de tecnologias de microchips. Em tempos recentes, os Estados Unidos, em conjunto com aliados importantes do Grupo dos Sete (G7), impuseram sanções econômicas que removeram o acesso de instituições financeiras do Irã (2012), Coreia do Norte (2017) e Rússia e Belarus (2022) ao sistema internacional de pagamentos SWIFT. Adicionalmente, pessoas e organizações destas nações tiveram suas reservas internacionais no exterior congeladas. Ao desenvolver sistemas próprios de pagamentos internacionais e firmar acordos em sua moeda, a China mitigaria os impactos potenciais de sanções econômicas em um caso de atrito diplomático com o Ocidente.
O maior obstáculo para a estratégia de internacionalizar o yuan neste momento é que o uso do yuan está fundamentalmente limitado a transações entre a China com outros países, o que reduz a sua liquidez. Adicionalmente, sabe-se que o governo chinês implanta controle de capitais e outras medidas para afetar o valor externo de sua moeda de acordo com suas prioridades econômicas, o que traz alguns riscos para as nações que acumularem reservas internacionais em yuan.
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