- Dados aquecidos para inflação e vendas do varejo nos EUA devem reforçar a percepção de um comportamento cauteloso do Federal Reserve em 2024, diminuindo apostas para cortes de juros no mês de junho e fortalecendo o dólar.
- Elevação dos temores fiscais após declarações de Lula pode aumentar expectativas inflacionárias e a exigência do prêmio de risco por parte dos investidores, diminuindo a entrada de capital externo e enfraquecendo o real.
- Inflação mais elevada no Brasil em fevereiro pode aumentar as esperanças de uma desaceleração no ritmo de cortes para a taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, o que melhoraria o diferencial de juros brasileiro com o exterior e contribuiria para maior entrada de capital externo, fortalecendo o real.
- Dados para a economia chinesa podem mostrar uma recuperação do país e elevar o apetite de investidores por ativos arriscados, como commodities e moedas de países emergentes, fortalecendo o real.
Resumo da semana passada
A semana foi marcada pela divulgação de dados mistos para a economia americana, bem como por depoimentos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, para o Congresso do país. Enquanto Powell reassegurou os parlamentares de que a inflação nos EUA deve moderar e cortes de juros nos EUA ocorrerão em breve, dados para o mercado de trabalho americano se mostraram inconclusivos, tanto com números mais aquecidos que o estimado como com números abaixo.
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a semana em alta, encerrando a sessão desta sexta-feira (08) cotado a R$ 4,982, ganho semanal de 0,5%, mensal de 0,2% e anual de 2,7%. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 102,7 pontos, variação de -1,1% na semana, -1,3% no mês e +1,7% no ano.
O MAIS IMPORTANTE: dados para a economia americana
Impacto esperado no USDBRL: altista
A mediana das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) aponta para uma nova leitura elevada no mês de fevereiro. Espera-se que o indicador cheio passe de 0,3% em janeiro para 0,4% em fevereiro, ao passo que o núcleo do indicador (que exclui as voláteis categorias de alimentação e energia) deve passar de 0,4% para 0,3% no período. Apesar do dado de janeiro ter sido atribuído largamente a fatores sazonais, algumas categorias devem permanecer em elevação, como custos de moradia, serviços pessoais e combustíveis (combustíveis não afeta a leitura do núcleo). Por outro lado, o preço de bens industriais deve permanecer moderado, com projeção de queda nos preços de carros usados.
Na semana passada, os investidores no mercado futuro de juros elevaram as apostas de que o Federal Reserve começará seu ciclo de cortes de juros em junho após dados mistos para a economia americana e falas do presidente do Fed, Jerome Powell. Powell afirmou a parlamentares que acredita que “não está muito longe” o momento em que os dirigentes da autarquia teriam uma confiança mais elevada no processo de desinflação do país, pré-requisito para um primeiro corte, ao mesmo tempo em que o Índice Gerente de Compras (PMI) de serviços se expandiu mais lentamente e os dados de emprego foram inconclusivos em fevereiro, quando houve um saldo de empregos acima das estimativas, com criação de 275 mil postos de trabalho em fevereiro, mas revisou-se significativamente para baixo as leituras de dezembro (-43 mil) e janeiro (-124 mil). Entretanto, se as estimativas para o CPI se confirmarem, a leitura de inflação deve reacender preocupações de que a economia americana está demasiadamente aquecida e que o Federal Reserve deve precisar manter os juros em níveis restritivos por mais tempo, possivelmente adiando para julho o começo da flexibilização monetária.
Da mesma forma, a divulgação das vendas do varejo deve reforçar as preocupações com a moderação inflacionária nos EUA. O dado sofreu contração significativa no mês de janeiro, resultado atribuído a uma forte onda de frio e neve no período. Em fevereiro, as despesas em combustíveis e em compras de automóveis devem reacelerar o indicador de -0,8% para +0,7% no período. Contudo, observando-se um período mais longo, as despesas pessoais dos americanos parecem estar em uma tendência de moderação.
IPCA de fevereiro
Impacto esperado no USDBRL: baixista
No Brasil, após uma alta considerável do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), o IPCA deve se acelerar de 0,42% em janeiro para cerca de 0,7% em fevereiro, impulsionado tanto por itens de alimentação como de serviços. Ainda assim, o acumulado em 12 meses deve cair de 4,51% em janeiro para cerca de 4,3% em fevereiro, visto que a alta em fevereiro de 2023 foi de 0,84%. Apesar de reconhecer a resiliência da inflação de serviços como “um ponto de atenção”, as autoridades integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) mostram-se confortáveis com a evolução dos preços ao consumidor e otimistas de que o Banco Central conseguirá reduzir a inflação para próximo do centro da meta da instituição, de 3% anuais, de forma que parece pouco provável a possibilidade de mudança na estratégia de cortes de 0,50 p.p. à taxa básica de juros (Selic).
Receios fiscais no Brasil
Impacto esperado no USDBRL: altista
Após quase três meses de relativa estabilidade nas previsões para o equilíbrio das contas públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a gerar receios quanto à possibilidade de uma mudança nas metas orçamentárias para 2024. Comemorando dados melhores que o previsto para a arrecadação de janeiro, Lula declarou a jornalistas na última quinta-feira (07) que “Lógico que nós temos um limite de gastos, que quando a gente tiver mais dinheiro a gente vai ter que discutir com a Câmara e o Senado esse limite de gastos e vamos ver como é que a gente pode utilizar mais dinheiro para fazer mais benefício para o povo”. A declaração preocupou analistas, visto que, de acordo com a mediana informada pelo Boletim Focus, a previsão para as contas públicas na semana passada era de um déficit primário de -0,78% do PIB – além do 0,5 p.p. de margem de tolerância sobre a meta estabelecida, de resultado primário de 0%. Uma alteração nas metas orçamentárias pioraria as previsões de despesas públicas feitas pelos agentes de mercado, o que poderia resultar em expectativas inflacionárias mais elevadas e, possivelmente, em uma necessidade de atuação mais contracionista por parte do Banco Central.
Dados para a economia chinesa
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Após meses de leituras fracas, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) da China para fevereiro deve retornar para o território positivo, com uma alta mensal estimada em 0,7% e que resultaria em um aumento acumulado em 12 meses de 0,3%, contra -0,8% em janeiro. O dado deve ser impulsionado por preços de alimentos mais elevados, e pode elevar as esperanças de que a demanda interna chinesa vá aumentar seu ritmo de crescimento depois de leituras recentes desanimadoras.
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