Copom mais firme, imprevisibilidade aumenta O dólar negociado no mercado interbancário operava em alta na manhã desta quinta-feira, quando era cotado ao redor de R$ 5,17 (10h50min), repercutindo a decisão do Copom anunciada após o término do pregão de ontem. Pela primeira vez desde agosto do ano passado, não houve consenso entre os participantes, com cinco votos pela redução da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 p.p. (diretores indicados pelo presidente Bolsonaro) contra quatro votos pela redução em 0,50 p.p. (diretores indicados pelo presidente Lula). O tom do comunicado foi marcadamente mais firme, com o Comitê informando que, unanimemente, “avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela [na condução da política monetária]”. Além disso, a sinalização futura (“foward guidance”) foi retirada do documento, citando o grau de incerteza conjuntural mais elevada. Embora a redução do ritmo de cortes, de 0,50 p.p. para 0,25 p.p., melhore as perspectivas para o diferencial de juros e deva contribuir para a atração de investimentos externos, o que atua para fortalecer o real e diminuir a taxa de câmbio real/dólar, o que se destacou na decisão para os investidores foi a elevação da incerteza para a condução da política monetária, que resulta em cautela mais elevada e a pressão altista para a taxa de câmbio. A diminuição da previsibilidade da política monetária é consequência da remoção da sinalização futura do Comitê, que se mantém flexível para ajustar a taxa Selic conforme o cenário econômico se alterar, da piora das estimativas para as variáveis macroeconômicas feitas pelo Comitê, dos próprios alertas do Copom para a “incerteza muito grande” do quadro atual, como, principalmente, pela divergência dos votos entre os participantes. Como a divisão foi bastante clara, com membros indicados pela gestão do Executivo passada adotando uma postura mais rígida e membros indicados pela atual gestão defendendo uma conduta mais frouxa, e gera receios para os operadores do mercado financeiro sobre uma possível mudança de postura e conduta no Copom após os próximos dois diretores indicados pelo atual governo assumirem suas posições, em 2026
Cenário externo favorável a ativos arriscados Por outro lado, o cenário externo contribui para limitar o enfraquecimento do real. Primeiramente, o aumento inesperado nos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA, que pode sinalizar um enfraquecimento do mercado de trabalho americano e eleva as probabilidades de cortes de juros pelo Federal Reserve. Contribui, também, os dados da balança comercial chinesa de abril, divulgados nesta manhã, que voltaram a crescer após contração no mês anterior. No lado das importações, o crescimento anual de 8,4% superou a previsão de 4,8% e reverteu a queda de 1,9% de março ante o mesmo período do ano passado. Para as exportações, abril também foi marcado por um crescimento de 1,5% em relação ao comparativo anual. Os dados melhores que o esperado podem sinalizar uma recuperação da atividade econômica do país, o que contribui para o desempenho de ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países exportadores de produtos primários, embora indicadores econômicos recentes sugiram cautela em relação ao ritmo de expansão chines este ano.