Panorama de câmbio: principais eventos da semana
- Fatores baixistas
- Ata da decisão do Copom pode esclarecer a avaliação do Comitê para o balanço de riscos atual e possíveis trajetórias para a taxa básica de juros (Selic), contribuindo para amenizar a frustração com o comunicado da semana passada e, também, para um fortalecimento do real.
- Leitura mais aquecida para o IPCA pode agravar as expectativas inflacionárias de investidores e aumentar as apostas para os juros brasileiros, o que, por sua vez, contribui para um fortalecimento do real.
- Fatores altistas
- Ambiente de aversão global a riscos e preocupação com a economia americana favorece o desempenho de ativos considerados “portos-seguros” e prejudica o de ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países emergentes.
Resumo da semana passada
A semana foi novamente marcada por um ambiente internacional de pessimismo e aversão a ativos arriscados, em função de dados econômicos mais fracos para os EUA e de uma temporada frustrante de resultados trimestrais divulgados por empresas de capital aberto no país.
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a semana em alta, encerrando a sessão desta sexta-feira (02) cotado a R$ 5,711, ganho semanal de 0,9%, mensal de 1,0%, e anual de 17,7%. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 103,2 pontos, variação de -1,1% na semana, -0,9% no mês e de +1,2% no ano.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX.
O MAIS IMPORTANTE: Aversão global a riscos
Impacto esperado no USDBRL: altista
O ambiente global de negócios da semana passada foi marcado por forte volatilidade e por uma intensa aversão a riscos, com busca de ativos de segurança como uma estratégia defensiva de proteção dos investimentos. O principal impulsionador da redução do apetite por risco foram os números mais fracos que o antecipado para os indicadores da economia americana, resultando em um ressurgimento de temores de uma desaceleração abrupta da atividade no país ou mesmo de uma recessão – o chamado “growth scare”. Os pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram acima da mediana das estimativas e atingiram o maior valor desde agosto do ano passado, enquanto o Índice Gerente de Compras (PMI) industrial de julho recuou além do esperado, com seu subcomponente de emprego apresentando a menor leitura desde julho de 2020, ao passo que o saldo para novos empregos no país em julho registrou 114 mil novos postos de trabalho, abaixo da projeção mediana, e a taxa de desemprego subiu inesperadamente para 4,3%, acumulando um aumento de 0,6 p.p. desde janeiro. Estes receios de uma desaceleração abrupta foram reforçados, também, pela divulgação de resultados trimestrais abaixo do esperado para diversas companhias de capital aberto nos EUA, sugerindo que o cenário econômico no país estaria pior do que o se percebe nos indicadores oficiais e que isto estaria prejudicando o desempenho dessas empresas.
Variação no total de empregos urbanos (em mil pessoas) e da taxa de desemprego (%) nos Estados Unidos
Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis. Elaboração: StoneX.
EUA: Histórico e expectativa para a taxa de juros – 02 de agosto de 2024
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Refere-se à aposta com maior probabilidade no mercado futuro de juros na data indicada.
Subjacente a estes receios de enfraquecimento da economia americana está a percepção de que o Federal Reserve deveria ter realizado um corte de juros na decisão da última quarta-feira (31) e ao optar por não o fazer, como consequência, estaria mantendo um nível excessivo de aperto monetário sobre a atividade do país. Por outro lado, tais temores podem ser amenizados, ao menos temporariamente, com a divulgação do Índice Gerente de Compras (PMI) de serviços americano na segunda-feira (05). Após o indicador surpreender em junho ao registrar 48,8 pontos, o menor valor desde junho de 2020, a mediana das expectativas para o mês de julho é de um retorno à expansão com 51,0 pontos.
O quadro de aversão global a riscos foi reforçado, também, pela percepção de piora nas tensões geopolíticas, impulsionadas, por sua vez, pelos assassinatos israelenses do líder militar do Hezbollah em Beirute, capital do Líbano, e do líder político do Hamas em Teerã, capital do Irã. Estes ataques contra os líderes de grupos adversários em territórios estrangeiros elevou os receios entre investidores sobre uma escalada do conflito na região, como a possibilidade de confrontos entre guerra entre Israel e Irã.
Por fim, vale ressaltar a assincronia e divergência dos cenários enfrentados por Bancos Centrais importantes, o que resulta em diferenças nos ciclos de política monetária entre os países. De um lado, o Banco Central do Japão, que enfrenta um desafio de inflação muito baixa (ou negativa) há décadas, optou por um segundo aumento da taxa básica de juros, o qual não era um consenso entre analistas, além de um plano de longo prazo para reduzir as compras de títulos de dívida pública japonesa. No Brasil, o Comitê de Política Monetária manteve estável a taxa básica de juros (Selic), porém adotou um tom mais firme contra os riscos de desancoragem das expectativas inflacionárias. Ainda que não tenha mencionado a possibilidade de uma alta na taxa de juros, o Comitê pareceu mais próximo de uma elevação que de uma redução na Selic. Nos EUA, o Federal Reserve sinalizou a possibilidade de um primeiro corte de juros na decisão de setembro, porém também preferiu se manter em compasso de espera por mais informações sobre a estabilização de preços no país. Já na Inglaterra, observou-se o primeiro corte de juros do Banco Central da Inglaterra, em uma decisão dividida entre 5 votos a 4.
Ata do Copom
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Em meio a um cenário externo desfavorável para moedas de países emergentes, uma frustração de investidores com o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou o desempenho negativo do real na semana passada. Embora o documento tenha adotado um tom mais firme ao tornar o balanço de riscos assimétrico e com viés de alta e ao alertar explicitamente para os riscos de uma desancoragem das expectativas mais prolongada e dos efeitos do câmbio desvalorizado sobre as variáveis macroeconômicas, alguns analistas apontaram uma decepção com a ausência de uma sinalização clara sobre uma possível alta para taxa básica de juros (Selic) no futuro em função desse contexto. Nesse sentido, a ata da decisão do Comitê, que será divulgada nesta terça-feira (06), pode ajudar a amenizar esta frustração ao esclarecer a avaliação da conjuntura e do balanço de riscos pelos seus integrantes, sinalizar de forma mais evidente possíveis trajetórias para os juros do país e descrever critérios que podem resultar em uma nova alta.
IPCA de julho
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Após a alta maior que o esperado para o IPCA-15 de julho e de suas medidas subjacentes, como os preços de serviços e o núcleo do indicador, que exclui os voláteis componentes de alimentação e energia, a mediana das expectativas para o IPCA aponta para uma aceleração de 0,23% em junho para 0,35% em julho, leitura que deve ser impulsionada por reajustes de combustíveis e suavizada por uma queda dos preços de alimentos. A leitura pode afetar as expectativas inflacionárias de investidores, que se elevaram continuamente nos últimos meses em meio a um ambiente de ceticismo e pessimismo sobre a condução das políticas econômicas no país e um desempenho mais aquecido do mercado de trabalho brasileiro.
TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
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