- Declarações de autoridades do Federal Reserve podem querer realinhar as expectativas de um corte de juros pelo banco central americano após comentário de Powell nesta semana desencadear um forte rali global por ativos arriscados, fortalecendo a moeda americana.
- Ata do Copom e Relatório Trimestral de Inflação devem mostrar um cenário externo mais benigno para o BC, mantendo expectativas de cortes à taxa básica de juros (Selic) e que, por sua vez, diminui a atratividade de ativos brasileiros e enfraquece o real.
- Índice PCE deve manter tendência de moderação gradual de preços nos EUA e sugerir que o Fed tem espaço para uma flexibilização monetária, ampliando apostas de cortes de juros por investidores e enfraquecendo a moeda americana.
- Possibilidade de avanço de pautas econômicas importantes para o governo no Congresso Nacional pode reduzir percepção de riscos fiscais de ativos brasileiros e contribuir para o fortalecimento do real.
Devido ao Natal e ao Ano Novo, o Panorama Semanal de Câmbio não será publicado nos dias 22 e 29 de dezembro, retornando em 05/01/2024. Boas Festas!
Resumo da semana passada
A semana foi marcada pelo forte rali de ativos arriscados provocado, por sua vez, pela decisão de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que mostrou que 17 das 19 autoridades que compõem o Comitê projetam juros mais baixos em 2024 e foi acompanhada por declarações de seu presidente, Jerome Powell, sinalizando a possibilidade de que os cortes de juros possam começar em breve, surpreendendo investidores.
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a semana em leve alta, encerrando a sessão desta sexta-feira (15) cotado a R$ 4,938, variação de +0,2% na semana, +0,5% no mês e de -6,5% no ano. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 102,5 pontos, recuo semanal de 1,4%, mensal de 0,9% e anual de 0,7%.
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Na semana passada, o apetite por riscos disparou globalmente impulsado por uma percepção dos agentes do mercado financeiro de que o Federal Reserve promoveu uma “inversão” na sua postura em sua última decisão de política monetária. A decisão, em si, não trouxe surpresas, com manutenção dos juros no intervalo entre 5,25% e 5,50% a.a. pela terceira reunião consecutiva. Contudo, causou surpresa a projeção de juros menores em 2024 pelos integrantes do FOMC nas projeções econômicas sumarizadas e, principalmente, os comentários do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, que pouco se esforçou para frear as expectativas de operadores do mercado financeiro a respeito da possibilidade de que tais reduções à taxa de juros ocorram em um curto prazo. Se há apenas duas semanas Powell afirmava que “[era] cedo demais para especular sobre cortes de juros” e “prematuro concluir que as altas de juros terminaram”, ontem ele declarou que “[os cortes de juros] começam a entrar nas perspectivas, é claramente um tópico de discussão pelo mundo e também foi [tópico de] discussão na nossa reunião de hoje”. A percepção de analistas é que Powell não se mostrou preocupado com possíveis riscos inflacionários na atual conjuntura e que optou por não passar por uma mensagem de maior cautela, por exemplo, evitando alertar para possíveis dificuldades no trecho final de desinflação.
Nesse sentido, a divulgação do Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de novembro, indicador preferido pelo Fed para acompanhar preços ao consumidor, deve reforçar a visão de que há espaço para uma flexibilização monetária pelo Fed. O PC deve manter a tendência de moderação gradual e se elevar em 0,1% no índice cheio e 0,2% em seu núcleo, que exclui os voláteis componentes de alimentação e energia. Tais resultados devem diminuir o acumulado em 12 meses de cada métrica em 0,1 p.p., de 3,0% para 2,9% no índice cheio e de 3,5% para 3,4% no núcleo.
Entretanto, dada a amplitude e a força com que os investidores reagiram à decisão do FOMC, é provável que autoridades do Federal Reserve busquem “corrigir a rota” e frear as expectativas dos agentes a fim de não promover um afrouxamento excessivo das condições financeiras. ´Na última sexta-feira, o presidente do Federal Reserve de New York, John Williams, afirmou que “nós [do Fed] não estamos realmente conversando sobre cortes de juros”, e que pensar em cortes para o mês de março, neste momento, é “prematuro”.
Impacto esperado no USDBRL: altista
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) ficou em segundo plano em um dia em que o Federal Reserve dominou as atenções dos mercados financeiros globais. Ainda assim, há a impressão de que o documento não estava ajustado para inesperada mudança de posicionamento do banco central americano, que se prepara para um alívio monetário. Da mesma forma, alguns analistas acreditam que o Banco Central do Brasil (BC) terá maior espaço para reduzir a taxa básica de juros (Selic) neste novo contexto. Assim, o BC poderá fazer ajustes em seu posicionamento na ata da decisão, publicada na terça-feira (19), documento que permite explorar com maior detalhamento a conjuntura e as discussões realizadas pelo Copom. Contudo, reduções de juros pelo Brasil diminuem o diferencial de juros oferecido pelo país, o que pode reduzir o fluxo de investimentos financeiros e enfraquecer o real.
Vale destacar, ainda, a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, na quinta-feira (21), relatório extremamente aprofundado que traz as análises de conjuntura econômica interna e externa, acompanhadas pelas projeções econômicas do Banco Central para as principais variáveis macroeconômicas e seguida de entrevista coletiva do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e de seu diretor de política econômica, Diogo Guillen.
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Depois de muita negociação e impasse, um acordo entre o Palácio do Planalto e os líderes do Congresso terminou com permitiu que os parlamentares concordassem em aprovar praticamente o restante da pauta econômica do governo, em troca da derrubada de alguns vetos presidenciais. Dentre os 13 vetos derrubados integralmente ou parcialmente, estão a medida que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia até dezembro de 2027, a um custo anual estimado de R$ 18,4 bilhões, e o tópico do arcabouço fiscal que limitava o pagamento das emendas orçamentárias de comissão. Assim, na última sexta (15), a Câmara dos Deputados havia aprovado a Medida Provisória 1185/23, que altera a tributação federal sobre subvenções de ICMS e restringe o pagamento de Juros sobre Capital Próprio a acionistas, enquanto ainda estava em pauta a votação da Proposta de Emenda à Constituição da reforma tributária (PEC 45/2019). Para a próxima semana, ficou prometido as apreciações em Plenário da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) na terça-feira (19) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) na quinta-feira (21).
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